“Meus
irmãos tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a
prova da vossa fé opera a paciência.” Tiago 1; 2 e 3
Tal afirmação entendida de
modo superficial pode dar azo a que se advogue a bênção sobre os que caem em
tentações. A primeira parte do texto parece edificar a ideia. Entretanto, o
verso seguinte desafia à prova da fé, que triunfaria mediante paciência. Então,
o “cair em tentação” em foco, equivale a não pecar, antes, admitir internamente
a ideia, mas, cotejar tal desejo com o
conteúdo da fé, e nesse esperar, graças ao amparo da paciência.
Adiante ele
explica a gestação do pecado. “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou
tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas, cada
um é tentado, quando atraído e engodado pela própria concupiscência. Depois, havendo a
concupiscência concebido, dá à luz o pecado;
o pecado sendo consumado gera a morte.” Vs 13 a 15
Vemos que há todo um
processo interior “dando vida” a esse agente da morte. Cobiça vontade e ação.
Essa última equivale a “dar à luz o pecado”; antes disso pode ser abortado em
paciente espera e confiança em Deus.
O “cair em tentação” que Tiago defende
como motivo de gozo, pois, é resistir às nuances do mal que assedia; o gozo
derivaria de tê-las, pacientemente vencido; não, impiamente consumado. Afinal, ele mesmo, se
expressa de modo mais claro sobre o tema: “Bem aventurado o homem que suporta a
tentação; porque, quando for provado receberá a coroa da vida, a qual o Senhor
tem prometido aos que o amam.” V 12 Não poderia, ele, com coerência, abençoar
ao que cai como ao que suporta a tentação.
Refere-se ao mesmo caso; o que
assediado por maus desejos triunfa a eles e haure o gozo de sentir em seu
espírito a vitória do Espírito Santo, o direcionando em fé mediante paciência.
Nesses dias velozes de tanto ativismo, muitos pregadores de interesses terrenos
disfarçados de celestiais transtornaram o sentido da Palavra de Deus;
sobretudo, do quesito, fé.
Embora possa exercer vigoroso papel ativo, seu
sentido é muito mais, passivo. Não é uma força que faz as coisas acontecerem
como advogam os da “prosperidade”; antes, uma confiança irrestrita na Pessoa
Bendita do Senhor, mesmo que, nossos sonhos não aconteçam; que nossas orações
não sejam respondidas como esperamos. Afinal, se fé é provada com a régua da
paciência, certamente os “centímetros” da mesma são feitos de tempo, de espera.
Embora o tema central de toda epístola seja advertência contra a duplicidade de
ânimo, a paciência aparece como coadjuvante mui expressiva.
Quanto aos ambíguos
apresenta como doentes espirituais, portadores de corações sujos; “Chegai-vos a
Deus e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo,
purificai os corações.” Cap 4; 8 Vemos uma vez mais, a sutil diferença entre o
pecado praticado, suja as mãos; e o pecado acariciado apenas no domínio dos
desejos; suja o coração.
A ideia subentendida é que, as pessoas se dispõem a
esperar em Deus certo tempo; mas, impacientam-se ante anseios não supridos e
partem para “soluções” naturais; leia-se, pecado. Isso lembra parte do Salmo
onde Davi versa: “Por que te abates, oh minha alma? Por que te perturbas dentro
de mim? Espera em Deus, pois, ainda O louvarei.” Nesse colóquio consigo mesmo
ele deixa transparecer que, o abatimento da alma derivava da impaciência; tanto
quê, propôs como solução esperar em Deus.
Mas, voltando a Tiago, ele evocou,
enfim, o mais intenso exemplo de paciência das Escrituras, como argumento
final, aos “bem aventurados” que se dirigia; disse: “Meus irmãos tomai como
exemplo de aflição e paciência, os profetas, que falaram em nome do Senhor. Eis
que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de
Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso
e piedoso.” Cap 5; 10 e 11
Vemos que o fim foi escolha exclusiva do Senhor; não
algo que Jó tenha “decretado” “determinado”; ou, pelo qual tenha feito “campanha,
corrente”.
Muitas vezes equacionamos fé
com esperança, como se fossem iguais; embora tenham certo parentesco, a fé tem
um objeto específico, Deus; como condicionante, que peçamos segundo Sua
Vontade. A esperança é amoral; tanto coabita com ímpios, quanto, com santos.
Desse modo, a esperança do cristão não deve “dar golpes no ar”, antes,
alinhar-se a que foi proposto. “...tenhamos a firme consolação, nós, os que
pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;” Heb 6; 18.
Enfim, quando
as tentações nos convidarem para “novas possibilidades”, a fé lembrará o que está
proposto, para a devida assepsia da nossa esperança.