Seria ridículo se não
fosse muito sério o que ocorre no Brasil. Um estranho “mantra” vem sendo
proferido desde que se protocolou o pedido de impeachment, da Presidente Dilma.
“Não vai ter golpe!”
É como se tratasse de
uma campanha política. De um lado o partido dos “golpistas”; de outro, os “democratas”.
Duas coisas são necessárias à caracterização de um golpe. Primeiro: Uma ruptura
do texto constitucional; usando a força militar, ou, algum conchavo espúrio, onde,
alguém ilegítimo passa a deter o poder.
Segundo: Golpe, por sua
natureza acontece de supetão. Não se dá soco em câmera lenta. A gente adormece
sob um Governo, e de modo intempestivo, inesperado, acorda sob outro, essa é uma
faceta necessária.
Três ou quatro ex-ministros
do STF já deram entrevistas para dizer o óbvio: Impeachment é um recurso
constitucional; e, uns quatro ou cinco do atual Tribunal fizeram o mesmo.
Entretanto, a cantilena continua.
Os “democratas” evocam
a legitimidade do mandato de Dilma como algo sendo ameaçado pelos “golpistas”.
Ela foi eleita, - afirmam – é preciso
saber respeitar o resultado das urnas. Hitler, Mussolini, Hugo Chaves, Fidel
Castro, também foram.
Uma coisa
convenientemente ignorada é que a legitimidade se dá em dois tempos: A investidura,
legítima mediante a eleição democrática. E a manutenção da legitimidade mediante
a probidade durante o mandato. Qualquer afronta constitucional no exercício,
torna o mandatário sujeito a ver anulada a legitimidade primeira, pelo concurso
do ilícito cometido. Para esses casos, o instrumento do impedimento é previsto
na constituição.
O foro devido para se
avaliar se houve crime de responsabilidade ou não, é o plenário do Congresso.
Lá, essa gritaria do “não vai ter golpe”, não faz sentido. Que cada Deputado,
Senador, faça uso da tribuna e defenda seu ponto de vista. Depois, vote segundo
sua consciência; ou, mesmo a falta dela.
Ora, essa algazarra tem
como alvo a militância, atiçar os ânimos e provocar desordem social. Qual o
alvo em mira? O bem do país?
O primeiro pedido foi
apresentado por três juristas notáveis, que só teriam a perder se mostrassem
falta de saber no ofício que lhes é próprio. Ontem, a OAB acresceu mais três motivos
em novo pedido. Estariam, centenas de advogados, equivocados sob o cumprimento
das leis? Os mesmos petistas que aplaudiram a Ordem quando a petição foi contra
Collor, agora, hostilizaram aos proponentes, pois, contra eles, é golpe.
Ninguém precisa ser
cientista político, sociólogo, jurista, para saber que o que os “democratas”
querem salvar é sua própria pele, as mamatas tantas, que têm usufruído mediante
crassa corrupção.
Ontem deparei com um
vídeo de Elvino Bohn Gass, onde dizia que os “golpistas” ameaçavam ao Bolsa
Família, aumentos de salários, Minha Casa Minha Vida, e pasmem, a “boa política”.
A obscenidade moral é tal, que fica impossível adjetivar sem apelar a palavrões.
Quando no passado se
dizia que certos coronéis políticos tinham interesse em manter o povo ignorante
para se perpetuarem no poder soava meio utópico; mas, vendo agora o que se pode
fazer usando insipiência em favor de canalhas, faz sentido.
Não é de estranhar,
pois, que Aloísio Mercadante, Ministro da Educação da “Pátria Educadora” invés
de se ocupar de métodos para melhor difusão do conhecimento, tenha dado as
costas à sua pasta e, tentado comprar o silêncio de Delcídio Amaral. Educativa
iniciativa, sem dúvidas!
O Impeachment não é a
solução de tudo, apenas, um paliativo que pode recuperar um pouco a confiança,
pois, desde que apanhado em ações inconstitucionais, esse Governo, de outra
coisa não se ocupa, senão, salvar-se; o país que se dane!
Não acho Temer grande
coisa, tampouco, o venal PMDB um partido capaz de moralizar a casa estando
também muito comprometido em corrupção. A sociedade brasileira, tão alienada,
afeita a novelas, realitys, carnaval e futebol, está tendo que aprender
política a chicotadas. Mas, pode ser que esse aprendizado compulsório enseje
melhores escolhas daqui pra frente e certa oxigenação nesse ambiente tão
poluído.
Talvez a coisa não seja
restrita ao Congresso, mantendo-se a sociedade em relativa paz, em caso de
confirmação do Impeachment; os vermelhinhos atiçados por seus líderes
inescrupulosos, poderão causar muitos males; sangue inocente inda pode correr,
graças a essa visão “democrata” de que as leis, e a Constituição são boas
apenas quando os favorecem, ou, quando punem seus adversários.
Mesmo que consigam
votos bastantes para barrar ao impedimento, governarão como? Com um Congresso
amplamente contrário e 80% da sociedade os querendo ver longe? Não percebem,
ou, recusam a perceber que o dano já está feito.
A sociedade está esclarecida o
suficiente para não tolerar mais, discursos fajutos que acusam juízes, e
defendem bandidos. O PT teve sua chance, quatro mandatos para mostrar a que
veio. Mostrou. Game over.