“Então sua
mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.”
Jó 2;9
Catástrofes “naturais”
haviam dilapidado o patrimônio de Jó, matado seus filhos; por fim, sua saúde
também fraquejava, ferido por úlceras. Sua mulher que, tudo indica, silenciara
inicialmente, estava achando que, Deus fora longe demais. Sim, se à quebra da
sinceridade de Jó, associava a blasfêmia contra Deus, por certo, atribuía a Ele
as desventuras.
Quem conhece
a história sabe que não era bem assim. Contudo, não pretendo me deter sobre a
saga de Jó, por ora, mas, sobre outro aspecto que assoma do texto citado. Até
onde devemos ser fiéis, sinceros com Deus, e quando devemos “romper o contrato”?
Em face a
essa onda moderna de uma “fé” pragmática, um “cristianismo” de resultados
palpáveis, parece oportuno identificarmos a fronteira onde a coisa deixa de ser
“bom investimento” e se torna “mico”, na linguagem do mercado financeiro.
A “bolsa de
valores espirituais” apresenta como um gráfico em alta, a “falência” de muitos
investidores, chamados de “heróis da fé”. Vejamos: “...experimentaram
escárnios, açoites, até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados,
tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas, de
cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, montes, pelas covas e cavernas da terra. Todos estes,
tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa;” Heb 1;36 a 39
Deveriam ter
seguido o conselho da mulher de Jó, saltado fora, antes, talvez... Enfim, até
onde devemos resistir, a Palavra nos dá alguma pista? No prisma do sofrimento,
a mesma epístola traz; “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o
pecado.” Cap 12;4 Agora, se o aferidor preferido for o tempo, a receita está
noutra parte; “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis
de todos os homens.” I Cor 15;19
Então, mesmo
permitindo que nossa vida seja ceifada, O Eterno nunca passa do limite, pois, o
tempo é limite “debaixo do sol” não para Aquele que habita na luz inacessível.
Quem devaneia com uma “conversão” investimento, condicional, tipo, fico até
quando “der certo”, nem entre, dará tudo errado.
Outro dia
ouvi: “Me esforço muito, mas, as coisas não dão certo.” Pode ser; a questão é
saber quais coisas tem em mente esse tipo de “convertido”. Primeiro, o “esforço”
dos tais consiste em ir a determinada igreja; ora, esforço para agradar a Deus
se faz nas horas de tentações, que devemos resistir. Na igreja vamos adorar.
Segundo, o “dar certo” que muitos fantasiam deriva da emulação pelos “testemunhos
de vitória” de uns que prosperaram muito após certos rituais.
Conversão é
mudança de mente, ações; entrega incondicional, ruptura com o passado, não para
ganhar algo no fim do ano, como os bons meninos, do “Papai Noel”, mas, agradecidos
pelo que ganhamos, agora, quando perdoados e transferidos da morte para a vida.
O verdadeiro
convertido corre para Cristo explodindo pontes atrás de si. “Muitos dos que seguiam
artes mágicas trouxeram seus livros, e os queimaram na presença de todos; feita
a conta do preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata.” Atos
19;19 Não guardaram uns livrinhos de feitiçaria nalgum cantinho obscuro para
volverem ao “plano B”, caso o “A”, falhasse. Entregar-se ao Senhor requer
confiança; confiar duvidando, no fundo, é negar. Quem acha que o paraquedas não
vai abrir, nem salte.
Eliseu,
ciente da chamada profética fez algo notável: “Voltou, pois, tomou a junta de
bois, e matou, com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, deu ao povo, comeram;
então, levantou, seguiu a Elias, e o servia.” I Rs 19;21 “explodiu a ponte” por
onde poderia tornar atrás, matou os bois, queimou as tralhas e seguiu resoluto.
Assim sim, diria o Chaves.
Voltando, até
onde estamos dispostos a ir? Quem não pode dizer como Paulo, “viver é Cristo e
morrer é ganho”, ainda não se converteu deveras.
Deus não promete nos livrar
nessa vida, ainda que, muitas vezes o faça. Aqueles “falidos" d’antes esperam
por nós; muitos, poderão chegar ao encontro com cicatrizes semelhantes. “Provendo
Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem
aperfeiçoados.” Heb 11;40