Mostrando postagens com marcador vida e arte. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vida e arte. Mostrar todas as postagens

domingo, 1 de março de 2020

O pecado em prosa e verso


“Certas coisas só são amargas se a gente as engole.” Millôr Fernandes

Ouvindo uma dessas músicas que ouço passivo, por iniciativa da vizinhança, há pouco, o refrão duma me chamou atenção; dizia: “Mas quem é que não tem uma outra, pra equilibrar a vidinha? Arroz com feijão enjoa, sempre é bom uma misturinha.”

Se, como poesia a construção até que é interessante, do ponto-de-vista moral, trata-se de uma canção de louvor ao adultério, à perfídia, à traição.

O pior é que, mesmo quem não é dado à prática adúltera canta junto essa bosta, como que, seduzido pela eufonia; age como se, a defender o que não defenderia estando no uso do devido senso crítico, mais cauteloso das implicações.

Lembrei-me do diálogo filosófico, “A República” de Platão, onde, Sócrates e seus discípulos “construíam” a cidade ideal, da qual baniriam músicas com ritmos malemolentes que, incentivassem à preguiça; e, com letras, como essa, cujo discurso “enobrecesse” ao vício, ou falsificasse à realidade atribuindo às coisas, ou aos deuses, características indevidas. Mesmo uma poesia de Homero, se não me engano, que atribuiria mentira aos deuses deveria ser banida, pois, “se são deuses não mentem; se mentem não podem ser deuses” afirmavam.

Muitos dizem que a vida imita à arte, quando, na verdade essa é um subproduto daquela. Normalmente vestimos com a gala da arte as práticas que adotamos, ou, aprovamos nos meandros da vida.

Denunciando a um estado de coisas assim, onde o pecado já não constrange mais, Isaías pronunciou um ai, da parte de Deus. “O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos.” Is 3;9

Segundo William Barclay, mestre em grego, “Aselgeia” é uma palavra grega que foi traduzida para o português como dissolução. Há um estado antes disso, quando uma pessoa, por refém de paixões malsãs, até pratica coisas réprobas, mas à medida do possível disfarça isso, esconde; envergonha-se. Aselgeia, segundo ele, era quando as pessoas faziam coisas de má fama publicamente; não se envergonhavam de não ter vergonha; fiz mesmo e daí? É o estado moral de quem canta o vício em prosa e verso.

Se, como vaticina A Palavra, “Tudo o que o homem semear, isso ceifará”, todo o mal praticado, no fundo, é um mal feito a si mesmo, como teceu em suas considerações o sábio Salomão. Dos ladrões e salteadores disse: “... estes armam ciladas contra seu próprio sangue; espreitam suas próprias vidas. São assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça: ela põe a perder a alma dos que a possuem.” Prov 1;18 e 19

Então, nem todos têm “uma outra”; alguns, aliás, não têm nenhuma, nem por isso saem promíscuos por aí à torto e a direito, como se, praticar pecados de toda ordem lhes fosse um direito.

Vergonhosamente chegamos a uma época tão desprovida de bons valores, que, como dizia o humorista Batoré, “pensam que é bonito ser feio.” O “Galinha”, o “pegador” é admirado, invés de ser motivo de vergonha como seria numa sociedade espiritualmente sadia.

A promiscuidade é exibida com orgulho nas redes sociais; estar em muitas festas, uma em cada final de semana, diversificando muuuito o “cardápio” tem sido a prática airosa de tantos que vivem sua “aselgeia” século 21. Homens e mulheres, diga-se.

Não raro, esses mesmos que vivem sem raízes e sem valores, ao sabor dos ventos das paixões desregradas, postam em momentos mais sérios sobre o valor, o porto seguro da família, embora, vivam como se suas embarcações fossem derivar eternamente sem necessidade desses portos. Além de faltar vergonha, nesses casos falta coerência, bom senso, equilíbrio.

O que esses inconsequentes chamam de “curtir à vida” a Bíblia adjetiva como servidão ao pecado, subproduto do medo da morte, pesos que já não incidem sobre os que foram libertos por Cristo; “Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda vida sujeitos à servidão.” Heb 2;14 e 15

Esse medo é disfarçado de “curtição”, pois, no fundo sabem que nada de bom os espera no além; enquanto os salvos deveriam esperar pouco da vida aqui, se, de fato são herdeiros das riquezas eternas; “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

Em suma, praticar adultério não serve pra “equilibrar a vidinha”; uma vez que um morto não para em pé, tampouco precisa de equilíbrio para estar em seu jazigo moral.

segunda-feira, 27 de março de 2017

O amor em apreço

“Muitas águas não podem apagar este amor, nem, rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente, desprezariam.” Cant 8;7

Isso de se colocar filosoficamente o amor, como mais valioso de todos os bens, é recorrente em nossa cultura; tema de tantas canções, poemas... entretanto, embora se diga que a vida imita a arte, muitas vezes, o que a arte emoldura como um quadro de raro valor, nem sempre, a vida aprecia devidamente a beleza de tal obra.

Por ser uma “isca” infalível na pesca de afeições, a palavra amor tem sido mercadejada, usada a torto e a direito por quem, sequer conhece sua essência. Nas novelas que o vulgo assiste, que duram pouco mais de meio ano, os protagonistas amam e desamam três ou quatro vezes, como se, a duração do vero amor fosse como a vida das borboletas, efêmera, breve.

Infelizmente, na maioria dos casos, quando alguém diz a outrem, “Eu te amo”, no fundo, o que está dizendo é: Me amo, e quero tal presente para mim. Faz da pessoa “amada” objeto de seu prazer, assim, usa-a como coisa, a qual, descarta breve, ao descobrir outra “coisa” que passa a lhe interessar mais, atrair mais que aquela que, pelo convívio, certa rotina, já não tem os mesmos apelos que, antes. Desse modo, o “amor acaba” e bate suas asas.

Lembrei de passagem um fragmento do livro “O Banquete” de Platão, onde os filósofos fazem uma mesa redonda para definirem em palavras, esse deus, o amor. Um deles, não lembro o qual, faz distinção entre dois tipos de amor, um, terreno, natural, outro, urânio, celestial. Feito isso, diz, mais ou menos, o seguinte: “É mau aquele amante popular que ama o corpo mais que a alma, pois, funde-se a algo que é efêmero. Com efeito, uma vez finda a beleza do corpo que era o que ele amava, alça seu voo sem nenhum respeito às muitas palavras e promessa feitas. Por outro lado, bom é o amante celestial, pois, funde-se à alma que é eterna, assim, tal tipo de amor não sofre a ação do tempo."

Devia ter em mente algo assim, Paulo, quando escreveu: “O amor jamais acaba...” Infelizmente, separações acontecem por razões que não cabe enumerar aqui, mas, são, ou, deveriam ser, exceções, não regra como se verifica em muitos casos. Pessoas famosas como Chico Anísio, Fábio Júnior, Ronaldo, chegam a uma dezena de matrimônios, sem falar em Gretchen, que está em seu décimo sétimo casamento. Como vemos, o “amor” acabou muitas vezes.

Ora, o que tem prazo de validade é a paixão, esse truque que O Eterno implantou em nós, como precursor do amor, para que formemos famílias, geremos filhos, perpetuemos a espécie. Como João Batista, vem na frente, prepara o caminho, mas, vindo “O Messias” o amor, fala: “Convém que ele cresça, e eu diminua.” Claro que é delicioso estar apaixonado, mas, isso dura certo tempo, dentro qual, devemos aprender a amar deveras, a pessoa por quem nos apaixonamos, com suas qualidades e defeitos. A paixão, essa torrente furiosa põe as qualidades em placas de neon, os defeitos sob opacas vidraças, mas, todas as pessoas são normais, imperfeitas, e, saindo pouco a pouco, de cena a paixão, o amor que é mais sábio e equilibrado, consegue andar lado a lado com quem escolheu, sendo como é.

Não é essa coisa pueril que, “quem ama não vê defeitos”; vê, mas, não os potencializa, antes, entende, supera e busca crescer junto, ciente que, também é imperfeito. Sentimento fortuito, é a paixão; amor é uma escolha, uma decisão moral, que, muitas vezes labuta com certos sentires adversos, decepções, mas, pelo prazer de seu delicioso fruto, suporta certas ervas daninhas, que pacientemente erradica.

O Senhor falou que Sua volta se daria num cenário como o atual, onde as pessoas “Casavam e davam-se em casamento” alheias a Ele. Sempre se fez isso, casar, mas, nunca de forma tão fútil e efêmera como agora. A coisa se tornou como determinados brinquedos do parque, onde, a pessoa experimenta uma vez, se não gostar tenta em outro. Sai da montanha russa para o barco pirata, desse para a roda gigante, etc.

Se, o amor a Cristo demanda a renúncia de si mesmo pela Vontade Dele, o amor conjugal tem muito disso também. A renúncia do nosso “direito” de querer as coisas do nosso jeito, em atenção ao anseio de quem amamos. Como será se ela ( ele ) agir assim também? O Amor jamais acaba. Se achamos, que o amor é mesmo, o mais precioso dos bens, está na hora de o tratarmos como tal; pararmos de usar diamantes na funda, amarmos deveras.