“A
minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei
na amargura da minha alma. Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes
comigo.” Jó 10;1 e 2 Jó, no auge da angústia, invés de usá-la como pretexto
para maus passos, fez dela motivo de oração. Se, decidiu que iria dar curso à
sua queixa, o faria a quem poderia resolver, Deus. Primeiro, usaria uma
súplica: “Não me condenes”; depois, iria inquirir ao Santo: “Faze-me saber por
que contendes comigo”.
O fato é que, as
inclinações internas de cada um tendem a impulsioná-lo em momentos de crise.
Quem tem por hábito temer, cultuar a Deus, a Ele recorrerá. Quem é propenso aos
vícios, dissolução, usará um mau momento como pretexto para mergulhar na lama
que gosta, afinal, “me esforcei e não deu certo”, dirá. Ora, esforço se faz,
justo, quando as coisas não dão certo, afinal, quando tudo vai bem, todos os
ventos conspiram, sequer dele necessitamos para singrar tais águas.
Acontece que, tendemos a
absolutizar o ensino de que, cada um colhe o que planta. Isso não é bíblico? É.
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque
tudo o que o homem semear, isso, também ceifará.” Gál 6;7 Entretanto, o verso
seguinte aponta para o tempo da colheita: “Porque o que semeia na sua carne, da
carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a
vida eterna.” Assim, tanto a corrupção da carne, quanto, a Vida Eterna, demandam
certo tempo, de modo que a ceifa não acontece ao açodo de nossas expectativas
imediatistas.
Porém,
voltando a Jó, não era exatamente O Criador que contendia com ele. Havia uma
contenda entre O Eterno e o inimigo, sobre a fidelidade do servo. Ele, posto
que, “Reto temente a Deus, que se desviava do mal”, estava no centro de um
pleito milenar. Deus o tinha por fiel em qualquer circunstância; o inimigo
alegava que era mero interesseiro, de modo que, se as bênçãos do Senhor fossem
removidas, a fidelidade sumiria. Deus permitiu que o inimigo lhe tocasse, para
que ficasse demonstrado quem tinha razão.
Desse modo, se
é certo que, no devido tempo teremos a colheita fiel, consoante com nossa
semeadura, circunstancialmente, temos que conviver com “injustiças” de Deus, e
injustiças do inimigo. Como, de Deus? Ora, coloquei essa entre aspas, pois,
difere da do inimigo. Se, Deus nos tratasse em justiça estaríamos perdidos. Nos
desse apenas o que merecemos sairia de cena Sua Majestosa Graça. “Mas se é por
graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça...” Rom
11;6 Assim, Deus não é Justo com os salvos; é mais que isso: Gracioso,
benevolente, misericordioso. O Preço pago por Jesus Cristo satisfaz à Sua
Justiça, e aos arrependidos e fieis, justifica, mas, segue o fato que, somos
pecadores injustos.
Contudo, a
carreira dos salvos sofre o concurso da oposição. E, quando, depois de perdoados,
justificados, mudam seu jeito de ser, segundo Cristo, entra em cena a “graça”
do diabo. Digo, se, por um lado a bondade de Deus nos dá muito mais do que nossos
méritos, dado que, injustos, pelo lado oposto, a maldade do traíra nos dá muito
mais do que merecem nossas culpas, posto que, perdoados; atribula tanto, quanto
pode, para que, ao peso de tais tribulações fraquejemos, e deixemos o caminho.
Assim, o sofrimento dos “justos” é a confissão do diabo de que perdeu domínio
sobre aqueles; que tais, foram conquistados pelo Salvador.
Ele não
omitiu que passaríamos por isso, mas, considerou mera semeadura, cuja colheita
viria no Reino dos Céus. “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando
vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por
minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus;
porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mat 5;10 a 12
Enfim, nem a
colheita se dá no tempo que ansiamos, tampouco, a resposta de Deus aos nossos
pleitos, ainda que, legítimos, como fora o de Jó. Invés de responder ao porquê
da contenda, O Santo fez uma série de perguntas que fizeram seu servo levar a
mão à boca e silenciar.
Porém,
satisfeito o propósito Divino, abençoou duplamente ao servo fiel, e respondeu a
tudo desde o início; senão, não teríamos a história contada em suas minúcias
como a temos.
Concluindo,
se a bem aventurança eterna aguarda aos, hoje, fieis, circunstancialmente, as
lutas os assolarão, tanto, quanto, mais dedicados ao Senhor se mostrarem. Pois,
o astuto inimigo não gasta suas setas contra alvos mortos.