domingo, 22 de fevereiro de 2015

Diamantes em fundas

“E tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas os nomes dos filhos de Israel... porás as duas nas ombreiras do éfode, por pedras de memória para os filhos de Israel; Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do Senhor.”  Êx 28; 9 e 12  

Embora memória seja abstrata, em dado momento carece de um “HD”. Algo palpável. Então, o Senhor ordenou que o manto sacerdotal contivesse doze pedras preciosas simbolizando as tribos de Israel. Assim, uma faculdade da mente seria estimulada também pelo auxílio das vistas. 

Desse viés natural em seres imanentes e transcendentes como nós, deriva o insano culto da idolatria. Confeccionar coisas visíveis para chegar às invisíveis. A questão não é o método, dado que o próprio Deus preceituou; antes, o mérito, uma vez que os ídolos cultuados são de gestação humana e concorrem usurpando o lugar que pertence ao Eterno. 

A própria celebração da páscoa dos judeus e da ceia dos cristãos, são “ídolos” do bem;  ritos que trazem à memória a salvação do Egito àqueles, e do pecado a esses. 

Vivemos dias difíceis no que tange aos domínios da memória; quanto maior a gama de dados assimilados, menor a chance de se evocar seletivamente. A velocidade da vida moderna, as amplas possibilidades de “relacionamento” virtual prendem nossas mentes num desfile linear ininterrupto, tolhendo os “breaks” cíclicos necessários ao exercício saudável da memória. Simplificando: Não paramos mais para pensar.  

Isso nos veta o rebuscar de coisas boas que são antídotos ao desânimo e estímulos à fé. Certa letra de um hino capta bem, pois, diz: “Conta as bênçãos, dize-as quantas são; recebidas da Divina mão; uma a uma; dize-as de uma vez, e verás surpreso quanto Deus já fez.” 

Às vezes, contudo, mesmo que “o mar vermelho” tenha sido aberto ante nossos pés, esquecemos; à menor contrariedade tendemos a duvidar dos cuidados do Santo. 

O Seu “HD” que nos humilha não O deixaria fazer isso. “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria que não se compadeça dele? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei;...” Is 49; 15 e 16 

Se alguém poderia duvidar, deprimir-se, dado o contexto, era o profeta das lágrimas, Jeremias; que profetizou e contemplou a derrocada de Jerusalém. Todavia, em meio aos seus muitos lamentos ainda fez bom uso da memória. “Disto me recordarei na minha mente; por isso esperarei. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é tua fidelidade.” Lam 3; 21 a 23 

Tiago, por sua vez denunciou aos de memória fugaz; ouvem a Palavra eventualmente, mas, não assimilam a ponto de praticarem; escoa entre os dedos da dispersão. “sede cumpridores da palavra,  não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque contempla a si mesmo, vai-se, e logo esquece de como era.” Tg 1; 22 a 24 

Acontece que expomos nosso “si mesmo” em fotos cuidadosas, nos melhores ângulos, para serem “curtidas”. E O Espírito Santo não entende nada de fotografia, quase sempre nos deixa mal quando nos revela. Na verdade possui outro conceito de beleza; santidade.

Assim, “publica” nossas fotos para nossas próprias consciências, para quê, advertidos devidamente e por Ele ajudados, possamos ficar bem na foto que será apresentada ao Pai, para que Ele curta. 

Então, enquanto o mundão não para sua célere produção de novidades, Ele segue buscando as mesmas coisas. 

Fico triste quando leio açodos de gente que não pensa e “filosofa” rumo ao hiper-ativismo dado que a vida é curta. Como se, o fim da mesma fosse fazer muitas coisas, invés das coisas certas. É fácil bravatear: “Só me arrependo do que não fiz.” Difícil é convencer a si mesmo sobre o travesseiro quando se fez uma besteira das grandes.

Aliás, outro efeito colateral das facilidades virtuais é que todo mundo virou mestre. Basta um control c control v no que gosta para sair vendendo “suas” verdades, que, na maioria das vezes desconhece. 

Nem se trata de memória fraca, mas, consciência cauterizada daquele que consegue praticar barbaridades morais, e vender “santidades” virtuais. 

Afinal, embora a fé seja o “firme fundamento das coisas que não se vê,” sua prática traz resultados visíveis. “Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.” 

A pedra que evoca o que Cristo fez é o testemunho de uma vida transformada. Sentenças sábias em vidas dissolutas não passam de pedras preciosas usadas em fundas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Felizes os que caem?

“Meus irmãos tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência.” Tiago 1; 2 e 3

Tal afirmação entendida de modo superficial pode dar azo a que se advogue a bênção sobre os que caem em tentações. A primeira parte do texto parece edificar a ideia. Entretanto, o verso seguinte desafia à prova da fé, que triunfaria mediante paciência. Então, o “cair em tentação” em foco, equivale a não pecar, antes, admitir internamente a ideia, mas,  cotejar tal desejo com o conteúdo da fé, e nesse esperar, graças ao amparo da paciência.

Adiante ele explica a gestação do pecado. “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas, cada um é tentado, quando atraído e engodado pela  própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado;  o pecado sendo consumado gera a morte.” Vs 13 a 15 

Vemos que há todo um processo interior “dando vida” a esse agente da morte. Cobiça vontade e ação. Essa última equivale a “dar à luz o pecado”; antes disso pode ser abortado em paciente espera e confiança em Deus. 

O “cair em tentação” que Tiago defende como motivo de gozo, pois, é resistir às nuances do mal que assedia; o gozo derivaria de tê-las, pacientemente vencido; não,  impiamente consumado. Afinal, ele mesmo, se expressa de modo mais claro sobre o tema: “Bem aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.” V 12 Não poderia, ele, com coerência, abençoar ao que cai como ao que suporta a tentação. 

Refere-se ao mesmo caso; o que assediado por maus desejos triunfa a eles e haure o gozo de sentir em seu espírito a vitória do Espírito Santo, o direcionando em fé mediante paciência. 

Nesses dias velozes de tanto ativismo, muitos pregadores de interesses terrenos disfarçados de celestiais transtornaram o sentido da Palavra de Deus; sobretudo, do quesito, fé.

Embora possa exercer vigoroso papel ativo, seu sentido é muito mais, passivo. Não é uma força que faz as coisas acontecerem como advogam os da “prosperidade”; antes, uma confiança irrestrita na Pessoa Bendita do Senhor, mesmo que, nossos sonhos não aconteçam; que nossas orações não sejam respondidas como esperamos. Afinal, se fé é provada com a régua da paciência, certamente os “centímetros” da mesma são feitos de tempo, de espera. 

Embora o tema central de toda epístola  seja advertência contra a duplicidade de ânimo, a paciência aparece como coadjuvante mui expressiva. 

Quanto aos ambíguos apresenta como doentes espirituais, portadores de corações sujos; “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Cap 4; 8 Vemos uma vez mais, a sutil diferença entre o pecado praticado, suja as mãos; e o pecado acariciado apenas no domínio dos desejos; suja o coração. 

A ideia subentendida é que, as pessoas se dispõem a esperar em Deus certo tempo; mas, impacientam-se ante anseios não supridos e partem para “soluções” naturais; leia-se, pecado. Isso lembra parte do Salmo onde Davi versa: “Por que te abates, oh minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois, ainda O louvarei.” Nesse colóquio consigo mesmo ele deixa transparecer que, o abatimento da alma derivava da impaciência; tanto quê, propôs como solução esperar em Deus. 

Mas, voltando a Tiago, ele evocou, enfim, o mais intenso exemplo de paciência das Escrituras, como argumento final, aos “bem aventurados” que se dirigia; disse: “Meus irmãos tomai como exemplo de aflição e paciência, os profetas, que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.” Cap 5; 10 e 11

Vemos que o fim foi escolha exclusiva do Senhor; não algo que Jó tenha “decretado” “determinado”; ou, pelo qual tenha feito “campanha, corrente”.  

Muitas vezes equacionamos fé com esperança, como se fossem iguais; embora tenham certo parentesco, a fé tem um objeto específico, Deus; como condicionante, que peçamos segundo Sua Vontade. A esperança é amoral; tanto coabita com ímpios, quanto, com santos. 

Desse modo, a esperança do cristão não deve “dar golpes no ar”, antes, alinhar-se a que foi proposto. “...tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;” Heb 6; 18.

Enfim, quando as tentações nos convidarem para “novas possibilidades”, a fé lembrará o que está proposto, para a devida assepsia da nossa esperança.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Desmascarando Deus

“Fiz coisas boas que me deram prejuízo; e coisas más, que me deram lucro.” (Graciliano Ramos)

Como versa a citação supra, o bem e o vantajoso, não têm, necessariamente, relação.
Dos temas contraditórios, nada se equivale à existência  de Deus. Pelo menos um Deus pessoal, que vise disciplinar a vida, segundo Sua vontade. 

Quanto a um “Deus” genérico, oco, não incomoda. Na verdade, serve de bengala. Contudo, se, evocado segundo Sua Palavra gera reações violentas, apaixonadas. Como se um ente maligno (seria Ele?) ferisse  mentes, dando azo a refutações desinteligentes, desconexas.

Uns, advogam que os crentes devem se atualizar, deixando postulados medievais; outros, afirmam que a Bíblia foi “atualizada” muitas vezes, de modo que já não guarda a Palavra original de Deus, que seria mais antiga. Há ainda os que não toleram ouvir a simples citação de textos bíblicos e nos acusam de intolerantes. Conceitos emitidos por Deus  são redefinidos como preconceitos. Pessoas desconhecidas, em razão de crerem de modo diverso são tachadas de hipócritas.  Se, apenas suas opiniões são conhecidas e não seus atos, a pecha não seria preconceituosa?

Enfim, a existência de Deus,  a ser confirmada, parece fazer mais mal que bem. Assim, acredito válida a tentativa de extirpar isso. Como se trata de mal universal deve ser cuidadosamente investigado; se possível, erradicado.

Vamos tentar, segundo  duas possibilidades: a) Deus não existe, trata-se de mito; b) Existe, mas, não é tudo isso.

Sabemos que o homem, malgrado sua veia criativa, não é um criador “ex-nihilo” ou seja: a partir do nada, antes,  manipulador do existente, daí  que “nada se cria, tudo se transforma.” Isso se dá, mesmo no campo das ideias, na tentativa de explicar e entender o transcendente. 

Qualquer homem, à luz de uma análise honesta, descobrir-se-á imperfeito. Natural que  mitos gregos, romanos, nórdicos etc. sejam deuses eivados de imperfeições; à imagem  de quem os criou, o homem. Aliás, foi por questionar a validade de tais “deuses” que Sócrates, o filósofo, encontrou a morte em Atenas.

Se, as projeções  humanas não podem exceder aos valores que o homem encontra em si, de onde teria surgido a ideia da perfeição? (Perdoem-me se faço o papel de advogado de Deus, mas, precisamos nos precaver.) Prosseguindo, com quê “matéria-prima” o homem elaborou um conceito tão nocivo à raça, bem como o mito de Jesus  que,  seria a fraqueza e loucura de Deus; contudo, resultou mais forte e sábio que todos os homens? Parece que um gênio maligno persegue a humanidade  lançando em rosto sua imperfeição  fazendo desejar o impossível.

Temos ateus por aí; é certo. Mas, alguém combateria o que não existe? Escrevem por convicção ou incerteza? No primeiro caso, porque não descansam, invés, de um engajamento tão difícil? Quererão  libertar multidões que estariam presas ao engano? Por quê? A ideia de amar ao próximo não seria um conceito de Deus? Ou, estariam  tentando cooptar mentes, fugir da solidão, para juntos  se aquecerem como os pinguins no rigor antártico? Talvez, se usarmos a ideia do mito, nossos adversários nos coloquem em muitas saias justas, como vimos.

Restaria a alternativa de que Deus exista, mas, não esteja com essa bola toda. Afinal, só porque teria criado esse universozinho teria direito de governar o mundo? Será que Ele sabe com quem está falando? Como esse falar deriva sempre daquele livro antiquado, basta lançá-lo em descrédito; a empáfia de Deus cessará. 

Contudo, não podemos usar a “técnica” de Oscar Wilde que disse: “Nunca leio um livro que vou criticar; temo ser influenciado.”

Precisamos de alguém que  leia e pratique os preceitos, uma vez que o Livro ensina que a virtude não consiste  em palavras. Sendo  um mal global, de promessas eternas, precisamos  uma experiência razoável; certa consistência ante o tempo; um ano, dois... Feito isso e comprovado  que as promessas  não se cumprem, denunciaremos a fraude; envergonharemos Deus e seus mensageiros. Imaginem que um, chamado MCcandlish Philips ousou dizer: “Você não põe o verdadeiro evangelho fora de combate com três ou quatro perguntas desajeitadas; suas ilusões vão ruir, destacando mais claramente a verdade.” O próprio Jesus  teria feito o desafio nos seguintes termos: “A minha doutrina não é minha, mas, daquele que me enviou; se alguém quiser fazer a vontade Dele, pela mesma doutrina conhecerá se é de Deus, ou, falo de mim mesmo.”  João.7; 16 e 17

Missão maior que minhas forças. É que pratiquei imperfeitamente; mesmo assim, encontrei paz, segurança, esperança, salvação, domínio próprio; mais;  sou tomado por um desejo muito forte que outras pessoas recebam o que recebi; invisto meus dons, para convencer alguns que Deus Vale à pena.


Então, solicito, “urbe et orbe”, auxílio de alguém melhor que eu; fracassei vergonhosamente; não sirvo para o papel...

Palavras de amor

“O amor é sofredor, é benigno; amor não é invejoso; amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses...” I Cor 13; 4 e 5  

Nesse breve “recorte” da excelsa definição de Paulo temos duas afirmações positivas e cinco negativas. É sofredor e benigno; não invejoso, leviano, soberbo, indecente, tampouco, egoísta. 

Dentre tanto pano pra manga, aí contido, deter-me-ei, por ora, na última tira: “... não busca seus próprios interesses...” Quantos conseguiriam viver algo belo assim?

Não só falhamos por ficarmos muito aquém, como, em muitos casos “nivelamos” o amor Divino ao nosso, como se Aquele também estivesse ao rés do chão. Por absoluta inépcia, ou, ignorância mesmo, desonramos Deus, justo, quando O pretendemos honrar. Digo, Ele faz algo extraordinário em socorro de um filho, presto apresentamos nossa “conclusão teológica”: “Deus deve ter um plano especial na vida de fulano para ter agido dessa forma.” 

Ora, isso é o nosso jeito de “amar”, cáspita! Mero interesse; investir onde se espera retorno. No início de Seus ensinos o Salvador colocou o dedo na ferida. “Amai aos vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons; a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? Se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus.” Mat 5; 44 a 48 

Essa mesquinharia na qual incorremos nem de perto se aplica ao Ser Santíssimo de Deus. Justo, por não buscar seu interesse, o amor é um péssimo investidor.  Esbanja-se sem cuidados, como fez o Filho Pródigo com sua fazenda. 

O mesmo Paulo testificou noutra parte: “Porque apenas alguém morrerá por um justo; poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova  seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores.” Rom 5; 7 e 8  Mais: Na Parábola do Semeador, O Mestre ilustrou três tipos de “desperdício” de semente, pelo prazer das poucas que cairiam em boa terra. 

Num sentido amplo, Deus tem um plano especial pra cada um; “Porque a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens.” Porém, salvará apenas aos que se adequarem aos Seus preceitos. “Ensinando-nos que, renunciando à impiedade, às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria,  justa e piamente,” Tt 2; 11 e 12  

A boa vontade para conosco, bem como, o amor de Deus, não bastam para que sejamos salvos; isso demanda nossa participação, como ensinou, mediante Ezequiel: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33;  11  

Contudo, nosso cuidado em corresponder ao Amor de Deus não é salvo conduto ante as intempéries da vida; “apenas” certeza de vida eterna. Alguns concluem que Deus ama mais, uns que outros, contemplando determinados dons, sem considerar o peso de suportá-los; por outro lado, questionam por que, certos homens de ótima reputação, caráter, terminam sua jornada aqui de modo trágico, como se, o amor Divino tivesse falhado em protegê-los.

Aos precipitados que fazem essa leitura, convém lembrar que, Deus “falhou” em proteger Seu próprio Filho, pois, às vezes o amor tem que “morrer para dar fruto”, como ensinou O Senhor.  

É mais que hora, pois, de um “Upgrade” em nosso entendimento, para, enfim, entender e viver o ágape de modo mais apropriado, como, pararmos de vez de “honrar” a Deus como se Ele fosse pequeno qual nós. 

No mesmo contexto onde exorta ao amor, aliás, Paulo insinuou que as mesquinharias interesseiras eram frutos de meninos espirituais. “Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.”  Cor 13; 11 

Em suma, convém meditarmos profundo no significado real de nosso “eu te amo”, antes de espalharmos tal perfume ao vento. Falando em perfume, quando Judas deplorou o “desperdício” de um, usou a imagem dos pobres, mas, o “Pobre” em questão era ele, egoísta, interesseiro. 

Quem quer aprender amar deve esquecer o “número se sua conta” e começar a depositar nas alheias. Fazendo isso terá um tesouro no céu. Ao buscar interesses alheios, os seus, serão “aleatoriamente” supridos. 

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Médico bêbado

“Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos; mas, que nunca foi lavada da sua imundícia.” Prov 30; 12 

Uma pecha atual mui difundida é chamar alguém de, sem noção. Se, atribuímos isso a um, qualquer, que mal avalia ações, palavras, quiçá, as consequências dessas, a Palavra de Deus expande a coisa de modo a atingir toda uma geração. Presunção de pureza disfarçando imundície. 

De onde se origina tamanha distorção? Ocorre-me uma frase de Henry Lacordaire: “O homem justo é honrado mede seus direitos com a régua de seus deveres.” Parece que o dito cujo é bom nesse negócio de ter noção.

Entretanto, a geração aludida nos Provérbios combina mais com a máxima de Charles Talley-Rand:"O mais lucrativo dos comércios seria comprar os homens pelo que valem e vendê-los pelo que julgam valer." O fato é que somos mui indulgentes para com nossas falhas, enquanto, severos com as alheias. 

A medicina age e receita medicamentos em função de um diagnóstico; o qual, deriva da leitura perspicaz dos sintomas; a alma enferma deveria saber ler esses indícios, caso, não fosse desprovida de noção. Muitos cometem coisas  abjetas e jactam-se: “Durmo com a consciência tranquila.” 

Nesses casos, a consciência, que está para a alma como o médico para o corpo, jaz, cauterizada entorpecida. Se alguém se submetesse à “análise” de um médico bêbado, não deveria estranhar se o tratamento agravasse, invés de sanar eventual doença. De igual modo, confiar no testemunho de uma consciência que, de tão habituada à mesquinhez, não sabe mais a diferença entre isso e bom caráter. 

Nossos caracteres não são corretamente mensurados em tempos de calmaria, antes, nos de revezes, quando as coisas  vão mal. A presumida integridade de tempo bom pode esvair-se ao assolar uma tempestade. 

Fiz pequena reforma em parte da casa, trocando o assoalho antigo por novo. Aparentemente nada de errado havia com o velho tablado; parecia suster tantos quantos coubessem no ambiente. Acontece que, fora atacado por cupins em tempos idos. Meu falecido pai estancara a praga, mas, o dano feito permaneceu na madeira. Mesmo parecendo íntegro num olhar superficial, não consegui tirar nenhuma tábua inteira; todas quebraram ao esforço da ferramenta, pois, sua inteireza era aparente, muitas, sequer para lenha prestaram. 

Assim se passa com muitas almas que ostentam presumido caráter, mas, fraquejam vergonhosamente à menor pressão da adversidade. Dessas dolorosas descobertas que vertem máximas como: “A ocasião faz o ladrão.” Na verdade não o faz; é só o “Pé de cabra”  que acaba revelando o dano dos cupins da cobiça. 

A excelência do caráter de Jó só foi revelado aos homens em meio a imensas agruras. Em seus dias prósperos só era visível ao Eterno. Sabendo de qual “matéria-prima” Seu servo era feito, O Santo permitiu que fosse testado às últimas conseqüências. 

Entretanto, aquilo que é patente ao Criador, muitos vezes nos está oculto. Assim, permite que sejamos testados, para que outros, e, sobretudo, nós, saibamos quais valores repousam em nossas almas. 

Isso quanto aos que professam crer no Senhor. Os que estão espiritualmente mortos, a preocupação primeira do Senhor é trazê-los à vida. 

Aos que afirmam Crer em Jesus, resta uma prova de fogo, como ensina Paulo: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. Se, alguém, sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará; porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual seja a obra de cada um.” I Cor 3; 11 a 13 

Então, não basta temos a consciência em silêncio; antes, que esteja viva, mesmo quê, eventualmente, nos acuse de erros. Que respeito há no silêncio de um morto?

Claro que é fácil sermos “puros” aos nossos próprios olhos, mas, nosso padrão de pureza é outro; “Quem  rejeitar a mim e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” Jo 12; 48 

Enfim, a pureza aos olhos Divinos necessariamente deriva dos preceitos de Sua palavra, como disse o salmista: “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme  tua palavra.” Sal 119; 9 

Concluindo; pouco importa se gostamos disso ou daquilo, e nada vemos de mal em determinada postura. Se colide com os ensinos da Palavra é imundo aos olhos do Santo. “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, a opressão não podes contemplar...” Hc 1; 13 

Muitas gerações abraçaram a perfídia, a violência, a luxúria; mas, nenhuma tanto quanto essa; seja nossa, pois, a advertência de Pedro: “Salvai-vos dessa geração perversa...”

sábado, 24 de janeiro de 2015

A cruz de plástico

“Vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.” I Tess 1; 6 

Tribulação e gozo; como podem duas coisas tão adversas habitarem no “mesmo” espaço? O Senhor ensinou a substituição da tristeza pela alegria, em face aos frutos gestados pela dor. “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis; o mundo se alegrará, vós estareis tristes, mas,  vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada  sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.” Jo 16; 20 e 21

Isso acontece com muitos, mesmo no âmbito natural; é de fácil compreensão. Entretanto, Paulo falando aos tessalonicenses apresenta tribulação e gozo concomitantes. 

Se há um aspecto pouco compreendido por muitos é o da dupla natureza que passam a ter os salvos. Se, nasceu duas vezes, necessário é que, haja dois seres resultantes desses partos. Esses, contudo, moram de “parede e meia”, habitam no mesmo corpo. Sendo assim, um pode sentir dor, outro, gozo, numa mesma porção de tempo. 

Vejamos um exemplo disso: “Chamando os apóstolos, tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus e os deixaram ir. Retiraram-se, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus.” Atos 5; 40 e 41 Claro que açoites doem! Contudo, estavam regozijando em espírito, dado o sentido que auferiram do ódio  adverso.

Acontece que, nossa parte suscetível às dores que podem ser impingidas por outros é precisamente a faceta que deve morrer. Nossa cruz difere da do Salvador, uma vez que Ele derramou Seu sangue literalmente; enquanto de nós se requer a sujeição das paixões naturais à Vontade do Senhor. Mortificar, negar-lhe a primazia sobre nossas entradas e saídas no teatro da vida é precisamente, nossa cruz.

Esse aspecto biodegradável e suas dores, não atinge ao espiritual, necessariamente, pois, é imune à ação do tempo e não se alquebra às mazelas do corpo. “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova dia a dia.” II Cor 4; 16 

Se, aos judeus foi considerado adultério deixar a Graça e volver aos reclames da Lei; o que seria, o “evangelho” que tenta agradar à carne que deveria morrer e dar lugar ao Espírito? Paulo foi didático sobre o primeiro ponto: “De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei; assim, não será adúltera se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus.” Rom 7; 3 e 4 

Tiago, por sua vez, abordou o segundo: “Pedis, não recebeis, porque pedis mal, para gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4; 3 e 4 

Mesmo sendo o corpo o agente a coisa é considerada adultério espiritual; há também um espírito que move o curso desse mundo, ao qual, somos exortados a contrariar. “... noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, espírito que opera nos filhos da desobediência.” Ef 2; 2 

Então, o homem espiritual vive sua constante “piracema” contra  inclinações naturais que arrastam tudo rumo ao mar de lama da impiedade. Natural que seja difícil sua opção, afinal, seguir à manada  é mais fácil que separar-se. 

Se, a renúncia natural e a oposição do príncipe do mundo nos atribulam, Deus nos reserva o antídoto do gozo espiritual, para que entendamos Seus cuidados, e, imenso amor.

O evangelho sem cruz que tantos pregam não é invenção da pós-modernidade; antes, um intruso que, já nos dias de Paulo mostrava suas garras. “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; Deus é o ventre, e a glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” Fp 3; 18 e 19 

O homem  prudente deve desconfiar dos mensageiros de facilidades, do gozo sem tribulações. O que nos está proposto é profundo demais, para ser tratado de modo tão superficial. 

Sem cruz não há salvação; sem dores a cruz é de plástico. Aos que imaginam facilidades convém lembrar que, Deus não habita num céu imaginário.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Amadureça suas escolhas



“É necessário, que, dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da ressurreição.” Atos 1; 21 e 22 

Embora o fim fosse a Obra de Deus, eu diria que foi uma escolha humana. “Dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós..” O lapso deixado por Judas deveria ser preenchido por alguém com credenciais para ser testemunha. Apresentaram dois, José e Matias, a sorte caiu sobre o último. A Bíblia não veta que façamos escolhas, apenas, exorta que sejamos consequentes. 

Adiante, nova escolha, dessa vez, em plena atuação do Espírito Santo; diáconos. Essa, um consórcio Divino humano; a plenitude do Espírito como credencial e ausência de óbices humanos; “homens de boa reputação”. “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.” Cap 6; 3 Se, a escolha ainda era humana e a credencial Divina, parece pacífica a conclusão que se tratou de uma parceria. Claro que, fazermos escolhas associados com o Santo requer uma comunhão mui estreita. 

Estevão, embora separado para mero servidor revelou-se um excelente evangelista, pleno de conhecimento e ousadia, o quê, lhe custou a vida, aos pés do zeloso Saulo. 

Por falar nele, chegamos a uma escolha “Irracional” que homem algum faria. O inimigo declarado, violento contra a Obra de Deus, era a “pedra” sorteada da vez. Claro que, antes, Deus teve dar uns “tratos à bola” derrubando-o do cavalo, privando-o da visão por três dias, para que, no escuro natural a luz espiritual encontrasse caminho. 

Tanto era sem nexo que, quando Ananias foi incumbido de orar por Saulo, recusou, temendo o que significara até então. Nesse instante, Jesus assumiu a paternidade da “incoerência”; “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel. Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome.” Cap 9; 15 e 16

Claro que, nesse ínterim temos as escolhas de Cornélio, do Eunuco etíope, para a salvação; dois que se inclinavam em seus corações a Deus, mas, faltava um empurrãozinho. Contudo, as escolhas pré alistadas têm em comum que, seu prisma era ministerial; não atinavam à conversão, ainda que se deu com Paulo.  

Por fim, aqueles que escolheram a si mesmos sem as devidas credenciais. Saíram edificando sobre trabalho alheio, propondo coisas superadas como necessárias à salvação. Seu estrago foi tal que, deu azo a um concílio apostólico para devida correção. 

Os preceitos resultantes da reunião, além dos necessários reparos, deixaram claro que os tais não foram escolhidos para o ministério. “Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras, transtornaram as vossas almas, dizendo que deveis circuncidar-vos e guardar a lei, não lhes tendo nós dado mandamento;” Cap 15; 24

Tanto pode Deus ver um ministro idôneo onde parece haver um inimigo, como em Paulo, quanto, podem fazer a obra do inimigo os bem intencionados, mas, sem noção, que metem os pés pelas patas, ao desejarem algo elevado, sem o devido preparo. 

A escolha ministerial é louvada como excelente; contudo, demanda alguns predicados quê, se  não possuímos, devemos tratar de consegui-los, antes de por a mão no arado. se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância ...” I Tim 3; 1 a 3 

Nosso direito de escolha é sagrado; mesmo ante o aparente óbvio, como um cego que o buscou, Jesus perguntou o quê ele queria.

Escolhas inconsequentes afetam toda  vida. Quantas mulheres escolheram pela casca; casaram com um “gato” que hoje deixa faltar “Wiskas”? Quando Samuel cogitou um rei entre os “sarados” filhos de Jessé, Deus o advertiu: “o Senhor não vê como vê o homem; o homem vê o que está diante dos olhos, porém, o Senhor olha para o coração.” I Sam 16; 7

Quando o loquaz Pedro reiterou seu amor a Cristo, O Senhor advertiu sobre o preço da escolha: “...quando eras mais moço,  cingias a ti mesmo, andavas por onde querias; mas, quando  fores velho, estenderás as tuas mãos, outro te cingirá,  te levará para onde  não queiras.” Jo 21; 18 

Uma pessoa imatura pensa que todas as suas escolhas geram ganhos. Uma pessoa madura sabe que todas as escolhas tem perdas.” Augusto Cury