terça-feira, 11 de julho de 2017

As pobres riquezas

“Não te fatigues para enriqueceres; não apliques nisso tua sabedoria. Porventura fixarás os olhos naquilo que não é nada?...” Prov 23;4 e 5

É comum ouvirmos o “desprezo” à matéria em frases tipo: “Dinheiro não traz felicidade;” “Da vida nada se leva”; “Vão-se os anéis, ficam os dedos”; etc. De modo que parece que a humanidade sabe reconhecer os verdadeiros valores. Contudo, na prática a teoria é outra, com diria Joelmir Beting.

Certa ambição é sadia; a que nos instiga ao trabalho, empreendedorismo, visando melhorarmos nossas condições de vida. O texto bíblico diz: “Não te fatigues para enriqueceres...” Adiante avalia: “... fixarás teus olhos naquilo que não é nada”. Lógico que temos diante de nós um conflito de valores. Aquilo que, para uns parece riqueza, para outro, foi aquilatado como nada. Temos uma hipérbole, um exagero de linguagem cujo fito é enfatizar algo, não, ser entendida ao pé da letra.

Óbvio que bens materiais têm seu valor! Compram o pão, vestes, habitação; toda sorte de conforto que a boa vida demanda. Entretanto, ao escopo de uma avaliação espiritual, essas coisas não são fins, antes, meios de viver; não, as verdadeiras riquezas; aquelas que têm durabilidade após a peregrinação terrena. “Não ajunteis tesouros na terra, onde traça e ferrugem tudo consomem, onde ladrões minam e roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem consomem; onde ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver vosso tesouro aí estará também vosso coração.” Mat 6;19 a 21

Salomão que escreveu a sentença primeira foi extremamente rico, falou do que conheceu; e, sua avaliação do que ficaria após sua morte foi ácida: “Vaidade de vaidades; tudo é vaidade.” Disse. Antes, avaliara a vastidão da cobiça; “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; quem amar abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.” Ecl 5;10

Depois cotejara o dinheiro com a sabedoria: “Tão boa é a sabedoria como a herança, dela tiram proveito os que vêem o sol. Porque serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas, a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;11 e 12

De passagem contou a história de um pobre rico: “Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; veio contra ela um grande rei, a cercou, levantou contra ela grandes baluartes; encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria; ninguém se lembrava daquele pobre homem. Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre foi desprezada, e suas palavras não foram ouvidas.” Cap 9;14 a 16 Isso combina com o feito posterior do profeta Eliseu que livrou a cidade de Dotã cegando seus algozes pelo Poder de Deus e os levando presos a Samaria.

Estranha doença essa nossa de conhecermos em teoria os excelsos valores, e nos empenharmos, na prática, apenas pelos efêmeros, circunstanciais, menores. Aceitação humana, mais que, Divina, instiga insensatos a parecer o que não são; enquanto, seus passos apressados labutam na maratona do ter.

Paulo foi categórico, deixou por terra a “Teologia da Prosperidade: “...homens corruptos de entendimento, privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas, é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e, nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso, contentes. Mas, os que querem ser ricos caem em tentação, em laço, muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é raiz de toda a espécie de males; nessa cobiça alguns se desviaram da fé; traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas, tu ó homem de Deus foge destas coisas...” I Tim 6;5 a 11

Aí alguém me pergunta: Pode um cristão jogar loterias? É pecado? Não diria que é pecado, antes, que é doença, cegueira, amor deslocado dos alvos sadios, voltado para o dinheiro. E pensar que multidões freqüentam “igrejas” porque os pilantras que lá ministram lhes acenam com riquezas terrenas...

Não é errado desejar riquezas, pois; é estúpido confundir bijuterias com jóias preciosas. Ouçamos o discurso da Sabedoria: “Aceitai a minha correção, não a prata; o conhecimento, mais do que o ouro fino escolhido... Riqueza e honra estão comigo; assim como bens duráveis e justiça. Melhor é meu fruto do que o ouro, do que o ouro refinado, e meus ganhos mais do que a prata escolhida. Faço andar pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo. Para que faça herdar bens permanentes aos que me amam, e eu encha os seus tesouros.” Prov 8;10, e 18 a 21

domingo, 9 de julho de 2017

A Loucura de Deus

“...tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur; da tribo de Judá; enchi do Espírito de Deus, sabedoria, entendimento, ciência, em todo lavor, para elaborar projetos, trabalhar em ouro, prata, cobre, lapidar pedras para engastar, entalhes de madeira, e, para trabalhar em todo lavor. E tenho posto com ele a Aoliabe...” Ex 31;2 a 6

O contexto era a construção do Tabernáculo. Dentre as várias instruções a Moisés, a escolha de dois artesãos capacitados pelo Espírito Santo para fazer o que O Eterno tencionava; Bezalel e Aoliabe. Comumente olhamos os dons espirituais por outro vetor. Pensamos em Palavra, profecia, milagres, línguas, interpretações; não, algo de viés artesanal.

Nunca dizemos isso, porém, agimos como se, nas coisas materiais o domínio fosse nosso, e “déssemos” a administração das espirituais Ao Criador. Quando se diz: “tirai a pedra” é obra humana; “Lázaro saia para fora!” Divina; isso significa duas coisas: Uma: Milagre é obra espiritual, sobrenatural; outra:um convite à diligência de nossa parte; demonstração de que devemos fazer o que é possível, invés de esperar que Deus o faça por nós. Todavia, não significa que Deus não possa fazer a pedra voar, caso queira. Não carece nossa ajuda; deseja nosso aprendizado.

Todas as belezas contidas na criação, (e são inefáveis) são Obras de Deus; Ele não é tão “Espírito” assim que não possa moldar à matéria como Lhe aprouver. Quando a Bíblia diz que, após a queda restou-nos a Árvore da Ciência e, conhecimento do bem e do mal, alguns desavisados interpretam como um favor do diabo, uma conquista, dadas as grandes possibilidades da ciência. O “fogo” que Prometeu roubou aos deuses e legou aos humanos; uma ova!

A comunhão com Deus antes da queda significava, entre outras coisas, acesso a sabedoria, conhecimento imediato sem carecer aprendizado. Tanto que, Adão deu nomes a todos os seres vivos, sem carecer um sistema, catálogo, ou algo assim, para evitar omissões, ou repetições; era um gigante intelectual.

Nas coisas intelectuais a queda lançou a humanidade da Torre à masmorra. O que era indolor, franco, imediato, passou a ser penoso, obscuro, intangível, impossível para muitos. O feitor desse “upgrade” até hoje segue aprisionando aos que pode, de modo que fiquem alienados da Sabedoria, amor, e Misericórdia do Criador. “...o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II Cor 4;4

Reduzindo-nos, pois, à sombra da Árvore da Ciência não nos fez nenhum favor, antes, roubou nossa luz forçou-nos a aprender o Braille. Paulo ensinou que a humanidade ganhou certo tempo e espaço, “Para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17;27
Poder ler sem ver nos domínios espirituais é dádiva Divina; não devemos por isso ser gratos, a quem nos cegou. Esse foi o “favor” do inimigo.

O problema que a longa prisão no escuro nos deixou sem jeito com a luz, como os prisioneiros da Caverna de Platão. Jesus soou como ameaça, invés de Quem Era; O Salvador. “A luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

Afinal, embora se imagine que o progresso do saber seja estritamente intelectual, tem conteúdo espiritual, como ensinou o mais sábio dos humanos, Salomão: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria, a instrução.” Prov 1;7 “Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade;” Cap 2;6 e 7

Se, nos dias de Moisés dons espirituais foram para modelar pedras, ouro, madeira, agora são para regeneração de vidas, edificação, exercício ministerial proveitoso para Glória de Deus.

Pedro aludiu ao novo “artesanato”: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual, sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.” I Ped 2;5

Os que são moldados saem dos domínios da “ciência” para a sabedoria, os demais, seguem no escuro. “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela sua sabedoria, aprouve a Ele salvar crentes pela loucura da pregação... Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens...” I Cor 1;21 25

sábado, 8 de julho de 2017

Os fugitivos

“O Senhor disse a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei. Te farei uma grande nação, abençoarei, engrandecerei teu nome; tu serás uma bênção.” Gên 12;1 e 2

Muito se pode aprender sobre a chamada de Abrão por parte do Senhor. Os projetos Divinos expostos estavam todos mercê da resposta positiva, pois, a primeira palavra dita demandava uma ação do patriarca; “sai”.

A presciência do Eterno antevê as respostas de cada um; jamais erra quando escolhe; seja, Abrão para formar uma grande nação; ou, quando apostou Suas fichas no caráter de Jó; ainda, quando chamou Maria para Seu propósito excelso, etc.

Quando a resposta será negativa, também o sabe, pois, ao comissionar Ezequiel como pregoeiro de Sua Vontade advertiu da falta de frutos, ao próprio profeta; disse: “Mas, a casa de Israel não te quererá dar ouvidos, porque não querem dar ouvidos a mim; pois, toda a casa de Israel é de fronte obstinada, dura de coração.” Cap 3;7

Qual o propósito de enviar o mensageiro então, se, os juízos anunciados seriam inevitáveis dada a obstinação dos ouvintes? Restariam remanescentes após o juízo, além disso, o ensino atingiria gerações futuras, como nós, que podemos aprender prudência observando a imprudência deles.

Não que o profeta fosse rejeitado estritamente; antes, era “desejado” como um artista; somente a mensagem era hipocritamente ignorada; o que faria o juízo porvir, inevitável. “Tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave que bem tange; porque ouvem tuas palavras, mas, não as põem por obra. Mas, quando vier isto, então, saberão que houve no meio deles um profeta.” Cap 33;32 e 33

Embora a Obra de Deus em si, nada dependa de nós, Ele se arranja sem nossa ajuda; a mesma, em nós, depende inteiramente da resposta que dermos À Sua Palavra.

Até quando alguém faz “a coisa certa” pelo motivo errado, usa A Palavra como esconderijo, ou, dela lança mão para motivos espúrios, a mesma Palavra, mais dia menos dia, desnuda-o. Nosso olhar vê os fenômenos, O Divino, intenções, pensamentos. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que espada alguma de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do espírito, juntas e medulas; é apta para discernir pensamentos e intenções do coração. Não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” Heb 4;12 e 13

O Todo Poderoso antevê respostas positivas, negativas, e, hipócritas que se misturam ao rebanho. Alguém disse, “se o malandro soubesse das vantagens de ser honesto, o seria, só por malandragem”; Pois, nas coisas Divinas, as bênçãos reais só derramam-se sobre os honestos, até quando devem assumir eventuais, desonestidades.

Infelizmente, a maioria trata A Palavra da Vida como batata quente, apressa-se a passar adiante, pois, traz desconforto para si. Nas redes sociais, quanta “Fé” quantas mensagens bonitas de uma geração que vive mui abaixo da média do aceitável, no prisma da decência, honestidade, altruísmo, amor, etc.

Têm prazer de se fazer inquilinas da sabedoria para parecer que “moram bem”, quando, em postagens subsequentes expões as reais palafitas onde vivem. A Poderosa Palavra de Deus obra no vácuo em suas vidas, pois, se recusam à correspondência, que como no caso de Abrão, começa com um “Sai” dessa; recusam sair.

Como crianças ingênuas fogem da injeção, almas imprudentes também, conhecendo a receita que cura prescrevem pra outros o remédio que recusam a inocular em si. O Salvador atrelou a bênção de saber, ao praticar; “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” Jo 13;17

Como O Espírito Santo Obra para convencer, não, impor Sua Vontade pode ser resistido, entristecido. Imaginemos no trânsito um guarda que apite e dê sinal para que paremos; num segundo momento requer habilitação, documentos do veículo; ora, a segunda demanda só foi possível porque obedecemos à primeira, senão, seríamos fugitivos.

Assim as coisas de Deus: “Vinde a mim todos...” Os que vão recebem novas instruções, além do perdão que reconcilia; os demais, são apenas fugitivos, malgrado fujam em veículos adornados com versos bíblicos. O saber que não molda o agir é o clássico diamante na funda; a preciosidade que nivelamos às pedras. A Palavra fala ainda de jóias valiosas em focinho de porca, ou, desencoraja as pérolas lançadas ao mesmos bichos...

Claro que todos podem compartilhar, ensinar; mas, a bênção reside em quem, como Esdras, aprende e pratica primeiro. “Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do Senhor, para cumpri-la e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos.” Ed 7;10

quinta-feira, 6 de julho de 2017

O difícil amor ao próximo

“Também vi que todo o trabalho, toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e aflição de espírito.” Ecl 4;4

Quando certo escriba perguntou ao Senhor: “Quem é o meu próximo?” O Salvador contou a parábola do Bom Samaritano; irônico que aquele benfeitor fosse oriundo de um povo com o qual os judeus tinham inimizade. Mostrou com isso que, nosso próximo nem sempre conta com nossa afeição, natural. É preciso irmos além dela e fazermos o que agrada a Deus, malgrado, o necessitado esteja distante de nós pelos sentimentos.

O texto do Eclesiastes coloca-o como alguém que sofre com nossas conquistas, inveja-nos. Assim, o mandado: “Ama a teu próximo como a ti mesmo” requer de nós que sejamos bons para com pessoas que são más para conosco.

Isso de “só vou gostar de quem gosta de mim” como diz uma canção do Roberto Carlos, não é o modo correto de agirmos se, pretendemos agradar a Deus. “Bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos perseguem” diz o preceito.

A “aflição de espírito” dada como causadora da inveja e demais vaidades, tem causa espúria; não procede de Deus. “Porque do pó não procede a aflição, nem da terra brota o trabalho. Mas, o homem nasce para tribulação, como as faíscas se levantam para voar.” Jó 5;6 e 7

Aflições, tribulações são coisas “normais” depois da queda, onde, o ser humano deixou a comunhão com O Criador e se fez servo do pai da mentira. Da inveja também possui paternidade, pois, foi sua obsessão por ser igual a Deus que o colocou subjugado por Terra. “Já foi derrubada na sepultura tua soberba com o som das tuas violas; os vermes debaixo de ti se estenderão, os bichos te cobrirão. Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! Dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens; serei semelhante ao Altíssimo.” Is 14;11 a 14

Assim, a inveja humana, fruto de “aflição de espírito” facilmente identificamos qual espírito fomenta aos invejosos para que sofram com nossas conquistas invés de partilharem de nossas alegrias.

Não que sejam meros joguetes do inimigo; antes, arbitrários fazem suas escolhas; mas, como o vício é imensamente mais fácil que a virtude, optam por aquele invés dessa. 

Nossa parte, dos convertidos é mostrarmos uma influência espiritual superior, Divina, para sermos luz ante os que ainda padecem nas trevas. Por isso Paulo aconselha que nosso agir seja “ilógico” sobrenatural; depois de aconselhar o culto racional deu uma amostra do que deve permear as razões espirituais; uma mentalidade diferente da vigente no mundo. “Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;2

Adiante ampliou: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram; sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas, acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos; a ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis, amados, mas, dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas, vence o mal com o bem.” VS 14 a 21

Agindo assim demonstraremos de modo prático nossa relação com Deus; Se, por um lado aqueles que se distanciam sofrem aflições de outro espírito, cabe-nos um modo de vida pautado em valores “de cima”; nosso “Tesouro no Céu” que também servirá com luz a eventuais candidatos à salvação. “Não se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;15 e 16

Enfim, se nosso próximo decide de certo modo se manter distante sigamos atuando como quem está próximo de Deus, até que, mesmo por emulação desejem estar em nosso lugar.

Quando nosso próximo “caído” traz feridas na alma, não no corpo, nosso exemplo se faz o melhor azeite e vinho a ser aplicado sobre as feridas.

sábado, 1 de julho de 2017

Maravilhosa Graça

“... no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria; a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.” II Cor 8;1 e 2

Se, há algo que a Graça Divina opera como só ela é a reversão das expectativas. Tira vitória da morte, força da fraqueza, capacitação, da inépcia; e, como vimos acima, alegria dentre provas, tribulações, generosidade da pobreza.

Quando Paulo desejou a remoção de certo incômodo que denominou: “Mensageiro de Satanás”, ouviu:”...minha graça te basta, porque meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...” II Cor 12;9

Davi dissera: “Porque tua graça é melhor que a vida, os meus lábios te louvarão.” Sal 63;3

Muitos tropeçam por inverterem Moisés e Jesus; digo; Lei e Graça. “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e verdade vieram por Jesus Cristo.” Jo 1;17

Erram os que se supõem tão “agraciados” que não precisem ser santos, e, os que por demasiado legalistas acabam caindo da Graça esperando obter justificação mediante preceitos da Lei, cujo fim, era manifestar pecados, não, redimir.

“... o homem não é justificado pelas obras da lei, mas, pela fé em Jesus Cristo... porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” Gál 2;16 disse mais: “Se torno a edificar aquilo que destruí, constituo a mim mesmo transgressor. Porque pela lei estou morto para a lei, para viver para Deus.” Vs 18 e 19

Noutra parte, escrevendo aos romanos comparou a adultério espiritual, pertencer à Lei e graça ao mesmo tempo. “vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro; mas, morto o marido, livre está da lei; não será adúltera, se for de outro. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos frutos para Deus.” Rom 7;3 e 4

Se, a Graça Divina opera uma série de reversões, a mais notável de todas as “invertidas” é que, os espiritualmente mortos renascem por ela; “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem vida eterna; não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida.” Jo 5;24

Contudo, fato de ser graça elimina apenas nossos méritos, não, nossa participação como creem alguns. Criaram a teologia da “graça irresistível” para pontuar que Deus salva quem escolhe, antes que, pecadores escolham aceitar Sua Graça, ou não. Contudo, Aquele que salva condicionou a uma resposta humana, supostamente, livre: “...quem ouve minha palavra e crê...”

O “mérito” de quem abraça a Graça salvadora é apenas amor pela vida, desejo de não perecer; contraponto à queda, onde a ameaça de morte não bastou como força persuasória à obediência. Agora, desejo de vida, pra alguns tem bastado.

Quando Paulo exclui obras como meios de salvação, exclui a Lei, orgulho dos judeus. Contudo, a fé no Salvador, é equacionada por Ele mesmo, como “Obra” que Deus espera dos Seus filhos; “...A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;29 Depois dessa, no singular, as obras boas, não para salvação, mas, para sermos testemunhas vivas da transformação que a Graça operou em nós. “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Se, a fé vem pelo ouvir; a Luz apela aos olhos; ao recebermos essa somos feitos luzes também. Nosso resgate ilumina; “...muitos verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;3 Nossa atuação, idem; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;16

O traço mais marcante de um agraciado é humildade; sabedor que foi guindado por amor a um lugar que não merece como o Pródigo no retorno, aceita o que tiver, mesmo, a condição de servo, malgrado, seja filho.

Quando vejo ou ouço, alguém, “determinando” isso ou aquilo, exigindo seus “direitos” constato que a “cirurgia” da graça que transplanta um coração espiritual em lugar do pétreo egoísta, ainda não foi feita. A pior desgraça não é estar por aí existindo simplesmente, sem vida espiritual alienado; antes, é ser esse deserto todo travestido de oásis, estar morto dentro da igreja; um cadáver flutuando nos remansos da Graça que recusa aceitar.

Nesses casos, será a Lei que obrará reversão de expectativas. Estar entre filhos não faz da família; a graça não vem sozinha, antes acompanhada de outra preciosa, a Verdade. Em Cristo, “Misericórdia e verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram.” Sal 85;10

Enfim, agraciados não são foras da Lei; submetem-se a Cristo. Legalistas e hipócritas encenam alienados da Graça; que desgraça!

terça-feira, 27 de junho de 2017

Razões de amor e ódio

“Por que persegue o meu Senhor tanto o seu servo? Que fiz eu?...” I Sam 26;18

Davi fugitivo diante do ódio de Saul, dando a esse, oportunidade de explicar seus motivos. “Por que me persegues...? Que fiz eu?”

A relação entre causa e efeito é pacífica, todos reconhecem. Entretanto, quando a causa nos escapa, racionais que somos, desejemos conhecê-la. Poderíamos recorrer a simplismos como, vingança, ciúmes, inveja; mas, essas são formas de expressão do ódio, não o próprio.Qual a vertente do ódio?

Averigüemos seu contraponto, o amor; encontrando os motivos deste podemos reverter o espelho para que vejamos os daquele. Quais as razões do amor? Serão as qualidades de quem amamos? Dizemos: “Quem ama não vê defeitos”; aí, a “perfeição” do objeto de nosso amor deriva de certa “cegueira” que o próprio amor opera em nós. Talvez, por anseios do amor próprio queiramos tanto alguém, que, sequer desejamos ver eventuais lapsos, dado o regozijo que o viço enseja... Contudo, nossa lupa busca o amor cristão, não, amor próprio. De onde vem ele?

Se, a causa estiver no objeto, talvez, os desprovidos de talento, beleza, inteligência ou, outros predicados nobres não possam ser amados... Mas, O Senhor nos ordenaria que fizéssemos algo impossível? Quando diz: “Ama teu próximo como a ti mesmo”, o simples não ordenar que eu ame a mim mesmo, antes, que faça disso parâmetro para o amar força-me a concluir que o amor nasce conosco, não carecemos esforço nenhum para senti-lo; é uma necessidade psicológica. Mesmo dependentes de algum vício, que parecem faze mal a si mesmos entraram nessa prisão devaneado que a coisa lhes fariam bem, daria certo prazer, quiçá, aliviaria alguma dor.

Quando O Senhor ensina: “Misericórdia quero, não, sacrifício" toca na ferida. Quando faço sacrifícios para agradar a Deus busco meu próprio interesse, há um quê de egoísmo; quando atuo em misericórdia são os interesses de outrem que me movem. Aí, o motor do sacrifício é o amor próprio; da misericórdia, o próprio amor. Desse modo, eliminamos razões exteriores para amar, uma vez que misericórdia não se expressa sobre as qualidades de outrem, antes, sobre suas carências.

Embora a origem inda nos seja obscura, o modo de expressão do vero amor começa a ser-nos visível. O Salvador disse:”Ninguém tem maior amor que esse; dar a sua vida pelos seus amigos.” Jo 15;13 Notemos que a maior expressão de amor está associada a certo verbo: Dar. Se, a nós, amantes de pequena estatura o padrão proposto foi que amássemos ao próximo como a nós mesmos, o Supra Sumo do Amor, Jesus Cristo, abriu mão de Si mesmo, por amor; deu Sua vida. A diferença abissal é que “Deus É Amor”; de nós espera que imitemos tanto quanto pudermos, Seu Bendito Ser.

Como, por óbvios motivos, ninguém pode dar o que não tem, O Senhor que ordenou amar dotou cada criatura sua com essa capacidade.

A queda se deu quando, por sugestão do inimigo, deixamos a submissão que era uma demonstração de amor a Deus, em troca da autonomia, da auto-afirmação, independência; o Ego.

Assim, esse dom inato que deveria voltar o homem para o semelhante foi redirecionado para si próprio; e, amor próprio desmedido faz de nosso irmão um concorrente, uma ameaça; invés de um alvo para amar. Por amarmos tanto a nós mesmos, precisamos combater esse intruso; aí nos equipamos de armaduras que o capeta oferece; ciúme, inveja, rivalidade, vingança...

É o amor um Dom Divino incutido em cada alma ao nascer, o ódio, filho da perversão do amor; um “dom” do maligno fácil de receber, uma vez que alinha-se aos anseios das almas alienadas de Deus. O Salvador mesmo disse que Sua presença era naturalmente rejeitada pelos maus, pois, era-lhes uma ameaça. “...a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más.” Jo 3;19

Enfim, acho que chegamos aos motivos de Saul para odiar Davi. Invés de ver nele uma bênção, quando Deus o usou para vencer Golias, viu uma ameaça, uma sombra ao Reino; isso seu amor próprio não toleraria. Então, Davi precisava morrer. Jônatas, seu filho, porém, viu de outra forma: “...a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma.” I Sam 18;1

As razões do amor e do ódio, pois, não estavam em seu objeto, Davi; antes, em seus agentes, Jônatas e Saul. O ódio visa “consertar” seus lapsos eliminando quem os revela; o amor independe de méritos, tanto de quem ama, quanto, de quem é amado; é um Dom Divino que enriquece quem recebe sem empobrecer que dá.

“Quanto menor é o coração, mais ódio carrega.” Victor Hugo

domingo, 25 de junho de 2017

Na hora da angústia

“Por que estás ao longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia?” Sal 10;1

Costumamos dizer que certos “amigos” o são apenas nas horas que tudo nos vai bem. Ou como os do Pródigo, quando estamos pagando a festa; porém, se, como aquele, falimos, junto com nosso dinheiro os amigos evaporam. Será que Deus é assim? Um aproveitador que está por perto quando estamos bem, mas, se a angústia chega Ele desaparece?

Na verdade, na Parábola do Semeador, é o crente superficial que se afasta de Deus, temendo a angústia, não, o contrario. “Não tem raiz em si mesmo, antes, é de pouca duração; chegada a angústia, perseguição por causa da palavra, logo, se ofende;” Mat 13;21

Além disso, como seria O Eterno, interesseiro, aproveitador no que tange a nós? O que falta a Ele que possa receber de nossas mãos? “Da tua casa não tirarei bezerro nem bodes dos teus currais. Porque meu é todo animal da selva, o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; minhas são todas as feras do campo. Se eu tivesse fome, não te diria, pois, meu é o mundo e toda sua plenitude.” Sal 50;9 a 12 Na verdade, invés de ausentar-se por ocasião de nossas angústias, chama-nos, para junto de Si:” invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Sal 50;15

Há angústias que são consequências de nossas rebeliões, portanto, devemos buscar pelas causas em nós. “Por isso, quando estendeis vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; ainda que multipliqueis vossas orações, não as ouvirei, porque vossas mãos estão cheias de sangue.” Is 1;15

Adiante lembra que a causa de Seu afastamento está conosco mesmo. “vossas iniquidades fazem separação entre vós e vosso Deus; vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” Is 59;2 Mais que não ouvir as orações dos rebeldes, eventualmente se faz adversário deles. Após ter sido partícipe das angústias do Seu povo, Senhor pelejou contra, dada a rebelião dele. “Em toda a angústia deles ele foi angustiado; o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e sua compaixão ele os remiu; os tomou e conduziu todos os dias da antiguidade. Mas, eles foram rebeldes, contristaram seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo;Ele mesmo pelejou contra eles.” Cap 63;9 e 10

Então, voltando à pergunta do Salmista, por que Deus fica longe em tempos de angústia? Por duas razões: uma; um propósito mais elevado cuja realização compensa as angústias; outra, nossa edificação; o crescimento espiritual que auferimos mediante a dor também a faz valer à pena.

O alvo superior pode ser tipificado pelo Calvário; extrema angústia do Salvador, a ponto de suar sangue, tinha como alvo derrotar o Príncipe do mundo, o pecado e a morte. Nesse momento angustioso Ele perguntou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Contudo, malgrado a imensa dor que isso causou ao Senhor, Ele, vendo o resultado regozija; “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma e ficará satisfeito; com seu conhecimento, meu servo, o justo, justificará muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.” Is 53;11 Assim, o sofrimento dos justos é sacerdócio para bênção de terceiros; o servo sofredor transformado em dádiva Divina em favor de outros alvos do Seu amor.

No prisma da edificação, a tristeza segundo Deus obra a purificação de nossas superficialidades, melindres vários que só no Vale das sombras da morte, abandonamos deveras. “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.” Sal 119;71

Depois de uma dura reprimenda por carta à igreja dos coríntios, Paulo sabendo do “estrago” que fizera, quase que retirou suas palavras; porém, comemorou pelo fato de ter ensejado o necessário concerto. “Porquanto, ainda que vos contristei com minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo. Agora folgo, não porque fostes contristados, mas, porque fostes contristados para arrependimento; pois, fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano nenhum. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas, a tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7;8 a 10

Ademais, nossas almas inquietas, incapazes de esperar o tempo de Deus, angustiam-se ao desejarem certos bens, sem o devido processo que os produz; nesse caso, invés de nos abatermos, aprendamos esperar. “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois, ainda o louvarei...” Sal 43;5

Deus nos ama de modo inefável; por isso, mesmo quando está “muito longe” inda está cuidando de nós.