“O homem se alegra em responder bem; quão boa é a palavra
dita a seu tempo!” Prov 15;23
Quantas vezes já ouvimos expressões tipo: “Comigo, bateu
levou; não levo desaforo pra casa!” A ideia é de uma reação imediata, às falas
agressivas, o que destoa da afirmação que as palavras têm seu tempo adequado.
Todavia, o mais sábio dos homens insistia nisso “Tudo tem seu tempo
determinado... tempo de estar calado, tempo de falar;” Ecl 3;1 e 7
Ok, suponhamos que estejamos convencidos disso, que mesmo
as palavras têm sem próprio tempo; como identificá-lo? Bem, o mesmo pensador
atribuiu ao que é obediente aos mandamentos, o dom de discernir essas coisas. “Quem
guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; o coração do sábio
discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5
Parece que a pressa de falar o que pensa não é prerrogativa
daquele que pensa com conteúdo, antes, de seu oposto. “O que possui o conhecimento
guarda suas palavras, o homem de entendimento é de precioso espírito.” Prov
17;27 “O tolo não tem prazer na sabedoria, mas, em que se manifeste aquilo que
agrada seu coração.” Prov 18;2
Embora, para a tradição católica a ira seja um “Pecado
Capital” na Bíblia, sequer, pecado é. Ainda que seja um sentimento que, dado o
calor que enseja pode ofuscar a justiça, verdade, e, agirmos ao seu motor, nos
levar a pecar. Daí, o preceito: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol
sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo.” Ef 4;26 e 27
Aqui temos a ira como concessão, uma permissão, dada nossa
natureza, seguida da exortação que não pequemos quando irados; o que nos
permite inferir que devemos calar até passar esse estado de ânimo, pois, se
falarmos ao aguilhão da ira acabaremos errando. Se o “sol se puser sobre nossa
ira” pode se tornar amargura, quiçá, ódio, que equivale a dar lugar ao diabo.
Ira por justo motivo é necessária, saudável. Só um
completo pusilânime, sangue de barata, poderá contemplar uma grande covardia,
injustiça, sem se irar. Ademais, se ira fosse pecado, deveríamos concluir que
Deus pecaria. Entretanto, “Deus é juiz justo, um
Deus que se ira todos os dias.” Sal 7;11 O que moveu a reação do
Salvador quando virou as mesas no templo, senão, sua Santa Ira contra a redução
da “Casa de oração” a “covil de ladrões”?
Às vezes uma coisa boa se torna má, usando um “assessório” de
má qualidade. Além de sermos verdadeiros em nossas falas carecemos senso de oportunidade,
capacidade de medir consequências. Por exemplo: Um tolo falador dizendo: “Eu
sou sincero, falo o que penso”. Ok, sinceridade é uma coisa boa, mas, se o dito
cujo pensar com má qualidade, dizer o que pensa é menos produtivo que seu
silêncio. “Até o tolo, quando se cala, é
reputado por sábio; o que cerra os seus lábios é tido por entendido.” Prov
17;28 Ocorre-me
um provérbio hindu: “Quando falares cuida para que tuas palavras sejam melhores
que teu silêncio”.
Ademais, mesmo a fala verdadeira, o pensamento qualificado,
pode não ser oportuno; acrescer um peso demasiado em ambiente já bastante
triste. Jesus fizera algumas revelações duras aos discípulos, que um o trairia,
que iria para Pai, que sentiriam dores como uma mulher de parto, etc. aí,
deixou no ar: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas,
vós não podeis suportar agora.” Jo 16;12
Afinal, segundo a Bíblia, a Palavra exorta, consola e
edifica. Que adianta exortação onde a dor é tal, que a única coisa producente
seria o consolo? Que vale consolar, onde a má índole, produtora das dores
decide recrudescer no erro? Que proveito ensinar onde impera o escárnio invés
da postura dócil do aprendiz? “Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a
sabedoria das tuas palavras.” Prov 23;9
Eu gosto da postura inicial dos amigos de Jó. Se falaram
besteiras depois, não compactuo, mas, sua entrada em cena foi notável, em
grande estilo: “Levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; ergueram a
sua voz e choraram, rasgaram cada um o seu manto, sobre as suas cabeças
lançaram pó ao ar. E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e
nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Jó
2;12 e 13
Sete dias em silêncio. Enquanto o maior interessado não
falou, não ousaram, apenas ficaram solidários ao lado, admirável postura!!
Em suma, usa-se alhures um ditado que, “falar é prata,
silenciar é ouro”; Mas, a Bíblia associa esses metais preciosos ao discernimento
do tempo oportuno, da fala. “Como maçãs
de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Prov 25;11