“Eles
voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade
existiram céus, e terra; que foi tirada da água, e, no meio da água subsiste.”
II Pedro 3;5
Descrevendo
escarnecedores que surgiriam nos últimos dias, Pedro lhes atribuiu uma característica
interessante: Ignorância voluntária. Sendo “Gnose” o conhecimento, “Agnose” ou,
ignorância, é seu oposto, ausência de saber. Entretanto, voluntária?
A ignorância,
propriamente dita, chega a legar certa “inocência” ao seu hospedeiro; Paulo
escrevendo aos Romanos diz: “Não havendo Lei, não há transgressão.” Ou, quem
ignora a Vontade Divina, não será tido por transgressor, se, agir de modo
contrário. Discursando aos atenienses foi Preciso: “Deus não toma em conta os
tempos da ignorância...”
Entretanto,
essa “pureza” se perde, quando, a mesma é voluntária. Diversa da situação, onde,
houve privação de conhecimento, agora, temos o concurso da vontade. Assim, não
se trata de ignorar por não poder conhecer, antes, por não querer.
Ora, qualquer
coisa sobre a qual, manifesto arbitrariamente minha vontade, não ignoro; antes,
é, justo, meu conhecimento das implicações, das consequências, que me levam a “desconhecer”
coisas das quais, não gosto.
Sintetizando:
Ignorância voluntária não é ignorância, estritamente; antes, fingimento,
hipocrisia de quem, prefere isso, a encarar consequências do que sabe.
Temos um caso
bem didático quando, Jesus foi questionado sobre a fonte de Sua autoridade para
purificar o templo, por exemplo. Anelavam que Ele “blasfemasse” dizendo-se
Filho de Deus, para poderem apedrejá-lO.
O Senhor,
sabedor de todas as coisas devolveu-lhes a malícia com outra pergunta: “Jesus,
respondendo, disse-lhes: Também vos perguntarei uma coisa; se me disserdes, vos
direi com que autoridade faço isto. O batismo de João, de onde era? Do céu, ou,
dos homens? Pensavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá:
Então por que não crestes? Se dissermos: Dos homens, tememos o povo, porque
todos consideram João como profeta. Respondendo a Jesus, disseram: Não sabemos.
Ele disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto.” Mat 21; 24 a 27
Vimos que, o “não
sabemos” não derivava de ignorância, antes, de saber precisamente as
consequências de ambas as respostas possíveis.
Temos
exemplos práticos diariamente, nesses tempos escuros, onde tanta corrupção
assoma. Os mesmos que, no pleito pelo poder “sabiam tudo” os malfeitos dos
adversários, o que deveria ser feito em reparo, enfim, quais passos o “gigante”
carecia para crescer inda mais, quando inquiridos, mesmo os indícios contra eles
dando uma enciclopédia, nunca sabem de nada; sequer conhecem alguns camaradas
de coexistência harmoniosa pretérita. “Não sei de nada, não vi nada”, virou
bordão de humoristas denunciando essa desfaçatez.
Embora tais artifícios
possam ter certa eficácia no confuso teatro social, onde, muitas vezes arbitra
a paixão em lugar da justiça, ante Deus, a coisa não cola. Salomão já
desaconselhou essa artimanha em seus dias, disse: “Se deixares de livrar os
que estão sendo levados para a morte; aos que estão sendo levados para a
matança; se disseres: Não sabemos; porventura não considerará aquele que
pondera os corações? Não saberá aquele que atenta para a tua alma? Não dará ele
ao homem conforme sua obra?” Prov 24;11 e 12
Não que
devamos sair dizendo inadvertidamente tudo que sabemos; senso de ocasião ajuda
muito. Quando a porta dos corações está fechada, melhor bater a espera de que
se abra. “Botar o pé na porta” engendrará inimizades, invés de conversão.
Quando Paulo aconselha Timóteo que pregue, quer seja oportuno, quer, não, tenciona
encorajá-lo em face às adversidades daqueles dias; o mesmo Paulo prescreveu ao
jovem pastor que se desse por exemplo em tudo, inclusive, mansidão, tolerância.
Imaginemos um
caso de falecimento de um descrente, sabemos o que sucede nesses casos. Como
aconselharíamos eventual parente que se nos acercasse em busca de palavras de
consolo? Melhor seria direcionar o assunto da Bondade Divina incidindo sobre os
vivos ainda, que prometer venturas ao que se foi, ignorando voluntariamente à
essa mesma bondade. Nem tudo o que sabemos pode ser dito; não, em qualquer
momento, digo. O Salvador agiu assim com seus discípulos; “Ainda tenho muito
que vos dizer, mas, vós não podeis suportar agora.” Jo 16;12
Em suma, a ignorância
voluntária é só um nome diferente que se dá à hipocrisia; pessoas que sabem bem
as implicações de certas escolhas, e fingem não saber, para que, usando máscara
sua rebelião pareça menos feia.
Quem não quer
saber das coisas de Deus, foge deliberadamente da vida que lhe é oferecida, ao
encontro de um assassino; trai a si mesmo. “O que rejeita a instrução menospreza a
própria alma, mas o que escuta a repreensão adquire entendimento. O temor do
Senhor é a instrução da sabedoria, e precedendo a honra vai a humildade.” Prov
15;32 e 33