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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Espíritos de porco



“Perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos. E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província. Andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. E Jesus  permitiu. Saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogaram-se no mar.” Mc 5; 9 a 13 

O Senhor estava libertando a um cativo de Satanás, na região de Gádara. Um breve diálogo com o espírito líder da legião expõe algumas facetas em que os demônios superam aos humanos, para vergonha nossa. Eles creem em Deus; sabem quem Ele é; e em Sua presença, rogam, ou seja, fazem oração. 

Quantos ateus há por aí? Milhares que ignoram quem é o Senhor? E outros tantos que sequer fazem uma oração, por breve que seja? 

Uma coisa fica evidente nesse incidente: Os porcos estavam sossegados em sua busca de alimento; se, destrambelharam precipício a baixo, foi por ação dos espíritos maus que neles entraram. Digamos que, uma vez derrotados, resolveram “sair atirando”. Causar um grande prejuízo aos criadores, pra indispô-los como o Salvador. 

Talvez, desse acontecimento tenha derivado a expressão: “Espírito de porco”, para denunciar alguém cujas intenções são más.  Animais, não têm espírito, apenas, almas; daí, animais; então quando um porco “tem espírito”, trata-se de um possesso. 

Não que o inimigo tenha dado um “nó tático” no Mestre; longe disso! Ficou claro que, a ação de destruição dos porcos partiu dele, que, pelo visto, nem era assim tão inimigo dos gadarenos, uma vez que coabitavam sem estresse. 

Se, é vero que, ante O Senhor satanás fez uma súplica, também o é que, os homens do lugar fizeram igualmente.  “Foram ter com Jesus, e viram o endemoninhado que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram. Os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado, e, acerca dos porcos. Começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos.” VS 15 a 17  

Viram a restauração de um que fora reputado louco e souberam da perda dos porcos; então pediram que o Senhor fosse embora.  Talvez a oração mais estúpida de toda a Bíblia. Porcos eram considerados animais imundos para os judeus, portanto, O Senhor não se importou com eles, ainda quê, o dano foi feito pelo inimigo; mas, a alma daquele cativo sofredor, contou com os cuidados do Mestre, pois, disse, uma alma salva vale mais que o mundo inteiro perdido. 

Ao rogarem o afastamento de quem tal obra fizera, implicitamente disseram: Deixe satanás em paz, e a nós também; vá embora! O Senhor foi. Num ambiente em que porcos valem mais que uma vida humana, O Salvador não tem trabalho a fazer. 

Aliás, se há uma coisa que a presente geração, pouco, ou nada sabe, é aquilatar devidamente o valor das coisas. Estobeu, o pensador pré-socrático dizia: “Os asnos preferem palha ao ouro.” Isso levado ao pé da letra está pleno de sentido. O que fariam, os tais, com o ouro? Com a palha, óbvio; alimentam-se. 

Mas, se os “asnos” em questão não são quadrúpedes, nem palha e ouro, o são, literalmente, então temos uma escolha do fútil em detrimento do precioso. 

Acontece que, o filósofo, o pensador, o homem espiritual é sisudo como um dobermann, grave como um Faraó; e a galera prefere a brejeirice de um guaipeca; e leveza do fútil, a fugacidade do pueril. 

O hedonismo desenfreado faz com que os chamados de Sophia pareçam pedras no caminho. Ponderar escolhas, prever consequências é coisa de velho; o negócio é “curtir”. 

Muitos se perdem antes da maturidade, dadas as suas escolhas infelizes; outros envelhecem sem amadurecer, com seus corpos sarados e almas atrofiadas, famintas.  A escravidão dos maus hábitos endurece o barro, passado o tempo em que poderia ser moldado; e, em muitos casos, a alma sedenta “se vinga”. Digo; passou sede, maus tratos por largo tempo enquanto o corpo se esbaldava; então, ela tece a teia da depressão e antecipa o jazigo de um corpo que ainda respira.

O Senhor se aproxima de muitas maneiras; mesmo, numa mensagem como essa; mas, ao escolher ignorá-lO, a galera faz a mesma escolha patrocinada, então, pelos “espíritos de porco”; Se esses são violentos e possuem na marra aos que puderem, Cristo é pacífico, fala de seu amor e espera nossa reação.

Ocorre-me uma frase de Baudellaire: “Conheço muitos que não puderam quando queriam, - disse – porque não quiseram quando podiam.” As consequências são a crítica do tempo; nossas escolhas, a obra que ele vai criticar.

sábado, 27 de dezembro de 2014

As maçãs de ouro e a palha



“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no seu tempo.” Prov 25; 11 

A figura de um vaso se prata ostentando  conteúdo áureo é eloquente! Essa palavra advém, segundo Salomão, em consórcio com o tempo. Assim, não basta ser correta, mesmo, sábia; carece ser oportuna. Ele mesmo disse, noutra parte: “Tudo tem o seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu... tempo de rasgar, tempo de coser; tempo de estar calado, tempo de falar;” Ecl 3; 1 e 7 

O “tempo” aludido, demanda leitura das circunstâncias;  fatores alheios ele mostram se é oportuno falar, ou não. Quando na presença de um tolo, por exemplo; “Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras.” Prov 23; 9 O Senhor fez isso ante  Herodes. “Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; esperava que lhe veria fazer algum sinal. Interrogava-o com muitas palavras, mas, ele nada lhe respondia.” Luc 23; 8 e 9 

Assim, um só tolo não é digno das palavras sábias; que dizer de uma multidão enfurecida de tolos? Isso se deu quando da defesa de Estevão. Como estava sendo julgado, era-lhe necessário expor os motivos de sua fé. Fez com sabedoria ímpar; mas, “Ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, rangiam os dentes contra ele... gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos e arremeteram unânimes contra ele.” Atos 7; 54 e 57

Acontece que a defesa do diácono  implicava em acusação contra seus perseguidores. Dado que, verdadeiras, as acusações geraram fúria, invés de contrição. Tal era o impacto da verdade que, “taparam os seus ouvidos.” 

Há casos em que, os fatos são eloquentes; às inquietações do coração humano, parece que algo deve ser dito, mesmo que, não saiba o quê. A tendência é fazer  pior que o silêncio; falar besteira. “O que canta canções para o coração aflito é como aquele que se despe  num dia de frio, ou, como o vinagre sobre salitre.” Prov 25; 20 

Contudo, é possível fazer pior que tentar remover aflições com palavras ocas; podemos aumentar a dor, com acusações infundadas ao aflito, como fizeram os “amigos” de Jó. Após sete dias em silêncio solidário, ( suas melhores palavras ) por fim, começaram a acusá-lo de impiedades não cometidas, fundados mais no anseio de uma explicação lógica às suas inquietações internas, que, em socorrer ao combalido Patriarca. 

Ele fez a devida leitura e desejou mais silêncio. “Vós, porém, sois inventores de mentiras; vós todos, médicos que não valem nada. Quem dera,  vos calásseis de todo, pois, isso seria a vossa sabedoria.” Jó 13; 4 e 5 Se, a palavra oportuna é figurada como maçã de ouro em bandeja de prata, aquelas foram comparadas a clara de ovo sem sal. “Ou comer-se-á sem sal o que é insípido? Haverá gosto na clara do ovo? A minha alma recusa tocá-las, pois, são para mim como comida repugnante.” Jó 6; 6 e 7 

Talvez, inspirado nessa figura, Paulo advertiu aos Colossenses: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Col 4; 6 

Há casos em que a palavra é inoportuna, não por que a plateia seja indigna, mas, por estar sobrecarregada. “Ainda tenho muito que dizer, mas, vós não  podeis suportar agora.” Jo 16; 12 O Mestre ensinou que o Espírito Santo viria complementar o que faltava e capacitá-los. 

Embora, às falas desprovidas de sentido costumemos chamar de palavras ocas, no fundo, significam algo. Voltemos a Paulo: Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo,  nenhuma delas é sem significação.” I Cor 14; 10 O contexto atinava à disciplina com o dom de línguas estranhas, mas, ele disse algo mais abrangente; toda a voz significa algo.

Infelizmente, a maioria das vozes que ouvimos são, guardadas as diferenças de método, como as da plateia de Estevão; servem para abafar à Palavra da sabedoria, pois, essa, inevitavelmente acabará acusando, aos que escolheram a estultice como modo de vida.

Então, saímos dos festejos de fim de ano e seremos bombardeados pelo Carnaval, Páscoa, dia das mães, pais, crianças, etc. Sempre termos um “convite para festa” um tiroteio de marketing a desviar nossas atenções do que, interessa, deveras. Sem falar das contínuas e sujas novelas, os pornográficos BBBs da vida.

Assim, desprezam, muitos ao ouro real, hipnotizados pelos diamantes imaginários do “comendador” da novela. 

Platão dizia com acerto que, as necessidades determinam os valores; porém, a cegueira disseminada atrofia uma geração, e a faz imaginar que precisa de coisas vulgares, como disse Estobeu: “Os asnos preferem palha ao ouro.”