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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A caverna do ateísmo

“A mim, o mínimo dos santos, foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo... me ponho de joelhos perante o Pai... ( para ) Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, o comprimento, a altura, a profundidade; conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios da plenitude de Deus.” Ef 3; 8; 14, 18 e 19

Paulo, como um explorador que, tendo encontrado riquezas majestosas, está com dificuldade de explicar aos que, quer convencer a embarcarem consigo nessa ditosa expedição, a grandeza do que viu. “Riquezas incompreensíveis,” amor que excede o entendimento.

Ocorre-me o Mito da Caverna, de Platão, onde, os “cavernosos” estavam assaz acostumados a ter sombras por realidade; um venturoso que evadiu-se à prisão e teve contato com a verdadeira luz, por um lado, não conseguia explicar o que vira, por outro, era considerado louco, por pretender que, o que sempre fora tido por realidade, não era assim, na verdade.

Esse apego humano ao palpável, como sendo a realidade plena, é que forja “conflitos” entre fé e razão, como se, fossem excludentes. Na verdade, muitos tomam a metade da laranja pela fruta inteira. Razão, por ser uma faculdade também da alma, pode ser aprendida, em parte, por ateus, descrentes... Esse aspecto racional, contudo, é atinente ao mundo físico; acontece que o mundo espiritual também tem sua razão, sua lógica, a qual, não pode ser percebida pelos que jazem acorrentados na caverna da incredulidade; acostumaram com a sombra das coisas materiais como realidade última.

Dizem que a fé é cega, onde deveriam dizer que a ciência natural é limitada. Isaías até coloca a situação de estarmos, eventualmente, em total escuridão, mas, evoca a Integridade do Senhor, como o “Fio de Ariadne” que tira do labirinto. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50; 10 Isso não é cegueira, mas, mesmo cercado de trevas, saber pra onde olhar. A fé vê no escuro.

Moisés, quando todas as circunstâncias eram adversas, foi ordenado que desafiasse ao poderoso Faraó, em Nome do Senhor. Não tinha força bélica nenhuma, meros escravos envilecidos pelos trabalhos forçados; portou-se como um General declarando guerra a um grande exército. “Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” Heb 11;28

Um “racional” dirá que o relato é mito; afinal, as coisas acessáveis pela fé lhe são ocultas ainda, desconhece a senha.

Sendo o mundo, inimigo de Deus, como disse Tiago, natural que envide esforços em sedimentar a inimizade; se, o âmbito espiritual tem mesmo sua razão, necessariamente há de ser, diversa da “razão” do inimigo. Por isso, uma mente transformada se requer, para o contato com o amor e a bondade Divinos. “...apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12; 1 e 2

Assim, a narrativa bíblica, o “mito” para as mentes naturais, é a razão do Espírito, onde bebem os convertidos. “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2; 2

Enfim, a ciência insta a conhecer as coisas naturais, como se tais fossem um fim em si, invés da expressão de algo maior; a fé, sem excluir a ciência válida, desafia a conhecer o motivo Supremo do que se deu para a ciência brincar; “Conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento...”

Pois, se a criação é uma prova de amor, é também evidência de sabedoria, propósito; quem nega isso, teme a luz, prefere a caverna. “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, quanto a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” Rom 1; 20

“Aquele que olhando as maravilhas da criação ainda se declara ateu, juntamente se declara imbecil e mentiroso”. ( Spurgeon )

A defesa apaixonada de convicções naturais, cega; Paulo passou por isso; ao deparar com a Luz, caiu do cavalo; suas escamas dos olhos foram reveladas. Daí, iluminado fez do “esterco” adubo, da Luz, o sentido da sua vida. Foi escolhido porque era sincero, mesmo, sem entendimento. 

Mas, os arrogantes, O Santo deixa que esporeiem os fogosos corcéis da incredulidade, rumo à insignificância eterna...

domingo, 10 de janeiro de 2016

Amar dá prejuízo

“Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5; 7 e 8

Vimos noutro texto o valor inefável do amor. Agora, teceremos considerações, sobre sua identidade. Como perceber sua presença? Afinal entre as tantas palavras que padecem anemia de significado pelo mau uso, amor é uma das mais anêmicas. O mero aplacar comichões animais, de forma lícita, insana, quiçá, antinatural, tem sido chamado de “fazer amor”. Como disse certo poeta, “amor não se faz, o que se faz é coito carnal”.

Contudo, sendo algo que não se faz, se pode demonstrar, mediante evidências concretas, traços desse abstrato majestoso. O conceito medíocre dos relacionamentos é dar a quem merece; pagar na mesma moeda; amo a quem me ama; sou bom com quem é bom comigo; não raro, deparo com a frase “filosófica”, “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares” etc. Isso cheira a escambo, comércio, pode ter laços com a justiça, mas, nenhum traço do nosso ser, ora, investigado, o amor.

“Que Deus te dê em dobro” é uma ameaça, tipo, deseje-me apenas o bem, senão, meu Deus te pega, ai de ti! Então, se Deus tratasse conosco nessas bases, da mesma moeda, digo, estaríamos fritos, mas, “Deus prova Seu amor para conosco...” A “prova” é nos dar muito mais que merecemos. Essa é a essência do amor; suprir lacunas de quem amamos, a despeito de méritos; o mérito do amor basta. Deus não nos ama por que merecemos; antes, pelo que É: “Deus é amor”.

Os frutos de quem aprende amar, deveras, o colocam num patamar acima da justiça que se aplica em consórcio com a Lei. Paulo ensina: “O fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” Gál 5; 22 e 23

Assim, quem vive sua fé no âmbito dos mandamentos, do legalismo, ainda está inepto para viver em Espírito, produzir seus frutos. “Se, sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” Gál 5; 18

Não significa anomia, ausência de regras, antes, autonomia em relação à natureza; simbiose em relação ao Espírito de Deus.

Muitos pensam que o Novo Testamento é a metade da Bíblia; não. É uma nova Lei, flexível, conforme as circunstâncias de cada um, que for capaz de ouvir ao “Legislador” que caminha consigo. “Não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia que os tomei pela mão, para tirar da terra do Egito; Como não permaneceram naquela minha aliança, Eu para eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei... diz o Senhor: Porei as minhas leis no seu entendimento, em seu coração as escreverei; Eu lhes serei por Deus, eles me serão por povo;” Heb 8; 9 e 10

Embora pregadores da moda vejam a Bíblia como manual para riqueza é, antes, uma declaração de amor, um apelo à reconciliação com Deus, e manual de como amar. “Ao que quiser pleitear contigo, tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; qualquer que te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.” Mat 5; 40 a 42 Assim, embora seja um tesouro espiritual, amar dá prejuízo.

O que é o perdão, senão, uma manifestação vívida de amor? Quando perdoo eu “pago” algo que outrem não pode, usando a “moeda” do amor.

Se, nosso relacionamento com Deus se firma nessa base, o mesmo amor nos instigará a iniciativas espontâneas, no desejo de evidenciar-se ante O amado. Jesus ensinou: Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” Luc 17; 10

Entre outras características, Paulo disse que o amor, “não busca seus próprios interesses...” Contudo, quantos casais separam, pois, o “amor acabou, ele, ( ela ) não me entende”? Queremos ser compreendidos, não, compreender; ser amados, pra amar.

Além de dar prejuízo, o amor é impotente. Mesmo ansiando muito a correspondência, mergulha no trampolim da incerteza, do risco de amar sozinho. Se, palavrinhas como, prejuízo, risco, perdão, impotência, nos assustam, ainda somos incapazes de amar.

Na verdade, todos amam. Embora, muitos erram o alvo. O egoísmo é excesso de amor próprio; tolhe amar a outrem. Spurgeon já dizia: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.”


Deus fez as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas;
mas, por que amam as coisas e usam as pessoas?  ( Bob Marley )

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O pré-conceito de Deus



“E as multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a sua voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós. E chamavam Júpiter a Barnabé,  Mercúrio a Paulo; porque este era o que falava. E o sacerdote de Júpiter, cujo templo, estava em frente da cidade, trazendo para a entrada da porta touros, grinaldas, queria, com a multidão, sacrificar-lhes.” Atos 14; 11 a 13
   

O incidente que fizera Paulo e Barnabé “deuses” fora a cura de um coxo.  O mesmo apóstolo tratou de desfazer o engano. “...Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões;  anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu,  a terra, o mar e tudo quanto há neles;” v 15  

Três erros foram denunciados aqui: Eles não eram deuses; o objeto de culto dos licaônicos era vaidade; existe um Deus vivo. Como estavam maravilhados ante a cura, querendo cultuá-los como deuses, não custava ouvir o que tinham a dizer. 

Todavia, bastou um estímulo extra para quê, de deuses se tornassem réus de morte. “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão, apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade, cuidando que estava morto.” V 19

Esse incidente mostra que é falácia o argumento que precisamos milagres para gerar fé. É certo que eles contribuem, também o é que, a despeito de grandes sinais, a incredulidade pode seguir ilesa. O mesmo Paulo advoga a origem da fé na Palavra. “De sorte que a fé é pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus.” Rom 10; 17 Eles viram o milagre; endeusaram  homens; ouviram a Palavra; duvidaram de Deus. 

Não estavam totalmente errados no que disseram a princípio: “fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nos.” Abstraída a pluralidade, “deuses”, e entendido quem atuava na vida de Paulo, era a pura verdade. Deus, em Cristo se fez semelhante aos homens; desceu até nós; era Ele que movia e capacitava aos apóstolos.

Todavia, não foram pacientes para ouvir, nem diligentes para  entender. Ademais, surgiram uns judeus estrangeiros que juravam que aqueles que curaram um coxo e não queriam aplausos eram homens maus, só restava apedrejá-los. 

Oh, imensidão da estupidez humana refém do pecado!  O que é mais fácil? Receber uma mensagem que me contraria, corrige, desmistifica minhas concepções, ou, chamar na pedrada qualquer que eu antipatize? A resposta parece óbvia.  

O chato que me contraria se expõe a riscos pessoais para me salvar. Apedrejar um inocente que deu um fruto excelente testifica contra mim, de quanto eu careço mesmo, ser salvo. Contudo, prefiro que outros me digam que quem não gosto é mau, antes, que cogitem de um mal qualquer residindo em mim. 

Tendo  um pré-conceito de deuses, que seriam, Júpiter e Mercúrio, então, Deus deveria encaixar nesse molde. De outro modo, não seria Deus.   

Charles Spurgeon conta ter visto uma maçã dentro de uma garrafa; ele buscou entender como entrara ali.  Procurou ver se o fundo da mesma era rosqueado e nada. A maçã inteira, a garrafa também. 

Aquela inquietação durou certo tempo, até que viu no pomar umas garrafas penduradas nos galhos das macieiras e o mistério se desfez. Eram postas as frutas pequenas ainda na árvore, e cresciam dentro da garrafa. Desse modo, ensinou, devem as crianças tomar contato com a Palavra de Deus desde cedo; crescer dentro da “garrafa” certa. “Instrui o menino no caminho que deve andar, e quando envelhecer não se desviará dele” Prov 22; 6

Acontece que, os privados do conhecimento do Deus vivo criam suas “maçãs” fora da garrafa; crescidas não mais podem ser inseridas nela.

Como O Santo quer “envasilhar” a todos no estreito vaso da salvação, Ele torna isso possível permitindo que nasçamos de novo. “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3

O Salvador referia-se à vida espiritual, embora, seu interlocutor, Nicodemos, pensou em colocar a maçã grande na garrafa. “Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?” v 4

Invés de amoldar Deus ao humano conceito prévio como fizeram aqueles supra, o Salvador ensinou a completa dependência do Espírito Santo. O vento assopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” V 8 

Total, absoluta submissão a Ele. Ou engarrafamos “Deus” em nossos preconceitos e não O temos; ou, nos deixamos conduzir por Seu Espírito e Palavra, onde Ele nos tem. Simples assim.