terça-feira, 3 de março de 2015

Os dois lados da moeda

“Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus:...” Rom 11; 22  

Uma tendência humana enfermiça é a que limita O Santo às nossas inclinações, desejos. Quem se presume justo, andando em retidão tende a pregar duras mensagens advertindo da severidade do Eterno; por outro lado, o que vive claudicante num misto de obediência e rebeldia, não raro, coloca em relevo a graça, a bondade. 

Escrevendo aos romanos, Paulo aconselhou a não “fracionarmos” o caráter Divino, antes, entendê-lo em toda amplitude. “Considera a bondade e a severidade de Deus”, disse. 

Na epístola de Judas se contém algo semelhante. Ou, a lembrança dos, que, tendo sido alvos da bondade, pela incredulidade subseqüente acabaram deparando com a severidade. “Mas quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram;” Jd v 5 

Salomão lembrou outros que, fazem mau uso da longanimidade Divina. Em palavras mais simples, abusam da bondade. Disse: “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11 

O mesmo Deus inspirou Davi a registrar num hino essa faceta de gente que, porque Ele cala ante certas práticas imagina, doentiamente, que, Deus aprova, ou, ao menos tolera deslizes de alguns; como se Ele tivesse favoritos, privilegiados. “Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitar os meus estatutos, em tomar a minha aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, lanças as minhas palavras para detrás de ti. Quando vês o ladrão, consentes com ele; tens a tua parte com adúlteros. Soltas a tua boca para o mal, a tua língua compõe o engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito; eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos:” Sal 50; 16 a 21 

Vemos que o ímpio em questão é religioso, uma vez que recita sentenças da Palavra de Deus, não obstante, agir de modo a contrariá-la.

Certos nefelibatas levam a Bondade Divina a extremos tais, que, supõem que todos serão salvos pelos Méritos de Cristo, façam o quê fizerem. Outros escandalizam-se pelo fato de quê, pessoas de passado nebuloso, de pecados grosseiros acabam perdoadas quando se arrependem;  como se, existisse para Deus dois tipos de pecadores; os que podem ser salvos e os que não. 

Que a bondade é irrestrita, Paulo fez questão de realçar em seu próprio exemplo: “Esta é uma palavra fiel, digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna.” I Tim 1; 15 e 16 

Todavia, se isso tudo e muito mais pode ser dito com verdade sobre a Bondade de Deus, não menos exemplos há da Sua severidade quando decide julgar. 

Tanto no início do sacerdócio levítico, quanto, na igreja ainda embrionária tivemos duas mortes, de gente que Profanou ao Santo. No primeiro caso, os dois filhos de Arão que compareceram ante Ao Senhor com “fogo estranho.” No Segundo, Ananias e Safira mentiram solenemente ao apóstolo Pedro e foram justiçados de modo severo, imediato.

Assim, brincarmos com coisas sérias indefinidamente, fiados que a bondade de Deus sempre está pronta para nos dar uma nova chance pode ser temerário;  como se ensina nos provérbios. “O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio.” Prov 29; 1 

Então, erram os “facilitadores” que enfatizam em demasiado a dita “era da graça” fazendo parecer licença para pecar; como se o juízo severo pertencesse aos dias de Moisés, apenas. A epístola aos Hebreus, aliás, depois de cotejar Jesus Cristo com Moisés no capítulo 3 mostrando-O infinitamente maior que aquele, adverte, adiante, sobre a seriedade de brincar com algo tão Sublime como Seu Sangue, e Seu Santo e Gracioso Espírito. “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós, será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus; tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado e fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10; 28 e 29  

Em suma: Deus é tão bom que deu Seu Filho por nós; tão severo, que não reconhecerá nenhum, que recusar tomar a Sua cruz. 

domingo, 1 de março de 2015

O tempo e o labirinto

“Tudo tem o seu tempo determinado; há tempo para todo o propósito debaixo do céu... Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar; nada se lhe deve tirar; isto faz Deus para que haja temor diante dele.” Ecl 3; 1 e 14

Temos nessas sentenças situações opostas; uma, tributária ao tempo, outra, refratária. Há um tempo determinado pra tudo “debaixo do sol”, mas, “o que Deus faz durará eternamente.” Se alguém pode dizer com verdade, “tenho todo o tempo do mundo”, como dizem alguns, Esse É Deus. 

O indivíduo move-se em seu tempo estrito; Ele tem um tempo específico para o trato com a humanidade. Romper as cortinas férreas do tempo permeia nosso imaginário. Basta evocar a utópica fonte da eterna juventude, ou, as viagens ao passado e futuro fantasiadas no cinema. 

Entretanto, quando o sábio postula que tudo tem seu tempo determinado, nem de longe está abraçando a ideia do fatalismo, comum na mitologia grega. Basta ler a íntegra de seus escritos para ver que coloca sempre o homem como arbitrário, daí, com o dever de ser conseqüente. Pois, no fim de suas meditações adverte sobre o juízo segundo nossas escolhas, não, um determinismo frio, injusto. “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra; até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Cap 12; 13 e 14  

Não raro, vemos a resignação em face à morte de alguém em palavras fatalistas, tipo: “Quando chega a hora não adianta, a pessoa vai mesmo.” Como se, houvesse uma hora pré-determinada da qual ninguém se pode evadir. Não. Quando diz que há um tempo determinado inclui a possibilidade total de uma vida humana. Podemos abreviar isso por imprudência, descuido, quiçá, sermos vitimados por males alheios, o que, tolheria nosso tempo; sem ser, amiúde, o tempo de Deus para nós. 

Paulo apresenta a vida na terra como uma redoma de tempo e espaço, dentro da qual, nos compete buscarmos a Deus; uma espécie de labirinto filosófico e espiritual do qual devemos sair encontrando o rumo de volta à casa Paterna perdido em Adão. “de um só sangue ( Deus ) fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra; determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17; 26 e 27 

Embora seja limitado o tempo, é mais que suficiente; a carência é de luz, uma vez que muitos O buscam tateando. Acontece que as altas paredes do labirinto são de concepções humanas, quando não, satânicas; sobre a vida, Deus, e salvação. 

Esse monstro meio animal, meio humano, o Minotauro da cegueira foi morto já. O “Teseu” enviado o fez; Jesus Cristo; A Luz do mundo.

Se aquele saiu vitorioso do labirinto graças ao novelo de Ariadne que permitiu encontrar o caminho de volta, Esse, Cristo, não dependeu de ajuda alguma, saiu pelo alto, vitorioso e coroado de glória. 

Para nós, porém, deixou uma corda luminosa que, seguindo chegaremos seguros à casa do Pai. “...Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” Jo 14; 6 

Assim, ficamos numa dimensão onde pesa a mão do tempo; “debaixo do sol”; mas, somos chamados a passarmos para o outro lado, onde o tempo não ameaça mais. “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas, passou da morte para a vida.” Jo 5; 24 

Seria temerário, contudo, supormos que temos todo tempo; podemos protelar a decisão em relação a Cristo. A palavra coloca a salvação como urgente; “...Hoje, se ouvirdes sua voz, não endureçais os vossos corações...” Heb 3; 15 Uma vez mais, a questão não é o tempo; antes a reação de cada um à Palavra de Deus.

Se a salvação transpõe a vida de sob, para sobre a influência do tempo, traz junto a responsabilidade com as coisas do alto. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima; não nas que são da terra;” Col 3; 1 e 2 

A fuga do labirinto é apenas por cima; muitos devaneiam presos às cordas dos prazeres insanos, que, enganam divertindo a permanência e matam impossibilitando a saída.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Diamantes em fundas

“E tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas os nomes dos filhos de Israel... porás as duas nas ombreiras do éfode, por pedras de memória para os filhos de Israel; Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do Senhor.”  Êx 28; 9 e 12  

Embora memória seja abstrata, em dado momento carece de um “HD”. Algo palpável. Então, o Senhor ordenou que o manto sacerdotal contivesse doze pedras preciosas simbolizando as tribos de Israel. Assim, uma faculdade da mente seria estimulada também pelo auxílio das vistas. 

Desse viés natural em seres imanentes e transcendentes como nós, deriva o insano culto da idolatria. Confeccionar coisas visíveis para chegar às invisíveis. A questão não é o método, dado que o próprio Deus preceituou; antes, o mérito, uma vez que os ídolos cultuados são de gestação humana e concorrem usurpando o lugar que pertence ao Eterno. 

A própria celebração da páscoa dos judeus e da ceia dos cristãos, são “ídolos” do bem;  ritos que trazem à memória a salvação do Egito àqueles, e do pecado a esses. 

Vivemos dias difíceis no que tange aos domínios da memória; quanto maior a gama de dados assimilados, menor a chance de se evocar seletivamente. A velocidade da vida moderna, as amplas possibilidades de “relacionamento” virtual prendem nossas mentes num desfile linear ininterrupto, tolhendo os “breaks” cíclicos necessários ao exercício saudável da memória. Simplificando: Não paramos mais para pensar.  

Isso nos veta o rebuscar de coisas boas que são antídotos ao desânimo e estímulos à fé. Certa letra de um hino capta bem, pois, diz: “Conta as bênçãos, dize-as quantas são; recebidas da Divina mão; uma a uma; dize-as de uma vez, e verás surpreso quanto Deus já fez.” 

Às vezes, contudo, mesmo que “o mar vermelho” tenha sido aberto ante nossos pés, esquecemos; à menor contrariedade tendemos a duvidar dos cuidados do Santo. 

O Seu “HD” que nos humilha não O deixaria fazer isso. “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria que não se compadeça dele? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei;...” Is 49; 15 e 16 

Se alguém poderia duvidar, deprimir-se, dado o contexto, era o profeta das lágrimas, Jeremias; que profetizou e contemplou a derrocada de Jerusalém. Todavia, em meio aos seus muitos lamentos ainda fez bom uso da memória. “Disto me recordarei na minha mente; por isso esperarei. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é tua fidelidade.” Lam 3; 21 a 23 

Tiago, por sua vez denunciou aos de memória fugaz; ouvem a Palavra eventualmente, mas, não assimilam a ponto de praticarem; escoa entre os dedos da dispersão. “sede cumpridores da palavra,  não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque contempla a si mesmo, vai-se, e logo esquece de como era.” Tg 1; 22 a 24 

Acontece que expomos nosso “si mesmo” em fotos cuidadosas, nos melhores ângulos, para serem “curtidas”. E O Espírito Santo não entende nada de fotografia, quase sempre nos deixa mal quando nos revela. Na verdade possui outro conceito de beleza; santidade.

Assim, “publica” nossas fotos para nossas próprias consciências, para quê, advertidos devidamente e por Ele ajudados, possamos ficar bem na foto que será apresentada ao Pai, para que Ele curta. 

Então, enquanto o mundão não para sua célere produção de novidades, Ele segue buscando as mesmas coisas. 

Fico triste quando leio açodos de gente que não pensa e “filosofa” rumo ao hiper-ativismo dado que a vida é curta. Como se, o fim da mesma fosse fazer muitas coisas, invés das coisas certas. É fácil bravatear: “Só me arrependo do que não fiz.” Difícil é convencer a si mesmo sobre o travesseiro quando se fez uma besteira das grandes.

Aliás, outro efeito colateral das facilidades virtuais é que todo mundo virou mestre. Basta um control c control v no que gosta para sair vendendo “suas” verdades, que, na maioria das vezes desconhece. 

Nem se trata de memória fraca, mas, consciência cauterizada daquele que consegue praticar barbaridades morais, e vender “santidades” virtuais. 

Afinal, embora a fé seja o “firme fundamento das coisas que não se vê,” sua prática traz resultados visíveis. “Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.” 

A pedra que evoca o que Cristo fez é o testemunho de uma vida transformada. Sentenças sábias em vidas dissolutas não passam de pedras preciosas usadas em fundas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Felizes os que caem?

“Meus irmãos tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência.” Tiago 1; 2 e 3

Tal afirmação entendida de modo superficial pode dar azo a que se advogue a bênção sobre os que caem em tentações. A primeira parte do texto parece edificar a ideia. Entretanto, o verso seguinte desafia à prova da fé, que triunfaria mediante paciência. Então, o “cair em tentação” em foco, equivale a não pecar, antes, admitir internamente a ideia, mas,  cotejar tal desejo com o conteúdo da fé, e nesse esperar, graças ao amparo da paciência.

Adiante ele explica a gestação do pecado. “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas, cada um é tentado, quando atraído e engodado pela  própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado;  o pecado sendo consumado gera a morte.” Vs 13 a 15 

Vemos que há todo um processo interior “dando vida” a esse agente da morte. Cobiça vontade e ação. Essa última equivale a “dar à luz o pecado”; antes disso pode ser abortado em paciente espera e confiança em Deus. 

O “cair em tentação” que Tiago defende como motivo de gozo, pois, é resistir às nuances do mal que assedia; o gozo derivaria de tê-las, pacientemente vencido; não,  impiamente consumado. Afinal, ele mesmo, se expressa de modo mais claro sobre o tema: “Bem aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.” V 12 Não poderia, ele, com coerência, abençoar ao que cai como ao que suporta a tentação. 

Refere-se ao mesmo caso; o que assediado por maus desejos triunfa a eles e haure o gozo de sentir em seu espírito a vitória do Espírito Santo, o direcionando em fé mediante paciência. 

Nesses dias velozes de tanto ativismo, muitos pregadores de interesses terrenos disfarçados de celestiais transtornaram o sentido da Palavra de Deus; sobretudo, do quesito, fé.

Embora possa exercer vigoroso papel ativo, seu sentido é muito mais, passivo. Não é uma força que faz as coisas acontecerem como advogam os da “prosperidade”; antes, uma confiança irrestrita na Pessoa Bendita do Senhor, mesmo que, nossos sonhos não aconteçam; que nossas orações não sejam respondidas como esperamos. Afinal, se fé é provada com a régua da paciência, certamente os “centímetros” da mesma são feitos de tempo, de espera. 

Embora o tema central de toda epístola  seja advertência contra a duplicidade de ânimo, a paciência aparece como coadjuvante mui expressiva. 

Quanto aos ambíguos apresenta como doentes espirituais, portadores de corações sujos; “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Cap 4; 8 Vemos uma vez mais, a sutil diferença entre o pecado praticado, suja as mãos; e o pecado acariciado apenas no domínio dos desejos; suja o coração. 

A ideia subentendida é que, as pessoas se dispõem a esperar em Deus certo tempo; mas, impacientam-se ante anseios não supridos e partem para “soluções” naturais; leia-se, pecado. Isso lembra parte do Salmo onde Davi versa: “Por que te abates, oh minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois, ainda O louvarei.” Nesse colóquio consigo mesmo ele deixa transparecer que, o abatimento da alma derivava da impaciência; tanto quê, propôs como solução esperar em Deus. 

Mas, voltando a Tiago, ele evocou, enfim, o mais intenso exemplo de paciência das Escrituras, como argumento final, aos “bem aventurados” que se dirigia; disse: “Meus irmãos tomai como exemplo de aflição e paciência, os profetas, que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.” Cap 5; 10 e 11

Vemos que o fim foi escolha exclusiva do Senhor; não algo que Jó tenha “decretado” “determinado”; ou, pelo qual tenha feito “campanha, corrente”.  

Muitas vezes equacionamos fé com esperança, como se fossem iguais; embora tenham certo parentesco, a fé tem um objeto específico, Deus; como condicionante, que peçamos segundo Sua Vontade. A esperança é amoral; tanto coabita com ímpios, quanto, com santos. 

Desse modo, a esperança do cristão não deve “dar golpes no ar”, antes, alinhar-se a que foi proposto. “...tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;” Heb 6; 18.

Enfim, quando as tentações nos convidarem para “novas possibilidades”, a fé lembrará o que está proposto, para a devida assepsia da nossa esperança.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Desmascarando Deus

“Fiz coisas boas que me deram prejuízo; e coisas más, que me deram lucro.” (Graciliano Ramos)

Como versa a citação supra, o bem e o vantajoso, não têm, necessariamente, relação.
Dos temas contraditórios, nada se equivale à existência  de Deus. Pelo menos um Deus pessoal, que vise disciplinar a vida, segundo Sua vontade. 

Quanto a um “Deus” genérico, oco, não incomoda. Na verdade, serve de bengala. Contudo, se, evocado segundo Sua Palavra gera reações violentas, apaixonadas. Como se um ente maligno (seria Ele?) ferisse  mentes, dando azo a refutações desinteligentes, desconexas.

Uns, advogam que os crentes devem se atualizar, deixando postulados medievais; outros, afirmam que a Bíblia foi “atualizada” muitas vezes, de modo que já não guarda a Palavra original de Deus, que seria mais antiga. Há ainda os que não toleram ouvir a simples citação de textos bíblicos e nos acusam de intolerantes. Conceitos emitidos por Deus  são redefinidos como preconceitos. Pessoas desconhecidas, em razão de crerem de modo diverso são tachadas de hipócritas.  Se, apenas suas opiniões são conhecidas e não seus atos, a pecha não seria preconceituosa?

Enfim, a existência de Deus,  a ser confirmada, parece fazer mais mal que bem. Assim, acredito válida a tentativa de extirpar isso. Como se trata de mal universal deve ser cuidadosamente investigado; se possível, erradicado.

Vamos tentar, segundo  duas possibilidades: a) Deus não existe, trata-se de mito; b) Existe, mas, não é tudo isso.

Sabemos que o homem, malgrado sua veia criativa, não é um criador “ex-nihilo” ou seja: a partir do nada, antes,  manipulador do existente, daí  que “nada se cria, tudo se transforma.” Isso se dá, mesmo no campo das ideias, na tentativa de explicar e entender o transcendente. 

Qualquer homem, à luz de uma análise honesta, descobrir-se-á imperfeito. Natural que  mitos gregos, romanos, nórdicos etc. sejam deuses eivados de imperfeições; à imagem  de quem os criou, o homem. Aliás, foi por questionar a validade de tais “deuses” que Sócrates, o filósofo, encontrou a morte em Atenas.

Se, as projeções  humanas não podem exceder aos valores que o homem encontra em si, de onde teria surgido a ideia da perfeição? (Perdoem-me se faço o papel de advogado de Deus, mas, precisamos nos precaver.) Prosseguindo, com quê “matéria-prima” o homem elaborou um conceito tão nocivo à raça, bem como o mito de Jesus  que,  seria a fraqueza e loucura de Deus; contudo, resultou mais forte e sábio que todos os homens? Parece que um gênio maligno persegue a humanidade  lançando em rosto sua imperfeição  fazendo desejar o impossível.

Temos ateus por aí; é certo. Mas, alguém combateria o que não existe? Escrevem por convicção ou incerteza? No primeiro caso, porque não descansam, invés, de um engajamento tão difícil? Quererão  libertar multidões que estariam presas ao engano? Por quê? A ideia de amar ao próximo não seria um conceito de Deus? Ou, estariam  tentando cooptar mentes, fugir da solidão, para juntos  se aquecerem como os pinguins no rigor antártico? Talvez, se usarmos a ideia do mito, nossos adversários nos coloquem em muitas saias justas, como vimos.

Restaria a alternativa de que Deus exista, mas, não esteja com essa bola toda. Afinal, só porque teria criado esse universozinho teria direito de governar o mundo? Será que Ele sabe com quem está falando? Como esse falar deriva sempre daquele livro antiquado, basta lançá-lo em descrédito; a empáfia de Deus cessará. 

Contudo, não podemos usar a “técnica” de Oscar Wilde que disse: “Nunca leio um livro que vou criticar; temo ser influenciado.”

Precisamos de alguém que  leia e pratique os preceitos, uma vez que o Livro ensina que a virtude não consiste  em palavras. Sendo  um mal global, de promessas eternas, precisamos  uma experiência razoável; certa consistência ante o tempo; um ano, dois... Feito isso e comprovado  que as promessas  não se cumprem, denunciaremos a fraude; envergonharemos Deus e seus mensageiros. Imaginem que um, chamado MCcandlish Philips ousou dizer: “Você não põe o verdadeiro evangelho fora de combate com três ou quatro perguntas desajeitadas; suas ilusões vão ruir, destacando mais claramente a verdade.” O próprio Jesus  teria feito o desafio nos seguintes termos: “A minha doutrina não é minha, mas, daquele que me enviou; se alguém quiser fazer a vontade Dele, pela mesma doutrina conhecerá se é de Deus, ou, falo de mim mesmo.”  João.7; 16 e 17

Missão maior que minhas forças. É que pratiquei imperfeitamente; mesmo assim, encontrei paz, segurança, esperança, salvação, domínio próprio; mais;  sou tomado por um desejo muito forte que outras pessoas recebam o que recebi; invisto meus dons, para convencer alguns que Deus Vale à pena.


Então, solicito, “urbe et orbe”, auxílio de alguém melhor que eu; fracassei vergonhosamente; não sirvo para o papel...

Palavras de amor

“O amor é sofredor, é benigno; amor não é invejoso; amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses...” I Cor 13; 4 e 5  

Nesse breve “recorte” da excelsa definição de Paulo temos duas afirmações positivas e cinco negativas. É sofredor e benigno; não invejoso, leviano, soberbo, indecente, tampouco, egoísta. 

Dentre tanto pano pra manga, aí contido, deter-me-ei, por ora, na última tira: “... não busca seus próprios interesses...” Quantos conseguiriam viver algo belo assim?

Não só falhamos por ficarmos muito aquém, como, em muitos casos “nivelamos” o amor Divino ao nosso, como se Aquele também estivesse ao rés do chão. Por absoluta inépcia, ou, ignorância mesmo, desonramos Deus, justo, quando O pretendemos honrar. Digo, Ele faz algo extraordinário em socorro de um filho, presto apresentamos nossa “conclusão teológica”: “Deus deve ter um plano especial na vida de fulano para ter agido dessa forma.” 

Ora, isso é o nosso jeito de “amar”, cáspita! Mero interesse; investir onde se espera retorno. No início de Seus ensinos o Salvador colocou o dedo na ferida. “Amai aos vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons; a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? Se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus.” Mat 5; 44 a 48 

Essa mesquinharia na qual incorremos nem de perto se aplica ao Ser Santíssimo de Deus. Justo, por não buscar seu interesse, o amor é um péssimo investidor.  Esbanja-se sem cuidados, como fez o Filho Pródigo com sua fazenda. 

O mesmo Paulo testificou noutra parte: “Porque apenas alguém morrerá por um justo; poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova  seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores.” Rom 5; 7 e 8  Mais: Na Parábola do Semeador, O Mestre ilustrou três tipos de “desperdício” de semente, pelo prazer das poucas que cairiam em boa terra. 

Num sentido amplo, Deus tem um plano especial pra cada um; “Porque a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens.” Porém, salvará apenas aos que se adequarem aos Seus preceitos. “Ensinando-nos que, renunciando à impiedade, às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria,  justa e piamente,” Tt 2; 11 e 12  

A boa vontade para conosco, bem como, o amor de Deus, não bastam para que sejamos salvos; isso demanda nossa participação, como ensinou, mediante Ezequiel: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33;  11  

Contudo, nosso cuidado em corresponder ao Amor de Deus não é salvo conduto ante as intempéries da vida; “apenas” certeza de vida eterna. Alguns concluem que Deus ama mais, uns que outros, contemplando determinados dons, sem considerar o peso de suportá-los; por outro lado, questionam por que, certos homens de ótima reputação, caráter, terminam sua jornada aqui de modo trágico, como se, o amor Divino tivesse falhado em protegê-los.

Aos precipitados que fazem essa leitura, convém lembrar que, Deus “falhou” em proteger Seu próprio Filho, pois, às vezes o amor tem que “morrer para dar fruto”, como ensinou O Senhor.  

É mais que hora, pois, de um “Upgrade” em nosso entendimento, para, enfim, entender e viver o ágape de modo mais apropriado, como, pararmos de vez de “honrar” a Deus como se Ele fosse pequeno qual nós. 

No mesmo contexto onde exorta ao amor, aliás, Paulo insinuou que as mesquinharias interesseiras eram frutos de meninos espirituais. “Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.”  Cor 13; 11 

Em suma, convém meditarmos profundo no significado real de nosso “eu te amo”, antes de espalharmos tal perfume ao vento. Falando em perfume, quando Judas deplorou o “desperdício” de um, usou a imagem dos pobres, mas, o “Pobre” em questão era ele, egoísta, interesseiro. 

Quem quer aprender amar deve esquecer o “número se sua conta” e começar a depositar nas alheias. Fazendo isso terá um tesouro no céu. Ao buscar interesses alheios, os seus, serão “aleatoriamente” supridos. 

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Médico bêbado

“Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos; mas, que nunca foi lavada da sua imundícia.” Prov 30; 12 

Uma pecha atual mui difundida é chamar alguém de, sem noção. Se, atribuímos isso a um, qualquer, que mal avalia ações, palavras, quiçá, as consequências dessas, a Palavra de Deus expande a coisa de modo a atingir toda uma geração. Presunção de pureza disfarçando imundície. 

De onde se origina tamanha distorção? Ocorre-me uma frase de Henry Lacordaire: “O homem justo é honrado mede seus direitos com a régua de seus deveres.” Parece que o dito cujo é bom nesse negócio de ter noção.

Entretanto, a geração aludida nos Provérbios combina mais com a máxima de Charles Talley-Rand:"O mais lucrativo dos comércios seria comprar os homens pelo que valem e vendê-los pelo que julgam valer." O fato é que somos mui indulgentes para com nossas falhas, enquanto, severos com as alheias. 

A medicina age e receita medicamentos em função de um diagnóstico; o qual, deriva da leitura perspicaz dos sintomas; a alma enferma deveria saber ler esses indícios, caso, não fosse desprovida de noção. Muitos cometem coisas  abjetas e jactam-se: “Durmo com a consciência tranquila.” 

Nesses casos, a consciência, que está para a alma como o médico para o corpo, jaz, cauterizada entorpecida. Se alguém se submetesse à “análise” de um médico bêbado, não deveria estranhar se o tratamento agravasse, invés de sanar eventual doença. De igual modo, confiar no testemunho de uma consciência que, de tão habituada à mesquinhez, não sabe mais a diferença entre isso e bom caráter. 

Nossos caracteres não são corretamente mensurados em tempos de calmaria, antes, nos de revezes, quando as coisas  vão mal. A presumida integridade de tempo bom pode esvair-se ao assolar uma tempestade. 

Fiz pequena reforma em parte da casa, trocando o assoalho antigo por novo. Aparentemente nada de errado havia com o velho tablado; parecia suster tantos quantos coubessem no ambiente. Acontece que, fora atacado por cupins em tempos idos. Meu falecido pai estancara a praga, mas, o dano feito permaneceu na madeira. Mesmo parecendo íntegro num olhar superficial, não consegui tirar nenhuma tábua inteira; todas quebraram ao esforço da ferramenta, pois, sua inteireza era aparente, muitas, sequer para lenha prestaram. 

Assim se passa com muitas almas que ostentam presumido caráter, mas, fraquejam vergonhosamente à menor pressão da adversidade. Dessas dolorosas descobertas que vertem máximas como: “A ocasião faz o ladrão.” Na verdade não o faz; é só o “Pé de cabra”  que acaba revelando o dano dos cupins da cobiça. 

A excelência do caráter de Jó só foi revelado aos homens em meio a imensas agruras. Em seus dias prósperos só era visível ao Eterno. Sabendo de qual “matéria-prima” Seu servo era feito, O Santo permitiu que fosse testado às últimas conseqüências. 

Entretanto, aquilo que é patente ao Criador, muitos vezes nos está oculto. Assim, permite que sejamos testados, para que outros, e, sobretudo, nós, saibamos quais valores repousam em nossas almas. 

Isso quanto aos que professam crer no Senhor. Os que estão espiritualmente mortos, a preocupação primeira do Senhor é trazê-los à vida. 

Aos que afirmam Crer em Jesus, resta uma prova de fogo, como ensina Paulo: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. Se, alguém, sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará; porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual seja a obra de cada um.” I Cor 3; 11 a 13 

Então, não basta temos a consciência em silêncio; antes, que esteja viva, mesmo quê, eventualmente, nos acuse de erros. Que respeito há no silêncio de um morto?

Claro que é fácil sermos “puros” aos nossos próprios olhos, mas, nosso padrão de pureza é outro; “Quem  rejeitar a mim e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” Jo 12; 48 

Enfim, a pureza aos olhos Divinos necessariamente deriva dos preceitos de Sua palavra, como disse o salmista: “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme  tua palavra.” Sal 119; 9 

Concluindo; pouco importa se gostamos disso ou daquilo, e nada vemos de mal em determinada postura. Se colide com os ensinos da Palavra é imundo aos olhos do Santo. “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, a opressão não podes contemplar...” Hc 1; 13 

Muitas gerações abraçaram a perfídia, a violência, a luxúria; mas, nenhuma tanto quanto essa; seja nossa, pois, a advertência de Pedro: “Salvai-vos dessa geração perversa...”