“Porque se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” Rom 5; 10
Duas coisas chamam
atenção na afirmação de Paulo: Apresenta a reconciliação dos cristãos com obra
concluída; “... fomos reconciliados...” a salvação, como algo a ser feito; “...
seremos salvos...”. Mais: A reconciliação se deu pela morte de Cristo; a
salvação se dará pela vida.
Normalmente acostumamos a ver a coisa como única.
Aceitei ao Sacrifício de Cristo em meu favor, me arrependi, confessei, estou
salvo. Tudo se encerraria com a morte do Salvador. Entretanto, os reconciliados
são chamados à vida de, e, em Cristo, para, enfim, gozarem a salvação.
Assim,
se para reconciliação se nos requer identificação com a morte, a salvação
demanda identidade de vida. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em
Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com
ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Cap
6; 3 e 4
Viver a vida de Cristo só por imitação, claro! Como dissera Jó sobre
sua relação com Deus: “Nas suas pisadas os meus pés se firmaram; guardei seu
caminho, não me desviei dele.” Jó 23; 11
O que nos pode encerrar no erro do
simplismo irresponsável é a ideia de tratarmos a vida eterna pela duração, não
pela essência; então, seria mera existência sem fim que herdaríamos após o sono
do corpo. Contudo, vai mui além disso. Tem mais a ver com o caráter de quem a
lega, do quê, com extensão. Algo em que podemos e devemos ingressar ainda em
nossa peregrinação terrena. “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida
eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante
de muitas testemunhas.” I Tim 6; 12 Essa é a Vida de Cristo que somos instados
a viver.
Vários textos apresentam a conversão como “passar da morte para a vida”;
ou, “nascer de novo”. Se, no âmbito natural é considerado um ser vivo aquele
que nasce, cresce, vive, reproduz e morre, no espiritual, a última parte deixa
de existir, a morte.
Pedro preceitua a alimentação dos renascidos: “Deixando,
pois, toda a malícia, todo o engano, fingimentos, invejas, as murmurações desejai
afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não
falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2; 1 e 2 Algumas coisas
bem “adultas” precisamos deixar, concomitante ao recebimento da alimentação infantil.
Feito isso virá o crescimento espiritual, como asseverou Paulo. “Quando eu era
menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas,
logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” I Cor 13; 11
Todavia, o negligenciar essa faceta prioritária da vida em Cristo atrofia, paralisa,
como se deu com certos hebreus. “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo,
ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos
das palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de
sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está
experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas, o mantimento sólido
é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados
para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5; 12 a 14 Então, um traço visível
de maturidade espiritual é discernimento.
Em suma: A reconciliação mediante o
Sangue de Jesus Cristo é papel nosso, dos cristãos promover entre os que se
mantêm em inimizade com o Pai. “De sorte que somos embaixadores da parte de
Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos, pois, da parte de Cristo, que
vos reconcilieis com Deus.” II Cor 5; 20
Entretanto, a vida do reconciliado é
de responsabilidade sua; não lhe é tolhido o arbítrio por ocasião da conversão;
apenas é facultado pelo Espirito Santo escolher as coisas que agradam ao Pai,
desde então. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes poder de serem feitos
filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” Jo 1; 12
Desse modo, nossa salvação
é “provisória”; “Porque em esperança fomos salvos...” Rom 8; 24 coisa que
requer perseverança e desenvolvimento para gerar certeza. “Mas, desejamos que
cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da
esperança;” Heb 6; 11
Infelizmente, a negligência na edificação enseja vermos
clamando pelo Sangue de Jesus pessoas que recusam viver Sua vida. Se a Obra da
salvação é completa, perfeita aos olhos de Deus, de nós se requer tomar a cruz
todos os dias.