“Retendo
firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto
para admoestar com a sã doutrina, quanto para convencer aos contradizentes.” Tt
1; 9
Escrevendo a Tito Paulo enumerou algumas qualidades desejáveis dos futuros
presbíteros, e, em dado momento chegou ao preceito supra. “Retendo firme a fiel
palavra...”
Firmeza, eis uma qualidade nem sempre presente nas almas humanas.
Grosso modo, a maioria é volúvel, volátil, fugidia ao sabor das circunstâncias.
Não por acaso, uma das qualidades do cidadão dos céus é constância, mesmo às
circunstâncias adversas. “... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda...”
Sal 15; 4
O Eterno queixa-se contra Judá e Efraim, que, em certos momentos
juravam amor, mas, ante a menor contrariedade esqueciam. Usa uma bela figura
poética; diz: “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa
benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo
passa.” Os 6; 4 Sim, o orvalho se desfaz aos primeiros raios do sol; de igual
modo, declarações de fé superficiais aos primeiros ventos de contrariedades.
Se
é vero que o surgimento de João Batista causou frisson em Israel, dado o
deserto profético de 400 anos onde surgiu, também o é que, passada a empolgação
inicial, muitos começaram a duvidar de seu testemunho.
Não houve mudança nele,
tampouco, em sua mensagem; antes, expectativas humanas errôneas não se
cumpriram, enquanto, as Divinas estavam em pleno curso. Jesus se ocupou de
reiterar a firmeza espiritual do maior dos profetas. “ partindo eles, começou
Jesus a dizer às turbas, a respeito de João: Que fostes ver no deserto? uma
cana agitada pelo vento?... Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm
nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas, aquele que é o
menor no reino dos céus é maior do que ele.” Mat 11; 7 e 11
A mesma figura do “mutante”
espiritual ser um agitado pelo vento é usada por Paulo quando escreve aos
cristãos de Éfeso. Depois de alistar dons ministeriais, e preceituar a
necessária edificação expõe o motivo: “Até que todos cheguemos à unidade da fé,
ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em
redor por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia
enganam fraudulosamente.” F 4; 13 e 14
A consequência da firmeza receitada não
é nada desprezível, pois, disse: “para que seja poderoso, tanto para
admoestar com a sã doutrina, como para convencer contradizentes.” Firmeza na
verdade conduzindo ao poder.
A ideia vulgar de poder, entretanto, não é essa.
No prisma espiritual muitos associam à operação de sinais; no secular, galgar
níveis de autoridade. Mas, o foco aqui é poder na dimensão espiritual. Nessa
peleja, todos os projéteis da mentira fracassam ante a blindagem da verdade.
Embora a verdade às vezes nos constranja, envergonhe, é a arma favorita do Todo
Poderoso, que a fez poderosa também: “Porque nada podemos contra a verdade, senão,
pela verdade.” II Cor 13; 8
A eficácia da mentira é biodegradável; seu
prazo de decomposição se altera ao alvitre de algumas variáveis, mas, amiúde,
sempre apodrece; as que o PT vem contando à nação a treze anos, por exemplo,
perderam totalmente sua capacidade de seduzir; os fatos, a verdade, trituram as
falácias como o moinho faz com o trigo.
Assim, embora o engano, a mentira até
logrem certo poder, vale apenas no reino das aparências; dizem que a mentira
tem pernas curtas, embora, suspeito que sequer pernas tem; antes, é levada por
seus seguidores no opaco andor das paixões cantando o hino das perversas conveniências.
Mas, voltando à verdade, ela é útil para admoestar segundo a doutrina, antes de
convencer aos contradizentes. Ou seja: Exerce internamente seu poder na
purificação do rebanho pra depois explorar limites externos buscando crescer.
Pureza primeiro, após, grandeza; qualidade antes que quantidade.
Pois, convencer
a outrem é fácil, basta ludibriar suas defesas com o invólucro de argumentos persuasivos;
contudo, convencer a si mesmo de modo a silenciar aos reclames da consciência, apenas
a verdade consegue. E fugir disso equivale ao naufrágio espiritual. “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando,
fizeram naufrágio na fé.” I Tm 1; 19
É possível cauterizar à consciência por
não querer ouvir; uma espécie de suicídio espiritual. Contudo, sua voz sempre
denunciará nossos erros, bem como, fará patente a Justiça de Deus.
Enfim, quem
teme ao convívio com a verdade, mesmo que domine um império, apenas galga
alturas imensas que farão mais dura a queda, quando ruir seu castelo de
cartas...