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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Confiar ou não? Eis a questão!

“Amados, se nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus;” I Jo 3;21

Notemos, que, a confiança é condicional, não por possíveis lapsos em quem se confia, no caso, Deus; antes, é, justo, a Integridade Dele, que requer contrapartida minha, ( que me faça íntegro ) se, quiser Dele me aproximar com confiança.

Plenamente confiável, apenas O Senhor É. Me presumo de bom caráter, entretanto, eventualmente, faço coisas que desaprovo; de certo modo, traio a autoconfiança.

Porém, há distinção entre falhas de princípio, e de conduta. Tomemos como exemplo a mentira: Digamos que ela me soe abjeta, que a desprezo, não a abrigo, em meu ser. Todavia, em dado momento, por conveniência, para evitar um constrangimento, escorrego e incorro nesse erro. Minha conduta traiu meus princípios, pois, por esses, não sou mentiroso, nem aprovo, quem é. Assim, é correto concluir que, o de bom caráter, bons princípios, eventualmente, pode conduzir-se mal, não sendo plenamente confiável, como Deus, que jamais falha.

O texto inicial encerra certa presunção de mérito, para termos confiança, no tocante a Ele; “Se nosso coração não nos condena...” Nas relações interpessoais, geralmente a confiança se estabelece a partir da projeção. Como assim? Simples, projetamos sobre outros, os valores que são nossos, aquilo que não faríamos, supomos que outros não farão conosco, mormente, aqueles com os quais temos certas afinidades.

Na imensa maioria das vezes nos decepcionamos, as pessoas nos saem pior que a encomenda. Porém, antes de vociferarmos que não existe ninguém confiável, convém pensarmos se, também não maculamos, em dado momento, a confiança em nós depositada, eu, várias vezes.

Assim sendo, quer dizer que confiaremos em Deus apenas, e seremos refratários à confiança em nossos semelhantes? Depende de algumas variáveis. Primeiro, se não somos 100% confiáveis, mesmo sendo de bons caracteres, como exigiremos que os outros sejam? Segundo, do ponto-de-vista cristão, o relacionamento deve ter como vínculo o amor, que, por sua natureza indulgente, flexível, supre mediante sofrimento, perdão, lapsos de quem devemos amar. A Bíblia não põe o amor atrelado à justiça, antes, alheio a ela. “Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois, poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova o seu amor para conosco, que, Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;7 e 8

Essa coisa mercantil, tipo, só confio em quem merece, sou bom pra quem é bom comigo, etc. até pode ser justa, mas, passa a anos-luz do vero amor, que é sofredor. Confiança não é algo manufaturado, é uma conquista que encerra perdas.

Se alguém confiar em mim porque mereço, será mero escambo; mas, se, mesmo sendo sabedor que não mereço, ainda assim, me fizerem esse mimo, minha maldade nunca mais será a mesma; serei constrangido pelo amor, a mudar, uma vez que me sinto endividado com quem confiou em mim.

Muitos conhecem a história do ovo, da cenoura e do pó de café. Os três foram inseridos em recipientes de água fervendo por uns minutos. O ovo ficou endurecido, a cenoura macia, e o pó mudou a essência da água. Assim somos nós. Podemos, traídos, endurecer e não confiar em mais ninguém; enfraquecer, autocomiserados, e nos deprimirmos, ou, com nossa essência, caráter, alterarmos a outrem, emprestando-lhe nova visão, novo sabor.

Ademais, se perco algo, por ter confiado em quem não merecia, não perco cabalmente; há um aprendizado mútuo, tanto da vítima, quanto, de quem vitimou; O Senhor recompensará justamente, a cada um.

Óbvio que se descarta a ingenuidade, quando, se trata de alguém com histórico de maus atos, mau caráter, sinal de consciência cauterizada, quando, confiar, nem um gesto de amor seria, mas, temeridade. Dá para amar mesmo não confiando. Embora, devamos, por princípio, vencer o mal com o bem, há males resilientes demais para serem vencidos.

Em suma, certamente perderemos coisas por confiar em pessoas; mesmo assim, ganhamos pela preservação da justa medida entre meios e fins; as pessoas são os alvos, as coisas, apenas meios. Menos mal, me parece, sofrer perdas por nos humanizarmos, que nos alienarmos a quem devemos amor, por “coisarmos”.

Claro que a confiança lida com valores também, como lealdade, integridade, discrição... bens imateriais, mas, os mesmos princípios cabem aqui também.

Falando nisso, a receita Bíblica é que façamos a outrem o mesmo que gostaríamos que nos fizessem; por essa regra, quem presume-se confiável, um tanto, deve confiar também. Enfim, não devemos confiar pelo que as pessoas são, mas, pelo que serão quando Deus as transformar; e Ele fará isso, usando, até, nosso exemplo.

Não confie pelo que o outro é; mas, porque é menor o mal das decepções pontuais, que o de ensimesmar-se enrijecido, vendo mal até onde ele não está.