domingo, 23 de agosto de 2015

"The Voice"

“E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, as ovelhas o seguem, porque conhecem sua voz.” Jo 10; 4

O senhor usa aqui uma alegoria da relação, pastor-ovelha para figurar a Sua, com seus servos. A confiança se estabelece na intimidade gerada pelo convívio, que faculta aos servos identificarem a voz do líder.

Entretanto, se às ovelhas, a voz, estritamente, já basta como aferidora, aos cristãos, o assunto resulta um pouco mais complexo. Digo, a “voz” vai além de recursos vocais, articulação fonética. Um traço posto em relevo após o Sermão da montanha foi que, Jesus era diferente da de outros metres. “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; não como os escribas.” Mat 7; 28 e 29

Nesses tempos de frouxidão moral, onde disciplina, autoridade, não raro, são equacionadas com rispidez, falta de amor, muitos terão dificuldade de identificar a voz do Pastor, por, treinados em vieses psicologizados invés do convívio com o Santo.

Poucos ministros que se dizem de Cristo logram a devida negação do eu, “que ele cresça e eu diminua” como disse João Batista, para, enfim, serem reduzidos a vozes no deserto, como aquele. Quem atinge tal alvo, se faz como a voz do Sumo Pastor; dignamente O representa.

Amiúde, a Voz de Deus abarca toda Sua Palavra, devidamente contextualizada, Seus mandamentos. Repreendendo aos do Êxodo disse: “Nada falei sobre sacrifícios e ofertas, antes, disse: Dai ouvidos à Minha voz.” Desse modo, a voz associa-se ao conteúdo do que está sendo dito, antes, que o recurso sonoro envolvido.

Paulo apresenta uma situação em que o diabo transfigura-se em anjo, seus ministros, em ministros de justiça. Se, a figura é um recurso aparente, a voz, em dado momento trará à tona o que jaz no interior. No Apocalipse temos uma figura interessante: “E vi subir da terra outra besta; tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão.” Apoc 13; 11 Temos a imitação visual de Cristo, “Semelhante a um cordeiro”, mas, a essência satânica assomando na fala; “falava como o dragão...”

Como fala tal ser? Bem, na primeira vez que apareceu “pilotando” uma serpente falou relativizando a Palavra do Criador, minimizando consequências, prometendo grandezas espúrias, imputando imperfeição ao Caráter Divino. Qualquer ministro, que, hoje, anda exibir tais traços em sua mensagem, mesmo que faça as maiores demonstrações de poder, ou, até, obras de caridade, não passa de um filhote de dragão transfigurado, tentando parecer-se com O Cordeiro.

Desgraçadamente, grande parte da igreja move-se por essas vozes. Pessoas recebem sinais, prodígios e são instadas a testemunharem para glória e arrecadação de “apóstolos” “missionários” “bispos” e “pastores” vários, como se fosse esse o fim da Voz do Salvador. Milagres não são aferidores de nada; o gládio é entre verdade e mentira, o que muitos incautos recusam-se a ver.

Paulo aludindo ao surgimento do anticristo ensinou: “Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, sinais e prodígios de mentira, com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.” II Tess 2; 9 a 12

Vemos obliquamente mais um traço da Voz Bendita de Cristo: Enseja amar à verdade. Desse modo, como poderia alguém, pregar santidade, ou, mencionar o Santo em seus lábios acoroçoando ainda anseios ímpios no íntimo? O mesmo Paulo desfaz a possibilidade; “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus; qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19

Desse modo, temos uma nuance mais, da “Voz” de Cristo; gera testemunho santo.

A identificação da Voz do Pastor requer ajuda do Espírito Santo, que lega o necessário discernimento. Esse faculta a abstração de todo a aparência, busca apenas, a verdade.

Em coisas espirituais, pois, deveríamos nos comportar como os jurados do programa, “The Voice” que ficam de costas para o cenário e os candidatos; eventual aprovação que resulta em virar a cadeira deriva exclusivamente da voz, outro fator não conta.

Embora se diga: “a voz do povo é a voz de Deus”, no âmbito espiritual ninguém faz passeatas tentando destituir o governo que escolheu, por sentir-se enganado. Afinal, um traço mais, da voz do Santo, é Sua imutabilidade; muito mais perene que as coisas que reputamos concretas, como advertiu O Salvador: “Passarão os céus e a Terra, mas, minhas Palavras não hão de passar.”

sábado, 15 de agosto de 2015

sem máscaras ou, sem noção

Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou os seus bens vivendo dissolutamente.” Luc 15; 13 

Muito já se disse e escreveu sobre o Filho Pródigo, o esbanjador dissoluto. Contudo, ousarei umas coisinhas mais, sobre um detalhe de sua escolha que assoma no verso supra: Quando decidiu que viveria à sua maneira, resolveu fazer em “terra longínqua”. Ou seja, alienado dos seus, do existenciário onde aprendeu valores, para, quem sabe, evadir-se à censura dos que, com razão poderiam demandar uma melhor postura dele. 

Essa decisão pode sofrer diferentes análises. Uma, vulgar, simplista, tipo: Sem vergonha, sai para longe para poder aprontar à vontade; sabe que está pisando na bola e se esconde. Outra, que me ocorre, não é tão simples assim, e ousa advogar certa virtude na tal postura. 

A dissolução plena é quando minha fraqueza volitiva consegue tolher também os escrúpulos morais. Noutras palavras: Quando minha vontade enferma me faz padecer tanto que perco até mesmo a vergonha; faço minhas porcarias aos olhos de todos, publico-as.

O pródigo advertido pela consciência de que seu agir não era sábio, tampouco, prudente, mesmo capitulando aos desejos malsãos decidiu poupar constrangimentos mútuos e agir fora da vista. Numa linguagem vulgar, já que ia “soltar a franga” o fez em terreiro alheio.

Não que a noção do ridículo, do infame, seja lá, grande virtude, mas, nos dias em que a falta de noção grassa, se praticam as mais hediondas abominações com “motivos espirituais” bem que se pode apreciar isso como certo valor. 

Em momento algum advogo o que soaria à santarrice; a pretensão de serem, os cristãos, “dedetizados”, purificados totalmente, de modo a se porem refratários à ideia de pecado. Entretanto, eventuais fraquezas devem ser tratadas; numa progressão contínua devemos buscar em Cristo o aperfeiçoamento que a Bíblia chama, santificação. 

Ou, se nossa inclinação perversa predomina, malgrado as companhias e ensinos edificantes, que ao menos tenhamos noção, façamos separação entre o santo e o profano. Quantos cretinos, perversos, adúlteros, mercenários, não se furtam de fazerem ousadas asseveração proféticas, orações, “em nome de Jesus”? Agem os tais, como se o retirante esbanjador aquele, decidisse trazer as meretrizes para a casa paterna e se esbaldar ali. 

Em Dado momento, Paulo considerou uma vergonha a lentidão da igreja no conhecimento de Deus: “Vigiai justamente e não pequeis; porque alguns ainda não têm o conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa.” I Cor 15; 34 Noutro, preceituou a necessária separação do Nome do Senhor e a prática da iniquidade; “Todavia o fundamento de Deus fica firme tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus; qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19 

Claro que, as circunstâncias não servem, amiúde, como aferidoras do caráter. Se pode estar sobre o lixo sendo santo, bem como, entre os santos sendo um lixo. Todavia, essa discrepância caráter-ambiente deve ser efêmera, como versa o salmo primeiro: “Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.” Sal 1; 5 Podem estar lá eventualmente; não, subsistir indefinidamente. 

A relação de Israel com Deus no Velho Testamento tinha um componente geográfico especial, uma vez que a nação fora libertada do Egito visando a Terra Prometida. Então, alienados de sua terra sentiam-se também, separados de Deus. De modo que, quando seus algozes pediam que eles cantassem hinos em Babilônia, no cativeiro, recusavam. “Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137; 3 e 4 

O Novo Pacto, entretanto, visa uma relação “Em espírito e verdade” o que prescinde de endereços e demanda essas duas qualidades alistadas. Uma definindo o âmbito da atuação; “em espírito” outra, o método: “em verdade”.

Quem orbita ambientes cristãos com motivos mesquinhos, egoístas, o faz na carne, segundo a natureza; a verdade lhe não convém, pois, para tal, resulta em denúncia contra a hipocrisia, uma vez que, assim se comporta.

Talvez, seja menos infeliz o que fraqueja, erra e abandona, circunstancialmente, a casa do Pai, que outro que acostumou a viver sob máscaras e perdeu a noção do que significa estar em Cristo. 

O extraviado errante cuja consciência ainda o adverte pode, como o pródigo, cair em si, reencontrar a casa paterna via arrependimento, perdão; O cascudo escondido na congregação não passa de um escravo do pecado carente de filiação Divina.

Como a herança será repartida entre os filhos, a esse nada caberá. A falta de noção sobre valores, fatalmente o fará viver uma existência que não vale nada. 

domingo, 9 de agosto de 2015

O prazer de Deus

“Quem há entre vós que feche as portas por nada, não acenda debalde o fogo do meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão.” Ml 1; 10 

Mesmo a sabedoria popular admite a necessidade do lugar adequado para as coisas; deplora o hábito de “colocar o carro diante dos bois”. No texto supra, mediante Malaquias Deus rejeita aos que colocam o ritual antes do caráter. Parece que eram assíduos no hábito de cultuar, entretanto, estavam “acendendo debalde o fogo do altar”; oferecendo um culto hipócrita que O Santo desejou que fechassem as portas do templo. A Razão? “Eu não tenho prazer em vós...” disse.

Ora, mesmo no âmbito natural sabemos que o prazer mútuo é a chave da longevidade e higidez de um relacionamento. Com O Eterno não é diferente. Se Ele tiver prazer em nós, teremos força e amparo, como disse Neemias: “A alegria do Senhor é a vossa força.”

Infelizmente, acossados pelas cobiças de obreiros mercenários, muitos são levados a crer que a oferta faz o relacionamento, homem-Deus, quando, na verdade, o relacionamento sadio leva ao culto por gratidão e amor, não um rasteiro troca-troca, como se a igreja fosse local de comerciar favores espirituais.

O Salvador exemplificou tal prazer, de modo a colocá-lo num patamar superior às necessidades fisiológicas, até. Trouxeram-lhe comida da cidade; não desprezou, mas, priorizou a colheita espiritual que iniciava em Samaria. “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, realizar a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.” Jo 4; 34 e 35 

Assim como, a união via matrimônio funde dois numa só carne, a ideia é que o retorno a Deus nos unifique em Um Espírito. “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim para que todos sejam um, como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Jo 17; 20 e 21 

Essa unidade em espírito, necessariamente há de agradar às duas partes; o salmista escreveu: “Deleita-te também no Senhor, ele te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, ele tudo fará.” Sal 37; 4 e 5 

A Palavra ensina que em Deus não há mudança nem sombra de variação. Mais: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” Am 3; 3 Pergunta. Óbvio que não. Assim, para o homem pecador andar com Deus precisa mudar de tal forma que o acordo se restabeleça; aí entra a conversão. 

Isaías ensina: “Deixe o ímpio o seu caminho, o homem maligno os seus pensamentos; se converta ao Senhor que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55; 7 e 8 

Entretanto, aos que preferem ignorar ditando debaixo para cima o seu culto, mediante o mesmo profeta, o Eterno se ocupa em patentear seu desprazer. “Quem mata um boi é como o que tira a vida de homem; quem sacrifica um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação é como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em memorial é como o que bendiz um ídolo; também estes escolhem os seus próprios caminhos, a sua alma se deleita nas suas abominações. Também eu escolherei as suas calamidades, farei vir sobre eles os seus temores; porquanto clamei e ninguém respondeu, falei e não escutaram; mas, fizeram o que era mau aos meus olhos; escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.” Is 66; 3 e 4 

Afinal, embora muitos apregoem a fé como uma força que faz as coisas acontecerem é antes, motriz de um relacionamento que visa agradar Àquele que tem poder para fazer acontecer. “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Heb 11; 6 

Em suma, a “oferta” que apraz ao Santo, excede às coisas, se faz de vidas consagradas. “...apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12; 1 Mero ritual é morto se nossas vidas O desagradam; se ele se apraz em nós, o novo modo de vida é já o culto que apraz ao Altíssimo.

sábado, 8 de agosto de 2015

Castelo de cartas

“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, quanto para convencer aos contradizentes.” Tt 1; 9

Escrevendo a Tito Paulo enumerou algumas qualidades desejáveis dos futuros presbíteros, e, em dado momento chegou ao preceito supra. “Retendo firme a fiel palavra...” 

Firmeza, eis uma qualidade nem sempre presente nas almas humanas. Grosso modo, a maioria é volúvel, volátil, fugidia ao sabor das circunstâncias. Não por acaso, uma das qualidades do cidadão dos céus é constância, mesmo às circunstâncias adversas. “... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda...” Sal 15; 4 

O Eterno queixa-se contra Judá e Efraim, que, em certos momentos juravam amor, mas, ante a menor contrariedade esqueciam. Usa uma bela figura poética; diz: “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.” Os 6; 4 Sim, o orvalho se desfaz aos primeiros raios do sol; de igual modo, declarações de fé superficiais aos primeiros ventos de contrariedades. 

Se é vero que o surgimento de João Batista causou frisson em Israel, dado o deserto profético de 400 anos onde surgiu, também o é que, passada a empolgação inicial, muitos começaram a duvidar de seu testemunho. 

Não houve mudança nele, tampouco, em sua mensagem; antes, expectativas humanas errôneas não se cumpriram, enquanto, as Divinas estavam em pleno curso. Jesus se ocupou de reiterar a firmeza espiritual do maior dos profetas. “ partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas, a respeito de João: Que fostes ver no deserto? uma cana agitada pelo vento?... Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas, aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.” Mat 11; 7 e 11 

A mesma figura do “mutante” espiritual ser um agitado pelo vento é usada por Paulo quando escreve aos cristãos de Éfeso. Depois de alistar dons ministeriais, e preceituar a necessária edificação expõe o motivo: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em redor por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” F 4; 13 e 14 

A consequência da firmeza receitada não é nada desprezível, pois, disse: “para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer contradizentes.” Firmeza na verdade conduzindo ao poder. 

A ideia vulgar de poder, entretanto, não é essa. No prisma espiritual muitos associam à operação de sinais; no secular, galgar níveis de autoridade. Mas, o foco aqui é poder na dimensão espiritual. Nessa peleja, todos os projéteis da mentira fracassam ante a blindagem da verdade. 

Embora a verdade às vezes nos constranja, envergonhe, é a arma favorita do Todo Poderoso, que a fez poderosa também: Porque nada podemos contra a verdade, senão, pela verdade.” II Cor 13; 8 

A eficácia da mentira é biodegradável; seu prazo de decomposição se altera ao alvitre de algumas variáveis, mas, amiúde, sempre apodrece; as que o PT vem contando à nação a treze anos, por exemplo, perderam totalmente sua capacidade de seduzir; os fatos, a verdade, trituram as falácias como o moinho faz com o trigo. 

Assim, embora o engano, a mentira até logrem certo poder, vale apenas no reino das aparências; dizem que a mentira tem pernas curtas, embora, suspeito que sequer pernas tem; antes, é levada por seus seguidores no opaco andor das paixões cantando o hino das perversas conveniências. 

Mas, voltando à verdade, ela é útil para admoestar segundo a doutrina, antes de convencer aos contradizentes. Ou seja: Exerce internamente seu poder na purificação do rebanho pra depois explorar limites externos buscando crescer. Pureza primeiro, após, grandeza; qualidade antes que quantidade.

Pois, convencer a outrem é fácil, basta ludibriar suas defesas com o invólucro de argumentos persuasivos; contudo, convencer a si mesmo de modo a silenciar aos reclames da consciência, apenas a verdade consegue. E fugir disso equivale ao naufrágio espiritual. “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tm 1; 19 

É possível cauterizar à consciência por não querer ouvir; uma espécie de suicídio espiritual. Contudo, sua voz sempre denunciará nossos erros, bem como, fará patente a Justiça de Deus. 

Enfim, quem teme ao convívio com a verdade, mesmo que domine um império, apenas galga alturas imensas que farão mais dura a queda, quando ruir seu castelo de cartas...

terça-feira, 7 de julho de 2015

O eunimigo mortal

“Orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso; para que manifeste, como convém falar.” Col 4; 3 e 4 

Maravilhosa lição de entrega nos dá Paulo! Estava preso e pediu orações para se abrisse a “Porta da Palavra”, não, da cadeia. Sua preocupação passava de largo à ideia de ser livre; contudo, queria ser preciso, cirúrgico no uso da Palavra de Deus. 

Que a condição básica dos salvos é o “negue a si mesmo” todos sabem; Um coisa, entretanto, é saber a receita; outra, fazer o bolo.

Nesses tempos difíceis, de afirmação do ego, de culto à personalidade, uma negação nesses moldes soa estranha. Normal tem sido vermos grandes biltres da política usando o poder econômico para impetrarem “Habbeas corpus” preventivos, com medo de serem presos. 

O sociedade como está organizada há muito deixou de ser um arranjo para a convivência, tornando-se arena de competição. Assim, o fito não é a negação, antes, a afirmação do eu. Eventualmente, alguém, ou, uma instituição qualquer faz algo filantrópico e vira notícia, tal a quebra de paradigma que se revela, algo que deveria ser o modo de vida ordinário dos cristãos. 

Não raro vemos o marketing apregoando igrejas como empresas, pois, a porta que se busca abrir é a da prosperidade denominacional, não, a que ensejaria o crescimento do Reino de Deus. Grandes “stars” góspeis circulam para cima e para baixo, ao estímulo de polpudos cachês, pois o “eu” esse déspota assassino encena, rodeia, apregoa, mas, ser pregado na cruz, não aceita de jeito nenhum.

Não estou hipocritamente pretendendo me eximir da culpa, antes, me incluindo no alvo dessa reflexão, para, constatarmos juntos, o quanto ainda falta até podermos esquecer nossas barreiras pessoais, desde que, A Vontade de Deus se cumpra em nós. 

Se, é verdade que o domínio tecnológico nos abre um milhão de possibilidades, também, nos estimula a sermos pueris, superficiais... Podemos “compartilhar” grandes “nacos” de sabedoria, que, em nenhum momento vivenciamos. Apenas passaram diante de nós, “curtimos” e mandamos em frente, como que usando pedra preciosa na funda. 

O universo virtual faculta a facilidade de fazermos cortesia com chapéus alheios. “Quem gostou compartilha” parece ser o aferidor; invés de, quem entendeu viva, pratique.

Ninguém mais pede oração temendo não falar a coisa certa, esses pruridos infantis que acossavam Paulo; todo mundo sabe o que é certo; por que ajuda Divina se tem tudo no Google? 

Na verdade, antes da qualidade da reflexão, em si, o próprio ato de refletir é mais notório por sua ausência, que, por eventuais frutos. Volto inevitavelmente a uma das minhas frases favoritas; “A mente não é um vaso para ser cheio; é um fogo a ser aceso”. ( Plutarco ) Não precisamos uma mente filosófica para constatar a superioridade de uma chama viva que se propaga sobre um amontoado de trastes empoeirados. 

O apóstolo Paulo rogou orações pela abertura da “porta da Palavra”, talvez, nós precisamos ser libertos da prisão das nossas certezas. Nada mais letal que estar nas garras da condenação e sentir-se seguro. Salomão denunciou uns assim: Tens visto o homem que é sábio a seus próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo do que dele.” Prov 26; 12 

Mas, agindo assim não correremos o risco de isolamento, recebermos um “gelo” dos nossos amigos virtuais, pois, estaríamos andando na contramão? Essa é a ideia. 

Jesus nunca pretendeu que os Seus fossem alinhados com o mundo, antes, diversos dele, mediante frutos e alvos mais excelentes. “Dei-lhes a tua palavra, o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.” Jo 17; 14 Por que Paulo estava preso, senão, que sua mensagem e modo de vida perturbavam aos figurões de então? 

Que importa que grasse o culto do lixo moral, como tem se acentuado no país nos últimos tempos, quem considera prioritariamente a Vontade de Deus mantém os pés na Rocha, não se inclina ao sabor do vento. 

Afinal, “negar a si mesmo” em prol da vontade de Deus é a anulação do efêmero pelo triunfo do eterno; anular a si mesmo amalgamado, massificado, pelo lixo do mundo é delegar escolhas vitais a um assassino que há muito escolheu ser, inimigo de Deus. “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4; 4 

Que importa que o mundo nos rejeite, se Deus nos aceita? Afinal, “o mundo passa, e a sua concupiscência; mas, aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” I João; 2; 17

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Jesus, em nosso tribunal

“Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e açoitou. Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lhe puseram sobre a cabeça; lhe vestiram roupa de púrpura. E diziam: Salve, Rei dos Judeus. Davam-lhe bofetadas. Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui o trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.” Jo 19; 1 a 4

Estranha figura esse Pilatos. Depois de submeter O Salvador a açoites e escárnios, defendeu Sua inocência. “... não acho nele crime algum.” Adiante reiterou: “...Tomai-o vós, crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.” V 6

Ora, se sua consciência dizia que estava diante de um inocente, como autorizou que fosse crucificado? Talvez o clamor popular fosse muito forte; pode ser, mas, não bastava isso para tolher-lhe a autoridade, coisa da qual jactou-se ante O Mestre. “Disse-lhe Pilatos: Não falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e poder para te soltar?” v 10

Quando alguém não faz o que pode para salvar uma vida inocente, tudo o que pode é encenar, como fez ele, lavando as mãos. Limpou da poeira sujou de sangue. Na verdade, dado o valor de uma vida, e a inexorabilidade da morte, devemos fazer o possível para salvá-la, mesmo que seja culpada.

Quantos fazem o joguinho de Pilatos cegados pela própria hipocrisia? Tipo: Posso, mas, não farei, desde que pareça que a culpa não é minha. Embora tudo e todos, possam concorrer no sentido de me induzir a tomar certo caminho, sou o único senhor de minhas escolhas, salvo em casos extremos de tiranias opressoras, que mesmo ameaçando com morte, não têm como ingerir em minha consciência.

Todos nós, em certo momento estaremos como Pilatos, ante uma decisão de vida ou morte envolvendo a Jesus. Dessa vez, porém, a vida em questão é a nossa, não, a Dele. Daquele foi dito: Sei que é inocente, mas, que morra mesmo assim; nós outros podemos diferir, pois, mesmo sendo culpados, nos é facultada a escolha pela Vida.

Quantos “lavam as mãos” na bacia rota da hipocrisia colocando obstáculos inventados para disfarçar vontades rebeldes? “Há tantas religiões, dizem, como saber qual a certa? Tanto Pastor ladrão, mentiroso, por que me converter? Muitos se vestem de justiça própria; Não faço mal pra ninguém, não tenho vícios, como iria para o inferno? Etc.

Ora, quando o Senhor disse que os sãos não precisam médico, antes, os doentes, em momento algum esposou a ideia que existissem “sãos”. Como os pretensos sãos, os religiosos da época O censuravam por se misturar à ralé, usou esse argumento lógico, eivado de ironia para os desmascarar.

A condenação não foi Obra de Cristo; veio sobre toda a humanidade desde a queda. Erra quem afirma que a simples menção da Palavra de Deus estaria condenando alguém, antes, porfia por salvar aos já condenados. “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas, para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” Jo 3;17 e 18

A razão básica da condenação é a incredulidade. Claro que, crer deve gerar obediência para se revelar autêntico, senão, não passa de simulacro. No fundo, os que “não conseguem crer” recusam-se a obedecer.

A proposta maligna original, que, o homem se bastaria alienado de Deus, decidindo por si mesmo acerca do bem e do mal, sempre seduziu-nos. Meras partículas em mais de sete bilhões, de um gênero entre milhões da criação, nos supomos deuses universalizando preferências, inclinações, paixões... Frágeis a ponto de um invisível ser, vírus, bactéria, nos poder vulnerar, presunçosos ao extremo, como se nossa miopia contivesse a luz do Universo.

Não sem razão, Paulo associa incredulidade com cegueira: “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II Cor 4; 4

Assim, gostando ou não, com o “júri” da fé ou, da incredulidade, acabamos, como Pilatos, julgando a Cristo. Quem crê O declara inocente, verdadeiro; quem foge, como o romano, o faz mentiroso. “Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu.” I Jo 5; 10

Enfim, não basta identificarmos a inocência do Salvador, é preciso que também reconheçamos nossas culpas, pra que Seus méritos nos sejam imputados mediante perdão.

Senão, O entregamos para seja morto uma vez mais; e matar ao Único que salva, é só uma forma oblíqua de cometer suicídio.

domingo, 5 de julho de 2015

Inútil exposição Divina ante rebeldes

E o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, entendimento, ciência, em todo o lavor, para elaborar projetos, trabalhar em ouro, em prata, cobre, lapidar pedras para engastar, e entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor. Eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã; tenho dado sabedoria ao coração de todos aqueles que são hábeis, para que façam tudo o que te tenho ordenado”. Êx 31;3 a 6
Os que, em dado momento abraçam a tarefa de defender o indefensável, tipo a confecção de imagens para a “obra de Deus” lançam mão de textos como esse e similares para reforço de seu argumento. Se, o mesmo Senhor ordenou que se fizessem obras artesanais para o Tabernáculo, como seria contra tais artefatos?
Bem, não é necessário muito esforço para concluir que O Criador faz coisas que só Ele pode. Se, alguém pode usar com propriedade o “Faça o que eu digo, não o que eu faço, Esse, é Deus.
Os artefatos por Ele ordenados eram adornos e utensílios do Seu lugar de culto, tanto que, os artesãos foram cheios do Espírito de Deus, sabedoria e entendimento para a tarefa. Quando veda a “livre iniciativa” tolhe o concurso de deuses que usariam o Seu lugar, uma vez que receberiam preces, culto, como se tivessem espírito, poder, invés de serem inanimados. Assim, o Santo não veta um direito humano, antes, a estupidez, a profanação, dos que, deveriam conhecê-lo.
O mérito ou demérito de determinada ação não deriva da ação em si, antes, do objetivo, do espírito que a anima. O que são os hipócritas, tão combatidos pelo Salvador, senão, homens que fazem a coisa certa, eventualmente, mas, com motivação errada? “Fazem para ser vistos pelos homens” denunciou.
Entretanto, O Eterno fazer tudo para ser “visto”, entendido pelos homens é a mais excelsa demonstração de amor. Paulo denuncia aos que recusam a ver o obvio, tal a exposição de Deus. “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto seu eterno poder, como sua divindade, se entendem; claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, em seus discursos se desvaneceram, seu coração insensato se obscureceu.” Rom 1; 19 a 21
Adiante, conclui que o desconhecimento voluntário de Deus não acalma seu desejo espiritual; no intento de fugirem aos reclames do Santo, buscam deuses alternativos, de seu próprio feitio. “mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, aves, quadrúpedes, e de répteis.” Vs 23
Assim, como tais não se importam ao rebaixarem Deus, também Ele, não se incomoda de os entregar a um sentimento coerente com o espírito rebelde que os anima. “Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. Semelhantemente os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. Como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;” vs 25 a 28
Viram como a coisa é concatenada? A Rejeição de Deus e Seus santos padrões leva os rebeldes aos deuses alternativos, falsos; tal culto profano descamba rumo ao vilipêndio da própria dignidade humana; justo juízo de quem profana à Dignidade de Deus.
Assim, sempre que o Eterno veta algo aos seus, no fundo, Seu alvo é livrar da morte. “Porque o salário do pecado é a morte, mas, o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Rom 6; 23
Erram grotescamente os que se escandalizam por não ser, a Bíblia, “politicamente correta”; Deus labora para salvar almas, não, melindres. Mais, a polis, ( cidade ) dos salvos é mui coerente com a linguagem bíblica, posto que não é daqui. “Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus.” Heb 11; 10
Deus enviou Sua Palavra, mediante o Salvador para guindar obedientes à Sua cidade; no tocante a isso a linguagem é precisa, única. “... Ninguém vem ao Pai senão, por mim.” Assim, todos são livres para escolher até a morte, se desejarem; ninguém, pra contrariar impunemente aos Divinos preceitos.