“Como
maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no seu tempo.” Prov
25; 11
A figura de um vaso se prata ostentando
conteúdo áureo é eloquente! Essa palavra advém, segundo Salomão, em
consórcio com o tempo. Assim, não basta ser correta, mesmo, sábia; carece ser
oportuna. Ele mesmo disse, noutra parte: “Tudo tem o seu tempo determinado, há
tempo para todo o propósito debaixo do céu... tempo de rasgar, tempo de
coser; tempo de estar calado, tempo de falar;” Ecl 3; 1 e 7
O “tempo” aludido,
demanda leitura das circunstâncias; fatores
alheios ele mostram se é oportuno falar, ou não. Quando na presença de um tolo,
por exemplo; “Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das
tuas palavras.” Prov 23; 9 O Senhor fez isso ante Herodes. “Herodes, quando viu a Jesus,
alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele
muitas coisas; esperava que lhe veria fazer algum sinal. Interrogava-o com
muitas palavras, mas, ele nada lhe respondia.” Luc 23; 8 e 9
Assim, um só tolo
não é digno das palavras sábias; que dizer de uma multidão enfurecida de tolos? Isso
se deu quando da defesa de Estevão. Como estava sendo julgado, era-lhe necessário
expor os motivos de sua fé. Fez com sabedoria ímpar; mas, “Ouvindo eles isto, enfureciam-se
em seus corações, rangiam os dentes contra ele... gritaram com grande voz,
taparam os seus ouvidos e arremeteram unânimes contra ele.” Atos 7; 54 e 57
Acontece que a defesa do diácono implicava em acusação contra seus
perseguidores. Dado que, verdadeiras, as acusações geraram fúria, invés de contrição.
Tal era o impacto da verdade que, “taparam os seus ouvidos.”
Há casos em que,
os fatos são eloquentes; às inquietações do coração humano, parece que algo
deve ser dito, mesmo que, não saiba o quê. A tendência é fazer pior que o silêncio; falar besteira. “O que
canta canções para o coração aflito é como aquele que se despe num dia de frio, ou, como o vinagre sobre
salitre.” Prov 25; 20
Contudo, é possível fazer pior que tentar remover aflições
com palavras ocas; podemos aumentar a dor, com acusações infundadas ao aflito,
como fizeram os “amigos” de Jó. Após sete dias em silêncio solidário, ( suas
melhores palavras ) por fim, começaram a acusá-lo de impiedades não cometidas,
fundados mais no anseio de uma explicação lógica às suas inquietações internas,
que, em socorrer ao combalido Patriarca.
Ele fez a devida leitura e desejou
mais silêncio. “Vós, porém, sois inventores de mentiras; vós todos, médicos que
não valem nada. Quem dera, vos calásseis
de todo, pois, isso seria a vossa sabedoria.” Jó 13; 4 e 5 Se, a palavra
oportuna é figurada como maçã de ouro em bandeja de prata, aquelas foram
comparadas a clara de ovo sem sal. “Ou comer-se-á sem sal o que é insípido? Haverá
gosto na clara do ovo? A minha alma recusa tocá-las, pois, são para mim como
comida repugnante.” Jó 6; 6 e 7
Talvez, inspirado nessa figura, Paulo advertiu
aos Colossenses: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal,
para que saibais como vos convém responder a cada um.” Col 4; 6
Há casos em que
a palavra é inoportuna, não por que a plateia seja indigna, mas, por estar
sobrecarregada. “Ainda tenho muito que dizer, mas, vós não podeis suportar agora.” Jo 16; 12 O Mestre
ensinou que o Espírito Santo viria complementar o que faltava e capacitá-los.
Embora, às falas desprovidas de sentido costumemos chamar de palavras ocas, no
fundo, significam algo. Voltemos a Paulo: “Há, por
exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, nenhuma delas é sem significação.” I Cor 14;
10 O contexto atinava à disciplina com o dom de línguas estranhas, mas, ele
disse algo mais abrangente; toda a voz significa algo.
Infelizmente, a maioria
das vozes que ouvimos são, guardadas as diferenças de método, como as da
plateia de Estevão; servem para abafar à Palavra da sabedoria, pois, essa,
inevitavelmente acabará acusando, aos que escolheram a estultice como modo de
vida.
Então, saímos dos festejos de fim de ano e seremos bombardeados pelo Carnaval,
Páscoa, dia das mães, pais, crianças, etc. Sempre termos um “convite para festa”
um tiroteio de marketing a desviar nossas atenções do que, interessa, deveras. Sem
falar das contínuas e sujas novelas, os pornográficos BBBs da vida.
Assim,
desprezam, muitos ao ouro real, hipnotizados pelos diamantes imaginários do “comendador”
da novela.
Platão dizia com acerto que, as necessidades determinam os valores;
porém, a cegueira disseminada atrofia uma geração, e a faz imaginar que precisa
de coisas vulgares, como disse Estobeu: “Os asnos preferem palha ao ouro.”