“Por que persegue o meu Senhor tanto o seu servo? Que fiz eu?...” I Sam 26;18
Davi fugitivo diante do ódio de Saul, dando a esse, oportunidade de explicar seus motivos. “Por que me persegues...? Que fiz eu?”
A relação entre causa e efeito é pacífica, todos reconhecem. Entretanto, quando a causa nos escapa, racionais que somos, desejemos conhecê-la. Poderíamos recorrer a simplismos como, vingança, ciúmes, inveja; mas, essas são formas de expressão do ódio, não o próprio.Qual a vertente do ódio?
Averigüemos seu contraponto, o amor; encontrando os motivos deste podemos reverter o espelho para que vejamos os daquele. Quais as razões do amor? Serão as qualidades de quem amamos? Dizemos: “Quem ama não vê defeitos”; aí, a “perfeição” do objeto de nosso amor deriva de certa “cegueira” que o próprio amor opera em nós. Talvez, por anseios do amor próprio queiramos tanto alguém, que, sequer desejamos ver eventuais lapsos, dado o regozijo que o viço enseja... Contudo, nossa lupa busca o amor cristão, não, amor próprio. De onde vem ele?
Se, a causa estiver no objeto, talvez, os desprovidos de talento, beleza, inteligência ou, outros predicados nobres não possam ser amados... Mas, O Senhor nos ordenaria que fizéssemos algo impossível? Quando diz: “Ama teu próximo como a ti mesmo”, o simples não ordenar que eu ame a mim mesmo, antes, que faça disso parâmetro para o amar força-me a concluir que o amor nasce conosco, não carecemos esforço nenhum para senti-lo; é uma necessidade psicológica. Mesmo dependentes de algum vício, que parecem faze mal a si mesmos entraram nessa prisão devaneado que a coisa lhes fariam bem, daria certo prazer, quiçá, aliviaria alguma dor.
Quando O Senhor ensina: “Misericórdia quero, não, sacrifício" toca na ferida. Quando faço sacrifícios para agradar a Deus busco meu próprio interesse, há um quê de egoísmo; quando atuo em misericórdia são os interesses de outrem que me movem. Aí, o motor do sacrifício é o amor próprio; da misericórdia, o próprio amor. Desse modo, eliminamos razões exteriores para amar, uma vez que misericórdia não se expressa sobre as qualidades de outrem, antes, sobre suas carências.
Embora a origem inda nos seja obscura, o modo de expressão do vero amor começa a ser-nos visível. O Salvador disse:”Ninguém tem maior amor que esse; dar a sua vida pelos seus amigos.” Jo 15;13 Notemos que a maior expressão de amor está associada a certo verbo: Dar. Se, a nós, amantes de pequena estatura o padrão proposto foi que amássemos ao próximo como a nós mesmos, o Supra Sumo do Amor, Jesus Cristo, abriu mão de Si mesmo, por amor; deu Sua vida. A diferença abissal é que “Deus É Amor”; de nós espera que imitemos tanto quanto pudermos, Seu Bendito Ser.
Como, por óbvios motivos, ninguém pode dar o que não tem, O Senhor que ordenou amar dotou cada criatura sua com essa capacidade.
A queda se deu quando, por sugestão do inimigo, deixamos a submissão que era uma demonstração de amor a Deus, em troca da autonomia, da auto-afirmação, independência; o Ego.
Assim, esse dom inato que deveria voltar o homem para o semelhante foi redirecionado para si próprio; e, amor próprio desmedido faz de nosso irmão um concorrente, uma ameaça; invés de um alvo para amar. Por amarmos tanto a nós mesmos, precisamos combater esse intruso; aí nos equipamos de armaduras que o capeta oferece; ciúme, inveja, rivalidade, vingança...
É o amor um Dom Divino incutido em cada alma ao nascer, o ódio, filho da perversão do amor; um “dom” do maligno fácil de receber, uma vez que alinha-se aos anseios das almas alienadas de Deus. O Salvador mesmo disse que Sua presença era naturalmente rejeitada pelos maus, pois, era-lhes uma ameaça. “...a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más.” Jo 3;19
Enfim, acho que chegamos aos motivos de Saul para odiar Davi. Invés de ver nele uma bênção, quando Deus o usou para vencer Golias, viu uma ameaça, uma sombra ao Reino; isso seu amor próprio não toleraria. Então, Davi precisava morrer. Jônatas, seu filho, porém, viu de outra forma: “...a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma.” I Sam 18;1
As razões do amor e do ódio, pois, não estavam em seu objeto, Davi; antes, em seus agentes, Jônatas e Saul. O ódio visa “consertar” seus lapsos eliminando quem os revela; o amor independe de méritos, tanto de quem ama, quanto, de quem é amado; é um Dom Divino que enriquece quem recebe sem empobrecer que dá.
“Quanto menor é o coração, mais ódio carrega.” Victor Hugo
Um espaço para exposição de ideias basicamente sobre a fé cristã, tendo os acontecimentos atuais como pano de fundo. A Bíblia, o padrão; interpretação honesta, o meio; pessoas, o fim.
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terça-feira, 27 de junho de 2017
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
O Gigante a vencer
“Disse Jessé a Davi, seu filho: Toma para teus irmãos um
efa de grão tostado e dez pães, corre levá-los ao arraial, a teus irmãos. Porém,
estes dez queijos, leva ao capitão de mil; visitarás a teus irmãos, para ver se
vão bem; e tomarás o seu penhor.” I Sam 17;17 e 18
Um pouco
antes do célebre combate entre Davi e Golias, temos seu pai, Jessé enviando-o
ao campo de batalha como mero supridor de logística e repórter, nada tendo a
ver com o combate iminente.
Desse modo,
sua inserção no exército, mais, seu protagonismo foi totalmente anormal, inesperado,
surpreendente. Acontece que, a mente humana lida com a lógica, e essa, com
circunstâncias, aparências, possibilidades naturais dos que a concebem.
Na verdade,
mesmo os que pretendem conhecer e servir a Deus, traçam suas concepções “lógicas”
como se, O Todo Poderoso fosse previsível às nossas mentes frágeis, ignorantes,
limitadas. Paulo ensina: “( Deus ) ... é poderoso para fazer tudo muito mais
abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos...” Ef 3;20, assim, “...As
coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do
homem, são as que Deus preparou para os que o amam.” I Cor 2;9
Desse modo,
tanto pode pegar mero anônimo que escolher para, mediante ele fazer grandes
coisas, como fez com Davi; quanto, destronar um famoso, revelando as falsidades
que esse oculta, como muito ocorre, infelizmente. Mediante Ezequiel acenou com
algo semelhante: “Assim saberão todas as árvores do campo que eu, o Senhor,
abati a árvore alta e elevei a árvore baixa, sequei a árvore verde e fiz reverdecer
a árvore seca; eu, o Senhor, o disse, e fiz.” Ez 17;24
O Eterno não tem
compromisso com nossas concepções lógicas, ademais, podendo ver corações, motivações,
invés de meras aparências ou, ações, aquilo que nos é surpreendente, nada mais
é, que o normal, para Ele. Esse é o papel da fé, pela qual o justo viverá. Ela
supre os lapsos da nossa ignorância preenchendo as lacunas com a confiança
irrestrita em Deus. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu
servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor,
firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10
Mesmo o
silêncio Divino tem lá sua eloquência para quem tem ouvidos espirituais. Pois,
se “a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, e a prova das coisas que se não veem.” Heb 11; 1 também consegue,
depois de conhecer a Deus, “ouvir” entrelinhas do silêncio providencial de um
Deus amoroso e sábio. O silêncio de Deus não é necessariamente Sua aprovação,
antes, concessão de liberdade para que tomemos nossas decisões à luz do que
sabemos ser Sua vontade. Um convite à maturidade espiritual.
Contra
um que equacionara silêncio com anuência, aprovação, O Eterno denunciou: “Assentas-te a
falar contra teu irmão; falas contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens
feito, eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, as porei por
ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;20 e 21
Na verdade,
os que buscam grandezas para si são réprobos aos olhos Divinos. Então,
geralmente Deus recicla rejeitos sociais para fazer grandes coisas; os que se
satisfazem com sortes módicas, às vezes são escolhidos para feitos notórios. “Mas,
Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus
escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; escolheu as
coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar as que
são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” I Cor 1;27 a 29
“A grandeza
foge de quem a persegue, e persegue a quem foge dela”. (sabedoria judaica)
Assim, se há
um gigante contra o qual temos que lutar inevitavelmente, esse, é o ego, que,
malgrado a miserável sina de pecadores, insta mediante a natureza para que usurpemos
o lugar de Deus, ansiando coisas que não nos cabem. Nessa peleja não estamos numa
situação periférica, como fora inicialmente, a de Davi, antes, o protagonismo é
nosso.
Seria
injusto, Deus, que sonda corações requerer pureza de nós, quando nossas
impurezas nos fossem ocultas; assim, nos ilumina mediante Sua Palavra, e
capacita Pelo Espírito Santo, para que andemos na luz.
A mortificação do “Eu”
só é possível na cruz, e nessa peleja a maioria estremece como estava o
exército de Saul ante as ameaças de Golias. Contudo, os que recebem O Espírito
e Nele andam, fazem das adversidades grandes vitórias, e dessas, encorajamento
a outros que temiam uma igual luta. O mesmo gigante que amedronta quando vivo,
se torna motivação para a luta, quando derrotado.
sábado, 1 de novembro de 2014
O "Purismo" e a pureza
“Salmom
gerou, de Raabe, a Boaz; Boaz gerou de Rute a Obede; Obede gerou a Jessé; Jessé
gerou ao rei Davi; o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.” Mat
1; 5 e 6
A princípio, esse texto é só mais um daqueles monótonos, genealogias que dá preguiça de ler.
Entretanto, nele aparecem três mulheres que são “penetras” no purismo racial e
religioso que havia entre os israelitas.
Raabe, Rute e Batseba. A primeira, ex prostituta, de Jericó, convertida;
Rute, uma estrangeira oriunda das terras de Moabe; por fim, Batseba, viúva de
Urias, outro estrangeiro, um heteu, com a qual Davi cometeu adultério.
Se a
Bíblia fosse mera compilação humana, como acusam seus oponentes, jamais traria
na genealogia do Salvador, três personagens como essas. Aliás, Ele viria voando
num cavalo alado, invés de nascer entre animais.
Eles eram zelosos de sua “pureza”,
sobretudo, do pacto da circuncisão, que os fazia separados para Deus. Tanto
que, quando Davi resolveu duelar com Golias, uma das coisas que evocou foi
essa: “... Quem é, pois, este incircunciso filisteu, para afrontar aos
exércitos do Deus vivo?” I Sam 17; 26
A bem da verdade é preciso que se diga
que, foram escolhidos, de fato, pelo
Eterno; “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a
minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos,
porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo
santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Ex 19; 5 e 6 O Criador queria uma Embaixada na Terra, e escolheu a descendência de Abraão.
Acontece que, se uma escolha dessas traz privilégios, encerra também
responsabilidades proporcionais. Ouvir com diligência e guardar a Palavra de
Deus, por exemplo. Mas, quem ler os livros históricos facilmente verá que isso nunca se deu
plenamente. Geralmente esperavam usufruir favores Divinos sem cumprir os deveres.
Ou, simplesmente, voltavam as costas para Deus. “Porque o meu povo fez duas
maldades: a mim deixaram, manancial de águas vivas, e cavaram cisternas,
cisternas rotas, que não retêm águas.” Jr 1; 13
Assim como Deus aceitava mulheres estrangeiras que decidissem obedecer
Suas Leis e viver entre Seu povo, rejeitavam aos próprios nativos quando
desobedeciam. O Salvador pontuou isso uma vez mais: “Mas eu vos digo que muitos
virão do oriente, do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e
Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas
exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” Mat 8; 11 e 12
Aliás, a enfática mensagem de João Batista
arrasou a pretensão de serem favorecidos de Deus a despeito do quê fizessem. “Produzi,
pois, frutos dignos de arrependimento; não comeceis a dizer em vós mesmos:
Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus
suscitar filhos a Abraão. Também já está posto o machado à raiz das árvores;
toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.” Luc 3;
8 e 9
A questão crucial para a Salvação não era ser judeu ou gentio; antes,
produzir os devidos frutos; ou, sofrer o machado da rejeição Divina.
Embora
agregue aos Seus, em rebanhos, Deus trata com indivíduos. “De maneira que cada
um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14; 14 Então, esse truque comum
na política, de institucionalizar adversários demonizar coletivos, tipo: “A
culpa é dos ricos, da Veja, da Globo, etc.” não funciona nas coisas espirituais.
Entretanto, muitos posicionam-se assim ainda. Se, é católico acerta mesmo
quando erra, dirá um católico fanático; o mesmo fará dos seus, um evangélico
espiritualmente insano. O fanatismo não vê erros nem faz concessões. Se, é dos
nossos está certo; se, dos deles, errado. Jesus não fez assim. Quando recebia a
resposta certa, mesmo de oponentes, concedia. “Jesus, vendo que havia
respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus...” Mc 12;
34
Entretanto, advogar que Deus espera frutos de nós não equivale a defender salvação
pelas obras, por mérito humano; ademais, o primeiro fruto mencionado por João
foi arrependimento, que demanda fé na Palavra para gerar contrição. Pois, a
situação da igreja é semelhante à que foi de Israel; privilégios e
responsabilidade em “Terra estranha”; mera embaixada em cenário adverso.
Claro
que o Santo demanda purificação dos Seus; mas, essa é espiritual, não,
denominacional, tampouco, racial.
Sujeira Ele não pode ver; “Tu és tão puro de
olhos, que não podes ver o mal... “ Hc 1; 13 E Sujos, não poderemos Vê-lo. “Segui
a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;” Heb 12;
14
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