sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Nada mais que a Verdade

“O que é a verdade?” Jo 18;38 Mesmo estando diante Daquele que dissera “Eu Sou...a verdade...” Pilatos deu as costas sem esperar resposta.

Muitos filósofos e acadêmicos debruçaram-se a pensar nisso, e, embora cada um tenha acrescido coisas válidas à apreciação, nenhum pode gabar-se de ter sido cabal; de ter matado a cobra, definindo-a num conceito irrefutável, que não comportasse emendas.

Como minhas pretensões de leigo são bem mais módicas, esposo uma definição de Aristóteles, que diz que a verdade seria a “perfeita adequação entre a realidade nos fatos, e na mente;” ou, na expressão dos mesmos, acrescento.

Outra discussão é se ela é absoluta, ou, relativa. Ora, relativismo pleno ( algumas coisas o são) por sua natureza não pode ser um conceito; se o fosse, pretenderia firmar-se na areia movediça. Pois, se tudo depende da relação, quem garantiria, ou, ancorado em quê, que o próprio conceito não é relativo também??

A meu ver, que a verdade seja absoluta é uma necessidade, a menos que desejemos comer todo o bolo e ainda o ter na mão.

Existem coisas subjetivas na verdade, isso sim. Por exemplo: Se alguém afirma estar com dor de cabeça; a percepção dessa verdade é exclusiva do paciente. Tal verdade não pode receber o testemunho da percepção de terceiros; tampouco, da inferência lógica, ou, outra ferramenta qualquer.

Além dessa, podemos lidar com a verdade acidental; se “chutamos” a resposta numa questão de múltipla escolha e acertamos sem saber “copulamos” com a verdade no escuro.

Então, se a verdade não for absoluta, deixa da essência de ser, e torna-se mero estar, sentir, parecer... Ora a afirmação de Goebbels que uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade, requer, para firmar-se no terreno lógico, que uma verdade muitas vezes repetida se torne mentira. Se a repetição exaustiva obra isso de perverter o ser, a conclusão se faz necessária.

Não senhores, uma mentira repetida à exaustão pode acomodar-se à preguiça mental de um, ou, de muitos, e, mesmo posando eventualmente de verdade, será apenas a velha mentira usando roupa alheia.

Outra distinção que os pensadores se ocupavam, era entre o ser em si, e o ser para si. Simplificando: O que o coisa é; e, o que significa para mim.

Se, definirmos a verdade em si é um poço fundo e nos falta corda, como disse a Samaritana ao Senhor, a verdade para nós, o que nos significa, isso está ao nosso alcance. Porém, só os homens deveras livres podem lidar com isso de modo coerente.

Pois, os que sofrem a febre das paixões gostam da verdade, vociferam por ela quando a mesma os beneficia, e tudo fazem para ocultá-la, quando lhes desfavorece.

Contudo, como reagiríamos se soubéssemos que alguém está falando alhures, inverdades graves a nosso respeito? Geralmente o sentimento é de indignação, revolta; desejo de colocar os pingos nos is desmanchando a mentira.

Ora, se projetaríamos as garras do Wolverine para fora em defesa da mesma, a verdade deve ser algo valioso, bom. O homem que agarra-se à verdade mesmo quando ela lhe desfavorece faz uma espécie de “delação premiada” contra si mesmo; assume publicamente eventuais falhas pelo prêmio da preservação da dignidade moral, da integridade psíquica.

Quando, eventualmente ela se volta contra mim, não significa que tenha se tornado má; segue sendo o que é. Errarei uma vez mais, se, pretender “consertar” maus passos vilipendiando a verdade. Um erro não conserta o outro, como diz o adágio.

Quando O Senhor ordenou que fizéssemos aos outros, o que desejamos para nós, outra coisa não implica, isso, senão, que sejamos verdadeiros até em nossos sentimentos mais caros, que patrocinam nossas ações.

No mundo atual a verdade é a visitante menos desejada, pois, as faculdades de raciocinar e falar, que nos fazem “superiores” aos animais, têm sido usadas mais para ocultar que para manifestar a realidade dos fatos. Isaías o profeta anteviu nossos dias. “...o direito se tornou atrás; a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar.” Is 59;14

Os cultores da mentira acreditam que podem “criar” fatos a partir de narrativas repetidas. Não criarão; e quando estiverem enferrujados na lata de lixo da história, além dos fatos nefastos que tentam ocultar, pesará sobre eles essa pecha de falsidade engajada, hipocrisia atuante.

Andamos demais na senda da destruição de valores; ou retomamos e apreciamos devidamente o que nos é caro, ou nossa sociedade implodirá de vez no salve-se quem poder, na barbárie do triunfo da força, apenas.

O banquete dos sentidos costuma não convidar à razão; o agradável sempre é convidado em seu lugar.


“As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são verdadeiras.” Lao-Tsé

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