quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O Grito do Ipiranga

“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” Gandhi

Sete de Setembro chegando, inevitavelmente a memória evoca pretéritos desfiles, bem como, lições de história que exaltavam o feito de Dom Pedro I que rompera de vez o jugo da dominação lusa. Dizem que a Coroa Portuguesa demandava um quinto da produção mineral em impostos, ou seja, 20%; imaginem uma roubalheira dessas, precisávamos nos rebelar e lutar.

Pois bem, hoje que somos “livres” há quase duzentos anos, a “Coroa” requer dos súditos, algo aproximado de 50% em impostos; trabalhamos meio ano pelo direito de trabalhar mais meio. E agora, quem poderá nos salvar?

Já que os governantes são chamados de homens públicos, que lidem com nosso dinheiro numa “redoma de vidro”, digo; cada centavo arrecadado e investido seja visível a todos; senão, seguiremos vendo cenas dantescas como o “porquinho” do Geddel, ex administrador da Caixa Econômica no Governo Dilma, que guardava em espécie uns trocados pra eventuais emergências na despensa, coisas assim. Míseros 51 milhões. O grosso da grana deve dormir nalgum obscuro banco caribenho.

E pensar que tem gente que não se importa, até defende, se o dono da “poupança” for dos seus, da sua sigla favorita. Mas, somos independentes, livres, precisamos marchar e comemorar.

Na verdade, invés de ensinar a pensar livremente como convém, a instrumentalização da educação foi tal, que estava forjando uma geração de zumbis ideologicamente domesticados para gritarem mantras, mesmo que, o país estivesse descendo a ladeira, tanto pela derrocada econômica, quanto, pelo estrago da corrupção. Precisamos vencer esses ranços bipolares de sermos de esquerda ou de direita, para, enfim, sermos de deveres e direitos.

Claro que a fortuna não era do Geddel, por certo, de um amigo muito rico; ele nem sabia daquele montante. Mesmo assim, é necessário que apodreça na cadeia, bem como, todos os demais que tem “amigos” desse calibre. Arregalamos os olhos diante da imagem da dinheirama, mas, as análises preliminares da roubalheira, via BNDS apontam seis bilhões já; uma CPI deverá descobrir muito mais.

Se alguém tiver dificuldade de imaginar tal montante, basta pensar no “Porquinho” do Geddel e multiplicar 120 vezes. Será que isso explica as condições de nossas estradas, hospitais, dos professores, policiais...?

Mas, somos independentes, rufem os tambores!! O Estado no molde atual tornou-se autofágico pela absoluta falta de nutrientes cívicos e morais; a boa e velha vergonha na cara. Os três poderes estão apodrecidos em suas estruturas, o que nos remete à insana condição de esperar medidas saneadoras daqueles que são a doença.

Propuseram certa “reforma política”, contendo alguns itens notáveis como: 3,6 bi para a campanha eleitoral rateado entre os partidos; permissão de um candidato concorrer simultaneamente a dois cargos ao mesmo tempo, tipo, Senador e Deputado; se não der um, vai no outro; mais; proibição de prender qualquer postulante até oito meses antes das eleições... Ah bom, assim sim! Agora vai! Como não pensamos nisso antes? Teria salvado o país.

A retomada da consciência cívica, se é que a tivemos um dia, demanda a cura das paixões partidárias, extermínio do eleitor corrupto, aquele que vende seu voto; e, aprendizado de uma vez por todas, que o cidadão não é gado e os políticos, fazendeiros; antes, somos empregadores e eles servidores públicos que nos devem satisfação, competência, probidade, ou, os banimos da vida pública não elegendo nunca mais. Quanto tempo ainda até que conquistemos tal independência?

As redes sociais, além da interação permitem a velocidade das informações; todavia, também das contra-informações. Uma guerra de mentira contra verdade. E os ideologicamente lobotomizados, tendem a ser agentes dos inimigos da verdade, da nação, dos fatos; a proteger seus heróis mesmo que flagrados com a boca na botija. Pois, para tais, os livres deveras, os esclarecidos é que são o problema, o alvo a ser combatido.

Sendo a veraz liberdade uma questão de consciência, como bem disse Gandhi, cada um de nós precisa dar seu “Grito do Ipiranga” contra a tirania da ignorância, das paixões, dos interesses rasos e egoístas, que invés de nos fazer homens livres como convém, nos fazem títeres de safados, tijolinhos na parede de esconder corruptos, degraus na escada da elevação dos maus caracteres. “Você é livre no momento em que não busca fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas.” Kant

Não há nada a comemorar nesse cenário; somos o país da vergonha; digo; da vergonha dos decentes, por terem como autoridades sobre si, essa corja de sem vergonhas, que nosso dicionário não tem um adjetivo que os qualifique devidamente. Ou varremo-los de uma vez por todas, ou, seguiremos marchando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário