domingo, 30 de outubro de 2016

Delação premiada

“Não há trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que praticam a iniquidade.” Jó 34;22

A necessidade de se esconder, ou, esconder atos, que, no fundo, dá no mesmo, é filha do medo. Ninguém pensa se esconder quando ciente da aprovação pública, quiçá, Divina. A “nudez” que incomodou Adão fazendo ter medo de Deus, outra coisa não era, senão, certeza de O tinha afrontado, desobedecido; junto ao medo nasceu uma irmã gêmea, a ignorância. Sim, presumir que se poderia esconder de Deus, fora, superdimensionar as possibilidades do esconderijo, e ignorar a Onisciência Divina.

Quiçá, observando erros pretéritos, Davi escreveu seu inspirado canto, realçando isso: “Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não posso atingir. Para onde me irei do Teu Espírito, ou, para onde fugirei da tua face? Se, subir ao céu, lá tu estás; se, fizer no inferno a minha cama, eis, que tu ali estás também. Se, tomar as asas da alva, habitar nas extremidades do mar, até ali, tua mão me guiará, tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; a noite resplandece como o dia; trevas e luz são para ti a mesma coisa.” Sal 139;6 a 12

Assim sendo, só em consórcio com ignorância é possível a insana tentativa de se ocultar de Deus. O Salvador denunciou a opção pela maldade dos que O rejeitaram, na ilusão que o escuro que os cercava bastava para os “proteger”. “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, para que, suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

Uma coisa é evadir-se dos olhos humanos, isso é fácil: “... os olhos dos adúlteros aguardam o crepúsculo, dizendo: Não me verá olho nenhum; ocultam o rosto, nas trevas minam as casas, que de dia se marcaram; não conhecem a luz. Porque a manhã, para todos eles, é como sombra de morte; pois, sendo conhecidos, sentem pavores da sombra da morte.” Jó 24;15 a 17 Não só agem nelas, como identificam-se com as trevas, tendo aí, seu dileto habitat.

Essa “coisa fácil” protege do temor dos próprios homens, nada vale no tocante ao Senhor. Ele colocou uma lâmpada em nosso escuro, e ficamos sempre bem visíveis; “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo interior até, o mais íntimo do ventre.” Prov 20;2

Feixes dessa lâmpada assomam na consciência; olhando ali, seja dia, seja noite, Deus nos vê, diáfanos. Quando somos exortados a confessarmos nossas culpas, não se trata de uma tortura espiritual para que “demos o serviço” contando algo que Deus não saiba. O “Estado” conhece amiúde nossa corrupção, mas, invés de punir, insta culpados a uma “delação premiada” contra si mesmos. O reconhecimento das culpas, confissão, pelo prêmio excelso, do perdão. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas, quem confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Prov 28;13

No fundo, os que mantêm distância de Deus sabem o que fazem, pois, falta-lhes ousadia para enfrentarem a si mesmo, aí, evitam a genuína Palavra de Deus, sabendo do que é capaz. “Porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que espada alguma de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do espírito, das juntas e medulas; é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” Heb 4;12 e 13

Enfim, podemos trair nós mesmos devaneando um esconderijo de avestruz, que não vendo presume-se não visto; ou, assumirmos nossa nudez ante Aquele que por Sua imensa misericórdia, nos pode “revestir de Cristo”.

Tanto quanto, ao requerer que oremos pelo que tenciona fazer, Deus não busca ajuda, mas, identificação dos filhos, ao demandar confissão de pecados, não busca informação, antes, arrependimento, daqueles que anseiam andar Consigo.

Quando Sua ira se derramar em julgamento nenhum esconderijo valerá, a não ser, para quem, abraçando Sua Palavra em tempo, se arrependa, mude, e se esconda Nele. “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.” Sal 91;1

“Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.”
Augusto Cury

sábado, 29 de outubro de 2016

Pelados com a mão no bolso

“No outro dia depois da páscoa, nesse mesmo dia, comeram, do fruto da terra, pães ázimos e espigas tostadas. E cessou o maná no dia seguinte, depois que comeram do fruto da terra, os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram dos frutos da terra de Canaã.” Jos 5;11 e 12

Deparei com um jornal promocional de uma dessas igrejas empresas da moda, jogado na área de minha casa. Dei uma olhada superficial nas mensagens e “testemunhos” e fiquei maravilhado com o que “Deus está fazendo” depois que o líder deles aprendeu, e passou a ensinar “como tomar posse da bênção”. São curas e mais curas, casamentos reconstruídos, libertação dos vícios, enriquecimento, empregados virando patrões, etc.

O utópico Eldorado, a cidade do ouro, devaneio de antigos conquistadores, parece ter sido encontrado por tais crentes. Chego a pensar, se, esse seu marketing agressivo logra adesões, ou, enseja frustrações de “normais” como eu, que vivem aos trancos e barrancos, com saúde e doença, lucros e prejuízos, vitórias e derrotas pontuais, erros e acertos...

Sim, ao ler tão grandiosas conquistas que alardeiam, descubro-me mui aquém de sua estatura, e resulta necessária a conclusão que, se, ter fé é isso, não sirvo para o papel.

Uma coisa que me ocorreu foi pensar como seria a Bíblia, se, invés de inspirada pelo Espírito Santo, como é, fosse por esse espírito utilitarista-profano, com suas superficialidades vis, seu seletismo ufanista, parcial.

Por certo, Noé não teria se embriagado, Abraão e Sara não teriam duvidado, Jacó não teria trapaceado Esaú, nem, Labão, Moisés não teria se irritado, ferido a Rocha, Davi teria casado com uma viúva, não, adulterado, quiçá, a culpa pela queda seria exclusivamente do inimigo...

Esses párias espirituais, sem noção, quanto mais pretendem mostrar a “Grandeza de Deus”, mais desnudam sua pequenez mesquinha, sua idolatria egoísta, testemunho inequívoco, que não passaram pela cruz.

Para desespero de ateus e ateístas, que gostariam muito de tachar À Palavra de Deus como mero compêndio humano, as falhas dos heróis bíblicos estão lá, graves, verazes, sem máscaras. Mesmo as angústias do Salvador em Seu esvaziamento, registradas: “Pai, se possível, passa de mim este cálice; todavia, não se faça minha vontade, mas, a tua.” Luc 22;42

A ação sobrenatural de Deus se dá diante de necessidades, como, fazer cair o Maná no deserto sem o qual, a nação de Israel pereceria. Mas, como vemos nos versos acima, quando o povo entrou na terra prometida cessou, era hora de trabalhar.

Há duas razões, pelo menos, para olharmos desconfiados para ensinos assim: Primeira; a prosperidade material não é, necessariamente, Vontade de Deus para seus filhos, muitos fiéis morrem pobres. Segunda; Deus faz sol e chuva descerem sobre todos, justos e injustos, as coisas atinentes à preservação da vida natural não requerem fé, de modo que, as mesmas não patrocinam testemunho nenhum.

Ademais, dos convertidos se espera uma mudança cabal, de alvos, mente, valores, vida; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5;17 Então, se alguém se diz convertido, e pretende legitimar isso pela conquista “gospel” das velhas coisas, aquilo que pretende como afirmação da fé, é justo, a negação.

O novo nascimento é espiritual, a mudança necessária é interior, a qual, quando genuína, não muda circunstâncias adversas em favoráveis, antes, a reação humana, a elas, como ensinou Paulo: “...aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, sei também ter abundância; de toda maneira, em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, quanto a ter fome; tanto a ter abundância, quanto, padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” Fp 4;11 a 13

O jornaleco que deveria acender dois cifrões em minhas retinas, me fez sentir como Paulo no Areópago. Andando triste entre os testemunhos mortos de uma religiosidade idólatra, sem vida, e eventual menção ao Deus verdadeiro anexa à confissão de ignorância; “Ao Deus Desconhecido...

Justo entre os gregos, fonte da mitologia, deuses imortais, Paulo apresentou Deus “natural, mortal”, “loucura para os gregos, escândalo para os judeus, mas, para os salvos, Sabedoria de Deus, pois, a loucura de Deus é mais sábia que os homens.”

O serviço humilde ensinado pelo Salvador que lavou os pés dos discípulos sequer se aproxima dessa doutrina perita em formar zangões espirituais, como se, os “ímpios” devessem correr atrás com seus meios, e esses, “santos”, prosperassem mediante mandingas, palavras arrogantes cuja obscenidade não salta aos olhos porque a cegueira adjacente é o traje a rigor nesse campo de nudismo espiritual.

Adão e Eva estavam nus e não se envergonhavam por falta de motivo; esses, por falta de vergonha.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Mesa do Senhor

“...nenhum fermento, nem, mel algum, oferecereis por oferta queimada ao Senhor...todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal...” Lev 2;11 e 13

Sal, tinha função conservante, além de tempero, em tempos que não existia outro meio. Assim, O Criador o fez indispensável em suas ofertas. Se, aceitação das ofertas as fazia subir em “cheiro suave ao Senhor,” a omissão do sal poderia estragar, causar mau cheiro, literalmente. Entretanto, fermento e mel eram vetados.

Figuradamente o sal tipifica a gravidade no falar, coisa que Paulo aconselhou aos colossenses: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Col 4;6 Por outro lado, o mel tipifica a lisonja, a bajulação, totalmente ausente nos lábios do Salvador, e inconveniente a quem pretende servi-lo. Salomão usou tal figura: “Porque os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, o seu paladar é mais suave do que o azeite. Mas, seu fim é amargoso como o absinto...” Prov 5;3 e 4

O Altíssimo deixou claro que Seu alvo nunca foram as ofertas propriamente; mas, quando essas tipificavam arrependimento, eram-lhe agradáveis, pois, ama ao pecador, e, deseja que esse se arrependa. Por isso, antes da oferta, estrita, observa a vida do ofertante; “...atentou o Senhor para Abel e, para a sua oferta. Mas, para Caim e, para a sua oferta não atentou...” Gên 4;4 e 5

Se a pessoa não for aceita, seus atos, ou, mesmo sua motivação ao cultuar, tampouco será, sua oferta. Deus não precisa de nada e deixou bem claro isso: “Porque meu é todo animal da selva, o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; minhas são todas as feras do campo. Se, eu tivesse fome, não te diria, pois, meu é o mundo e toda a sua plenitude. Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes?” Sal 50;10 a 13

Desse modo, os mercenários que pregam que Deus abençoa mais quem mais “sacrifica”, além de enganarem quem lhes ouve, profanam O Altíssimo. Primeiro, a pretensão de mérito humano é totalmente descabida. Quando diz que, cada um, ceifa segundo semeia, usa uma lógica elementar da natureza, onde sol e chuva se dão igualmente a justos e injustos, como figura de uma lógica espiritual. Cada um ceifará segundo as motivações com as quais semear. “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” Gál 6;8

O Salvador disse que, os hipócritas que oravam para ser admirados pelo povo, o sendo, já estavam recompensados. Semeavam na carne, ceifavam na carne.

A vera semeadura espiritual é “perdulária” não, lucrativa. Sementes são comidas por aves, caem sobre pedras, entre espinhos... um semeia e outro colhe... O Espírito não relaciona-se com ciclos naturais de tempo, tampouco, eventual semeador visa colheita própria, antes, frutos para Deus.

O amor Divino arde em profundo desejo que os pecadores reajam aceitando Sua mensagem; contudo, não retira uma pitada de sal, para que a mesma pareça aceitável a quem ouve. O amor que cobre todas as transgressões, não viola a justiça, para que os pecados deixem de ser o que são.

Erram, pois, os que desviam o foco da decadência moral e liberalizam comportamentos denunciando o “radicalismo fundamentalista” bíblico. O “radicalismo” Divino é de se esperar, se, Deus é mesmo o que pensamos Ser. Perfeito em Poder, e em Sabedoria. Se assim não fosse, estaria evoluindo, aperfeiçoando-se; e, a cada “upgrade” traria uma “PEC” à Sua Constituição Espiritual.

Na verdade as “facilidades” amorais que têm grassado por aí não passam de aversões ao sal; gente que tem profanado as ofertas com o mel das carnais inclinações. Essas, dado que, pareçam doces aos seus proponentes, chegam acres ante O Senhor, pois, “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, pode ser.” Rom 8;7

Quando vou cuidar de minha alimentação, escolho o que me apraz, todos fazem assim, tendo condições. Porém, se vou a casa de outrem, não tenho direito de impor meu gosto em casa alheia. Como alteraria a Mesa do Senhor? “O filho honra o pai, o servo o seu senhor; se, sou pai, onde está a minha honra? Se sou senhor, onde está o meu temor? ... Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que dizeis: A mesa do Senhor é desprezível.” Ml 1;6 e 7

O silêncio é melhor que “orar” a Deus com lisonjas invés de obediência; mel, em lugar de sal; pois, “o ouvido prova as palavras como o paladar prova os alimentos.”

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Nada mais que a verdade

“Muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas, tudo quanto disse deste, era verdade.” Jo 10;41
Normalmente pensamos que um grande profeta é um operador de grandes sinais, necessariamente, como foram Elias e Eliseu, por exemplo. Entretanto, de João Batista, do qual Jesus disse que não havia maior profeta que ele dentre os nascidos de mulher, dele, digo, se registra que não fez nenhum sinal, “apenas” falou a verdade sobre O Salvador.

Essa distorção de pensarmos que A Palavra de Deus não basta, que carecemos eventos extraordinários “corroborando” o ministério de quem fala-nos, tem feito a festa de muitos falsários. Primeiro, nem tudo o que parece milagroso é genuíno; há muitas fraudes desde sempre, como os magos de Faraó imitando parcialmente a Moisés, ou, Simão, que enganava incautos em Samaria e posava de poderoso, até o advento dos apóstolos, o que rasgou seu cartaz. Segundo, mesmo que o sinal seja autêntico, a fonte pode ser espúria, maligna, como as adivinhações da pitonisa de Filipos, que, liberta de seu “poder” ensejou a prisão de Paulo e Silas.

O inimigo, com permissão do Eterno pode fazer coisas espantosas, como a tempestade que derrubou a casa de Jó, ou, o “fogo de Deus” que consumiu as ovelhas daquele.

Então, impressiona ver pessoas de certa envergadura, posicional, pelo menos, avaliando “profetas” pelos sinais, invés de o fazerem à luz da verdade. O cumprimento cabal da Bíblia glorifica a Deus; a adivinhação precisa de algum evento grandiosos glorifica ao “profeta”.

Nesses tempos de esmero tecnológico, hologramas e afins, coisas inauditas são possíveis a quem tem acesso. Isso, no campo da fraude; no aspecto do consórcio maligno, basta “comunhão” com aquele, para ostentar parte de seus recursos, que, se, limitados, inda são grandes.

Embora, ( mesmo sendo Todo Poderoso ) Deus não se preocupe tanto em ser tido como Poderoso, quanto, em ser conhecido como Santo, achamos que, alguém íntimo Dele, deve ostentar poder, mais que santidade. Contudo, segundo Ele mesmo, espera que os Seus amem à verdade acima de tudo. Pois, aos que preferirem a mentira, fará do próprio “poder” da mentira, o juízo de seus amantes. “Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, sinais e prodígios de mentira, com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. Por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.” II Tess 2;9 a 12

Ora, todo o dilema da saga Divino-humana começou nos domínios da mentira. Deus dissera que desobediência culminaria em morte; o “profeta” alternativo, pai da mentira, que a coisa não era bem assim; o casal Edênico deu ouvidos a esse, a morte entrou, deitou e rolou, e inda faz. Natural, pois, que O Altíssimo na profilaxia moral do Reino vindouro extirpe tal câncer de Seu Novo Mundo. “...Ficarão de fora, os mentirosos...”

A verdade nunca teve trânsito muito fácil entre nós por duas razões: a) a queda nos fez imperfeitos, com muitos lapsos morais, espirituais, e aquela, sendo a luz que é, fatalmente colocará em relevo nossas imperfeições; b) uma parcela grande de nossa imperfeição é o ego, o orgulho, que nos impulsiona a mascararmos as faltas com a camuflagem da virtude, isso é impossível ser feito sem, antes, imolarmos em sacrifício às trevas, o cordeiro puro da verdade.

Esse apego ao erro, dado que, mau, fazia os ouvintes rejeitarem ao Salvador, para própria condenação. “A condenação é esta: A luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más.” Jo 3;19

Desse modo, um profeta verdadeiro não labora para nos fazer bem, digo, à nossa natureza caída. Antes, denuncia nossos erros, inquieta-nos com a incômoda luz Divina, pois, como João Batista, fala somente a verdade a respeito do Senhor; Sua Palavra.

Vivemos num cenário de tanta mentira, que, para algumas nuances de saúde social precisamos comprar à verdade. O que são as ditas “delações premiadas”, senão, uma moeda de troca em busca da verdade? Isaías vira esses dias: “Por isso o direito se tornou atrás, a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, a equidade não pode entrar.” Is 59;14

A Verdade é bem mais que um rasgo eventual, de honestidade; é um modo de vida. Por isso, O Salvador exortou à permanência em Sua Palavra, para sermos, verdadeiramente livres. “...Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” Jo 8;31 e 32

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Batalha espiritual

“Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, ele endireitará as tuas veredas.” Prov 3;5 e 6

A batalha milenar pela alma humana, outra coisa não é, senão, a tentativa de conquistar a mente; direcionar o humano pensar; de modo a ser submisso, confiante, obediente, no caso de Deus; ou, perverso, autônomo, independente, se, escolhidos os apontes do maligno.

Paulo deixou patente esses meandros da luta: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, antes, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo conselhos, toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.” II Cor 10;4 e 5

Alguns proponentes da famigerada “batalha espiritual” levam as figuras ao pé da letra, quando, deveriam atentar mais para a substância, o que se pretende, ao adjetivar A Palavra de Deus, como Espada do Espírito. Muitos imaginam cenários “Star Wars” com armas laser sendo usadas em combates; pode ser uma boa figura, mas, na realidade, a luta é diferente.

A Batalha é mesmo, espiritual, por causa da fonte; há dois espíritos em conflito; mas, é também mental, por causa do alvo, a conquista dos pensamentos humanos, que, uma vez logrado, pautará as ações, as escolhas que fazemos.

Desse modo, o destro na peleja não é alguém que “sai do corpo” e bate-se numa esgrima de laser, como ensinam alguns incautos, antes, é um que sai das carnais inclinações, adestra seu pensar e agir, segundo Deus. “Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem, os vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55;8 Um que afia a espada. “Se estiver embotado o ferro e não se afiar o corte, então, se deve redobrar a força; mas, a sabedoria é excelente para dirigir.” Ecl 10;10

Vulgarmente chamamos, “conhecer” a saber da existência de alguém, ou, de algo. Contudo, é mais profundo que isso. De quem conheço, conheço também, gostos, hábitos, rotinas, valores... E, O Eterno nunca colocou em pouca relevância a necessidade dos Seus O Conhecerem. “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também te rejeitarei...” Os 4;6 “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos.” Ml 2; 7 “A vida eterna é esta: que conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17;3 “Porque eu quero a misericórdia, não, sacrifício; e, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” Os 6;6 etc.

Na verdade, no verso inicial somos desafiados a reconhecer Deus, em nossos caminhos. A palavra “reconhecer” encerra a ideia de conhecer de novo. Assim, conheço diretrizes Divinas, quando as aprendo, isso é teoria; reconheço, quando pratico-as.

Sabedor das naturais tendências dos pecadores, Paulo os desafiou a uma mudança de mente, para que pudessem, enfim, conhecer a Vontade de Deus. “Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, perfeita, vontade de Deus.” Rom 12;2

O analfabetismo bíblico que grassa em nosso tempo, tolhe que as pessoas possam avaliar o que ouvem, se, é mesmo, Palavra de Deus, ou, mera perversão do guru da moda. Quem, como o pródigo, conhecera o alimento da casa paterna, facilmente rejeitará como insossas as alfarrobas dos porcos; contudo, quem nunca teve tal experiência, como se livrará da “dieta maligna” se, aprendeu a gostar dela, e, lhe faltam parâmetros para identificar a origem?

A armadura de Efésios, tão apreciada pelos “soldados” dessas batalhas, nada mais é que, figura, do valor da justiça, verdade, fé, salvação, Evangelho da Paz, Palavra de Deus.

O que nos imuniza contra heresias, é a edificação, não, uma bravata de pretenso guerreiro, que, sequer entendeu a natureza da batalha. “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” Ef 4;12 a 14

Enfim, parece atraente ouvirmos as bravatas de certos “Astros de MMA” gospel, com suas receitas belicosas; mas, aos Seus, Deus reserva recursos mais excelentes. “Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra...” Ecl 9;18 Os valentes de Deus, invés de músculos avantajados, possuem ouvidos atentos. “O que me der ouvidos habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1;33

sábado, 22 de outubro de 2016

David Owuor, verdadeiro, ou, falso profeta?


“És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” Mat 11;3

A essa pergunta de João Batista, Jesus fez muitos sinais, ordenou que se dissesse a ele. Depois, falou sobre a envergadura de João, o maior dos profetas. Ambos, foram preditos por Malaquias; Um, o Anjo do Concerto, outro, Elias. De modo que, seu aparecimento em cena era cumprimento profético cabal.

Antes do Messias vieram “ladrões e salteadores”, atos relembra: “Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou-se uns quatrocentos homens... foi morto, todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos... Depois, Judas, o galileu... levou muito povo após si; mas, também este pereceu, todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos.” Atos 5;36 e 37

Enfim, o concurso de falsos profetas, mestres, até “Messias” alternativos, sempre houve. Quando hereges de pequena monta vicejam, após denunciarmos seus erros a quem nos ouve, batemos umas panelinhas na sacada quando falam, e, está resolvido.

Porém, quando surge alguém com reivindicações globais, e a envergadura pretendida por David Owuor, o keniano, aí, precisamos uma análise mais profunda.

Sua mensagem, tanto quanto conheço, baseia-se em três pilares bíblicos: Arrependimento, santidade, e, volta de Jesus. Entretanto, ao redor desses pilares crescem algumas ervas um tanto estranhas ao cenário.

Assisti uma entrevista dele a certo pastor, Alan, que deu em sua casa, onde relata seu chamado. Doutor de alto nível, pesquisando cura do câncer, aids, moléstias dessa ordem, foi instado a deixar tudo, para profetizar, segundo ele, não ao mundo, mas, à igreja.

O Senhor o teria levado a uma reunião com Moisés, Daniel, e Elias, e dissera que ele seria o quarto profeta na Terra, daquela envergadura. 

Começamos a ter problemas. Primeiro, os grandes profetas eram chamados de baixo, o Moisés que não sabia falar, o pecador Isaías, a criança Jeremias, o humilhado Ezequiel cozinhando com esterco, o cativo Daniel, o errante Elias sustentado por corvos, depois, uma viúva... Nenhum começou seu ministério de cima para baixo. Ademais, O Senhor disse que o maior de todos é João Batista, mas, na “visão” de David, ele ficou fora do G4.

Paulo, malgrado suas credenciais, era da oposição, depois de cair do cavalo careceu três anos de ostracismo, um recall espiritual, para, enfim, entrar em cena, de vez; foi ele que ensinou: “Deus escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” I Cor 1;28 e 29

Outra coisa que chamou-me atenção foi que “Deus” lhe teria apontado uma revelação qualquer com a mão esquerda; orando pela adesão do Primeiro ministro de seu país o instou a erguer a esquerda aos Céus para firmar compromisso, e noutro contexto que esqueço agora, a mão esquerda aparece uma vez mais. Inevitável a evocação do ensino de Cristo que as ovelhas ficariam à destra, os bodes à esquerda, ou, o fragmento de Isaías: “...te sustento com a destra da minha justiça.” Is 41;10

Acontece que, se João Batista e Jesus foram previstos, e, ainda estão, as “duas testemunhas vestidas de saco”, ele aparece num lapso bíblico que destoa da forma Divina de agir. Faz chover, prevê terremotos, tsunamis, etc. mas, isso encaixa também nos artifícios da falsidade preditos, vejamos: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fosse, enganariam até os escolhidos.” Mat 24;24

Um profeta deve ser conhecido pelos frutos, não, pelos sinais. Não tenho conhecimento que sua mensagem seca, ameaçadora, tenha avivado igrejas por onde passa. O que tem frutificado é idolatria, tapete vermelho ao redor do Dr. Como é chamado, e fanatismo cego de seus seguidores. Nada cobra por suas visitas, e jacta-se disso, mas, isso não é credencial espiritual, necessariamente.

O aperfeiçoamento dos Salvos é obra do Espírito Santo, sem nenhum novo “Grande Profeta”; “...aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” Fp 1;6 Faz isso, “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” Fp 4;14

Mais; disse que já lhe foi mostrado o anticristo, mas, não pode revelar. Deus não faz joguinhos com seus profetas, tipo, eu sei, você não sabe. Como pretende ser uma voz à Igreja, deve estar preparando o “pulo do gato” sobre incautos.

Já temos na Palavra “tudo o que diz respeito à vida, piedade”. Se eu quisesse caçar determinado animal usaria como isca algo que ele gosta, óbvio. Então, berrar algumas coisas que parecem bíblicas, não me convence, quando outras tantas, destoam. Minhoca parece alimento aos peixes, contudo, é disfarce da morte.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Viva a República de Curitiba!

“A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial.” Shakespeare

Resumindo: A culpa enseja, medo. Isso foi versado por Salomão em seus dias, disse: “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas, os justos são ousados como um leão.” Prov 28;1
Assim, resulta natural, medo, suspeita, ao culpado; confiança, ousadia, ao justo.

Soubéssemos tão somente ler as reações das pessoas, e chegaríamos, por dedução lógica, às suas ações. Um inocente, invés de se dizer perseguido disponibilizaria suas coisas todas à polícia, certo de que, nada de comprometedor seria encontrado.

Porém, ao deslocarem elementos da polícia legislativa, quatro senadores, para que fizessem contra a lei, “varreduras” em suas residências, tais, deixam claro seus medos, e por conseguinte, que tinham algo a esconder. A primeira forma de esconder, pois, a de não mostrar, atua nos conchavos que fazem oculto; vazando esses, vão para a segunda, a de “mostrar” não; digo, negar em discursos o que as pistas insistem em apontar.

Outra falácia que implodiu foi a balela petista que as investigações são uma perseguição da direita contra seu partido, pelo ódio das elites por serem eles tão bons para os pobres, e outros vômitos mais. A Lava Jato caça criminosos de todas as siglas, Cunha, Sarney, Renan, Lobão, e claro, petistas também, tantos, quantos, tiverem culpa no cartório.

Lula, o presidiário adiado, prisão que é sonho de consumo de dez entre dez brasileiros decentes, insiste na cantilena que é um perseguido político e, são suas qualidades não suas culpas que lhe pesam. Então, tudo não passaria de uma armação para tirá-lo da peleja em 2018. Assim sendo, seria necessário concluir que temos um Estado policial, como têm as ditaduras, que, invés do império das leis, labora contra desafetos políticos.

Contudo, se as garras da polícia começam arranhar as paredes do Senado, quiçá, do Palácio Presidencial, qual político estaria por detrás da polícia?

Claro que corrupção sempre houve em todos os partidos, mas, o “mérito” do PT foi elevá-la ao superlativo de modo a se tornar insuportável; isso deu azo às famosas dez medidas, à Lava Jato, e, não venham as viúvas de plantão dizendo que o número de Petistas envolvidos é menor que o PP e PMDB, por exemplo, como se, o loteamento da Petrobrás e subsidiárias entre esses, não tivesse sido obra do PT. Eles, que quando na oposição eram os da “ética na política”, no governo a incrementaram, expandiram, terceirizaram.

Agora, descobrimos que pagamos policiais para protegerem aos senadores que “nos representam”, e outros policiais, para prender àqueles, que foram corrompidos pelo sistema, para blindar a quem, de fato, nos rouba.

O descalabro moral, ausência de valores é tal, que alguém faria um navio colando fósforos um no outro, antes de fazermos um país decente com gentalha dessa estirpe. Ah, e não venham as viúvas apressadas a dizer, e do FHC e Aécio não falas? Falo. Se tiverem culpa no cartório, e mesmo tratamento que aos outros, a eles, simples assim. Nenhum ladrão me representa.

As palavras, arte dos parlamentares, os discursos, o esmero dessa arte, deveriam ser usadas como suportes de argumentos, defesas de valores, ideias para construção de um país; não raro, têm se prestado a artifícios vis, como se alguém diante do monturo da corrupção, invés de remover tal incômodo resolvesse cobrir com a grama das falácias e adornar com as flores carnívoras, da retórica. Há muita bosta adubando os jardins de Brasília.

A maioria deles, quando fala, invés de nos estimular ao raciocínio acompanhando o que dizem, nos faz pensar em panelas e instrumentos de bater, os saquinhos dos neurônios gritando que não aguentam mais.

Todo apoio, pois, a Sérgio Moro e equipe, Ministério Público, Polícia Federal, gente em ínfima minora, caluniados por indecentes, trabalhando com riscos ao enfrentarem os grandes, por um país melhor.

Chega de doutrinação ideológica nos colégios! Que professores se limitem a formar cidadãos capazes de pensar, não, de serem “chipados” com pensamentos tendenciosos de mestres sem escrúpulos.

Chega de impunidade para baderneiros, atendam pela alcunha de UNE, MST, MTST, Black Blocs, ou o cacete. Lei igual para todos, descumpriu, pague.

Vergonha uma nação com potencial para ascender ao primeiro mundo, dar vez à “vanguarda do atraso”, empreender toda sorte de ilícitos rumo ao totalitarismo monocromático de ladrões.

Reações violentas são previsíveis ao se tocar pela primeira vez nos “intocáveis”; como não têm escrúpulos, as mortes de Celso Daniel e recentemente, do sobrinho do Lula, mostram isso, coisas piores, digo, podem acontecer.


Que aconteçam! Qualquer preço há de ser menor que uma nação sofrida seguir bancando as sanhas megalomaníacas dessas sanguessugas. Viva à República de Curitiba!! Abaixo à Republiqueta de Propinópolis!

Cirurgia espiritual

“Não seguirás a multidão para fazeres o mal; numa demanda não falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem, ao pobre favorecerás, na sua demanda.” Êx 23;2 e 3

Nem sempre usamos os remédios que receitamos, uma vez que é fácil, até, falarmos com certa sabedoria; difícil é praticar. Mesmo A Palavra de Deus, mui suave aos lábios, digerida, muda um tanto, seu sabor. “Fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. Ele disse-me: Toma-o, come-o; ele fará amargo teu ventre, mas, na tua boca será doce como mel.” Apoc 10;9

Crianças psíquicas que somos, nem precisamos de regras explícitas para plasmarmos nossas redes virtuais de doçuras, de cantos de ninar, bajulações mútuas, pois, tendo em nós o infante paladar, presto identificamos, o alheio.

Nos dois versos iniciais temos nuances do Paladar Divino; a maioria não está necessariamente certa, tampouco, ser pobre é credencial moral numa disputa. Contudo, em nosso sistema governamental, sobretudo, a maioria está sempre “certa” ela diz quem vai mandar, seja analfabeto, ou, letrado, corrupto, ou probo; quem ela escolher está ungido, “a voz do povo é a vos de Deus”.

Muitos, aliás, logram apoios majoritários colocando-se como defensores incondicionais dos pobres, como se isso fosse um mérito em si, ou, pobreza, credencial. Há casos distintos, mesmo aí.

Desse modo, patenteamos que discordamos cabalmente dos valores diletos do Criador. Ele, invés da primazia do seu favor carrear aos desvalidos materiais, atenta, antes, a valores espirituais, morais, que abraçamos, malgrado nossa envergadura. “Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” Sal 45;7 Essa partícula do hino alude à unção especial do Messias, por amar os valores do Céu.

Assim, quando Ele começou suas bem aventuranças pelos “pobres de espírito” basta que leiamos com atenção para vermos que nada tem com a condição social, antes, espiritual. Um pobre de espírito é alguém que reconhece carências, precisamente, nessa área.

Temos o exemplo do eunuco Etíope, homem rico, que lia Isaías o profeta, sem entender. Filipe, conduzido a ele pelo Espírito Santo perguntou: “Entendes o que lês? ... Como poderei entender, se alguém não me ensinar? Rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.” Atos 8;30 e 31

Não fosse pobre de espírito teria dispensado ajuda de um andarilho eventual, afinal, era um Ministro cheio da grana, de que mais teria necessidade. É, muitas pessoas fecham-se para Deus com as chaves do ouro que Ele mesmo Deu; os pobres de espírito reconhecem que, as riquezas, posto trazerem certo conforto eventual, nada obram nas veredas espirituais.

Óbvio que a vera conversão não é uma coisa fácil, pois, nossa formação secular laborou sempre num vácuo espiritual, nos fazendo ter como normais, coisas que são erradas, abjetas, abomináveis, até, ante O Senhor. A natureza caída, que a Bíblia chama, carne, faz mais que rejeitar os valores celestes, opõe-se em inimizade. “Porque a inclinação da carne é morte; mas, a inclinação do Espírito, vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à Sua Lei, nem, em verdade, pode ser.” Rom 8;6 e 7

Se, a carne não pode viver segundo os altos padrões celestes, restou A Deus regenerar espiritualmente, aos que lhe dessem ouvidos. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito, espírito.”Jo 3;5 e 6

Erram grosseiramente, pois, os que equacionam conversão com mera adesão ritual, mudança de religião, “passa pá crente”...
A conversão provida Por Jesus Cristo, transporta das trevas para a luz, da morte para a vida. Só então, invés de recrudescermos em nosso desacordo com O Santo, repensamos. Ele disse: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” Am 3;3 Óbvio que não.

Para andarmos com Deus carecemos mudar, antes, de mentalidade, depois, atitudes. Não podemos agir sem pensar, então, “Deixe o ímpio o seu caminho, o homem maligno os seus pensamentos, se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque, meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55;7 e 8

O centro de nossa personalidade, intelecto, emoções, vontades, nosso coração; daí, saem fresquinhas nossas ações para o teatro da vida. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

O novo coração prometido mediante Ezequiel, vem por uma “cirurgia” espiritual, “anestesiados” pelo Espírito Santo, sob o bisturi da Palavra de Deus.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O tempo das asas

“Tudo tem o seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ecles 3;1

Não significa, tal afirmação, um fatalismo cronológico dentro do qual, o homem deixaria de ser arbitrário, antes, uma dimensão espaço-temporal, finita, na qual, deve exercer suas escolhas. Escolhas, essas, que podem abreviar, quando não, dar fim, a esse mesmo espaço.

A “condenação à liberdade” traz como penas as consequências, e, das tais, não podemos nos evadir. Muitos conflitos, dores, derivam de uma má compreensão de nossa situação ante o tempo. Para Sara, esposa de Abraão, por exemplo, passara o tempo para ter um filho; como Deus “falhara” em cumprir Sua promessa, planejou um arranjo periférico tomando sua escrava como “barriga de aluguel.” Ora, é certo que, no prisma da lógica humana, suas “credenciais” maternais não ajudavam, entretanto, quem prometera fora O Eterno, que tem outra relação com o tempo, diverso das coisas criadas, “debaixo do céu”. Onde a lógica fraqueja, a fé tem ocasião de se mostrar mais robusta.

Assim sendo, o “homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus...” devemos “comparar as coisas espirituais com as espirituais.” Nossa relação com o tempo natural está ao alcance de todos. “Sabeis discernir os sinais dos céus...” Contudo, os tempos espirituais, demandam certa relação mais apurada com Aquele que É “Pai da Eternidade.” “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5 Ou, “Muitos serão purificados, embranquecidos, provados; os ímpios procederão impiamente, nenhum dos ímpios entenderá, mas, os sábios entenderão.” D 12;10

Deus privou-nos da data exata do nascimento do Salvador, bem como, Sua volta, pois, a primeira não parece relevante para nossa salvação, a segunda, seja quando for, não irá surpreender aos “sábios”, tampouco, alimentar excitação hipócrita de oportunistas. Dos Seus, Ele espera um relacionamento sadio “full time”, não ao açodo de imediatismos egoístas. “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, nunca falte o óleo sobre tua cabeça.” Ecl 9;8

“O tempo fez muito bem a você”, usamos dizer a alguém, cujo decurso dos dias não marcou tanto. Porém, mais, ou menos formosas, as coisas finitas rumam à decrepitude, ao fim. Embora possa ter sua vantagem eventual tecermos um belo casulo, no fim das contas, valerá, com quais asas dele sairemos, o demais, é biodegradável.

Como nossa tênue relação com o tempo oscila frágil pingente pelo fio da vida, é presunçoso deixarmos para amanhã, ou, um futuro indefinido decisões vitais, que respeitam ao “resto” de nosso tempo, a eternidade. Tiago pincelou essa fragilidade: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Que é a vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco, depois, desvanece.” Tg 4;14

Em face disso, A Palavra sempre é apresentada com senso de urgência, para ser abraçada imediatamente, e, eventual ouvinte descuidado não ser precipitado no abismo tendo estado na Porta do Céu. “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes sua voz, Não endureçais vossos corações...” Heb 3;15

É comum as pessoas dizerem a coisa certa pela razão errada. “Viva cada dia como se não houvesse amanhã, como se fosse o último”. Quando atentamos, amiúde, para a intenção das palavras, vemos que, não raro, a ideia é “curtir a vida” dar-se aos prazeres; não, estar espiritualmente preparado para iminente encontro com O Senhor. Invés, de, aproveite hoje como se, tua última oportunidade de salvação, dizem: Peque até à última gota, justifique bem tua perdição.

Muitos são levados por fontes espúrias a crer que, haverá sempre novas oportunidades, reencarnações. Quem não for salvo nesse tempo será noutro. Pode ser mais fácil crer assim, contudo, não é certo. Sem essa que Espiritismo é Bíblico, tampouco, cristão. Dizem que O Prometido Espírito Santo seria a revelação da doutrina espírita prometida por Cristo, mentira!

O Salvador, aludindo ao Espírito Santo disse que, vindo, “Convenceria o mundo do pecado, da justiça, do juízo”, ensinos ausentes no espiritismo; mais: “Vos fará lembrar minhas Palavras”, disse. Nada fora escrito, até então, do Novo Testamento, O Espírito escolheu vasos para isso, e capacitou após.

A salvação depende de “Novo nascimento” sim, mas, nesse mesmo corpo pecaminoso, arrepender-se dos erros, confessar, receber Jesus como Senhor, obedecer. Não se trata de novo corpo para esse espírito, antes, um novo espírito para esse corpo, potencializado pelo Espírito Santo. “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3;6

Mediante Jeremias, Deus dera tempo e ensinos que teriam salvado seu povo de cativeiro iminente. Não deram ouvidos, nem aproveitaram seu tempo. Não aconteça o mesmo conosco, para não termos que falar como aqueles: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.” Jr 8;20

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Amor; em nome do Pai


“O Senhor vosso Deus é Deus dos deuses, Senhor dos senhores, Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas; faz justiça ao órfão, à viúva, ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa. Por isso, amareis o estrangeiro, pois, fostes estrangeiros no Egito.” Deut 10 17-19

Normalmente, quando pensamos num servo de Deus, idôneo, imaginamos alguém com identidade espiritual, moral, com Seu Senhor; certamente deve ser assim mesmo, se, de fato, O serve. Entretanto, no texto supra encontramos Ele demandando identidade sentimental. “Amareis ao estrangeiro... pois, Vosso Deus, ama...”

Religiosidade puramente formal, desprovida de sentimentos equivale à fé sem obras denunciada por Tiago como, morta. Aos Fariseus que isso faziam, Jesus, chamou, hipócritas; aos demais que O ouviam, desafiou a ir além. “Porque vos digo que, se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” Mat 5;20 “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus.” V 48

O amor requerido foi equacionado com justiça, não, mero sentimento. Mas, diria alguém, Israel fora injustamente tratado no Egito, quando estrangeiro, logo, “baixar a lenha” em eventuais estrangeiros que peregrinassem em seu meio seria uma questão de justiça, olho por olho.

É, assim como, obediência pode ter sua faceta puramente formal, também, justiça. O, “ama a teu próximo com a ti mesmo”, significa não fazer-lhe o que não desejaria para si, pouco importando o histórico. Se, quando cativos, oprimidos, sofriam com isso, não desejavam tal sorte, em liberdade, não deveriam fazer, o que lhes era mau, simples assim.

Contudo, frequentemente deparamos com “cristãos” que publicam nas redes sociais versos bíblicos de grande relevância sobre, amor; não muito depois, frases com seus sentimentos em relação aos “estrangeiros” de suas relações. “Ainda vou calar a boca de muita gente.” “Esses que falaram mal de mim, vão ter que me engolir”, etc. coisas assim testificam desejo de vingança, egoísmo, carnalidade de açougue, malgrado, a presunção de servirem a Deus.

É vero que, circunstancialmente foram necessárias guerras, por duas razões: a) A iniquidade dos cananeus enchera todas as medidas e Deus, como juízo decidiu bani-los da Terra; b) Israel seria o povo a ocupar seu lugar para dar frutos melhores. Naquele contexto, violência era um mal necessário.

Porém, estabelecidos em Canaã, cumprida a “plenitude dos tempos,” vindo O Salvador, o alvo passou a ser a salvação espiritual, não a conquista da Terra. Por isso, Ele reformulou: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;” Mat 5;43 e 44

Vimos que o alvo não é a posse de uma nesga de terra, mas, filiação espiritual; “...para que sejais filhos...”. Que decepcionante quando me deparo com a versão “gospel” da frase do macumbeiro que teria dito: “Não mexe comigo, que ponho seu nome no meu terreiro.” A “cristã” ficou assim: “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares.” Noutras palavras: Deseje-me apenas coisas boas, senão, meu Deus te pega. Que vergonha!

Deus é tão “meu” quanto do outro; não encontro nenhuma razão pela qual Ele deva amar mais a mim que ao “estrangeiro”. Se, eventualmente tivermos, eu e ele, relações distintas com O Eterno é circunstancial; estou salvo? Cuidado, posso cair! Ele ainda não está? Eis um motivo para orar, Deus o Ama. Mesmo que o sentimento não ajude, a justiça requer que eu o ame também.

Entretanto, a onda tem sido ensinar nossa geração investir num “banco” falido. O empregado é desafiado “gospelmente” às mandingas que breve, o farão patrão. O Mestre ensinou diferente: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e ferrugem tudo consomem, onde os ladrões minam, roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, onde os ladrões não minam nem roubam.” Mat 6; 19 e 20

Não é crime ter dinheiro, lutar para prosperar; mas, é erro grave desviar o foco da Palavra de Deus, transformar meios em fins.

Sempre haverá “estrangeiros”, doentes, desvalidos, presos, aos quais, quando fizermos o bem, “a mim o fizestes” disse O Senhor.

Enfim, não sejamos tão “espirituais” a ponto de presumir chegar a Deus ignorando ao próximo; tampouco, humanistas devaneando soberbamente salvação por méritos. 


Afinal, boas obras são um caminho para nosso andar espiritual. “As necessidades materiais do teu próximo, são tuas necessidades espirituais”. Israel de Salant 

Quando o lapso alheio e o meu se encontram, só o Amor de Deus, pode suprir a ambos.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

As botas do diabo

“Botas...as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.” Machado de Assis

Essa tirada bem humorada faz pensar em aspectos distintos do que, chamamos, prazer. Tanto pode ser um “upgrade” sensorial, usufruto de um deleite qualquer, quanto, retorno a uma situação normal, que, sem o concurso da anomalia acossando, poderia, até, ser reputada tediosa. Assim, ao saudável, apraz desfrutar diversões, sensações, conquistas, ao encontro das quais, corre; eventual doente, veria prazer na mera restauração da saúde.

Claro que o prazer é uma dádiva Divina, tanto que, mesmo, Deus, o sente. Ele gostaria que o nosso, como convém em qualquer relacionamento afetivo, conjugasse ao Dele, invés de ir de encontro.

Mediante Isaías O Eterno denunciou uma geração sem noção, que, era pródiga em “cultuar a Deus”, quando, na verdade, gostava apenas de se banquetear mascarando aquilo de culto. “Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em memorial é como o que bendiz um ídolo; estes escolhem seus próprios caminhos, sua alma se deleita nas suas abominações.” Is 66;3

Ora, os sacrifícios ordenados eram recurso extremo, para quando, ficassem aquém das demandas Divinas, não, o suprassumo da fé, o sentido do relacionamento, como, faziam parecer. No Novo Testamento Paulo denunciou ainda a existência desses, “cujo Deus é o ventre.”

Seu culto egoísta, carnal, invés de proteger de eventuais temores os aproximava inda mais do perigo, como advertiu O Santo: “Também escolherei suas calamidades, farei vir sobre eles seus temores; porquanto clamei e ninguém respondeu, falei e não escutaram; mas, fizeram o que era mau aos meus olhos, escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.” V 4

Deus É Espírito, assim, o prazer em comunhão com Ele demanda que vivamos nessa dimensão. Imaginemos um morto deitado em seu esquife; pode eventual carinho da viúva despertar alguma sensação? Palavras aprazíveis sobre ele, ditas por amigos lhe farão sorrir? Não, está morto, insensível, ausente. Igualmente, quem não nasceu de novo, não verá atrativo algum na Palavra de Deus, tampouco, em Seu Excelso caráter, Integridade; a “beleza da santidade” se perderá aos seus olhos baços, e O Salvador será, como aos Seus coevos, “sem parecer, nem, formosura”.

O prazer sensual é automático ao alcance dos sentidos; o espiritual, não. É “paladar adquirido” como certos hábitos que inicialmente não parecem agradáveis, mas, lentamente vão se nos tornando melhores, aprazíveis, até, se fazerem indispensáveis.

O Salmo primeiro abençoa alguém que se separa de coisas que não aprazem a Deus; “Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 Depois de fazer isso, vai ao encontro de que agrada ao Altíssimo: “Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, na sua lei medita dia e noite.” V;2

O Criador tinha prazer em sua relação inicial com o homem, tanto, que o visitava pela viração do dia para conversar. Até que, “entediados” do paraíso, Adão e Eva resolveram partir para um prazer alternativo; ouvindo ao chifrudo, puseram chifres em Deus. Desde então, nenhum homem, por melhor que tenha sido, como Samuel, Noé, Jó, nenhum, se aproximou da perfeição espiritual que agrada ao Criador.

A humanidade “legou” a Ele quatro milênios de infelicidade, até poder dizer outra vez, “Eis o meu filho amado! Nele está todo meu prazer!”

Não só O Eterno foi infeliz, como o homem desgraçou sua carreira. As “botas novas” da independência prometidas pelo “sapateiro” traíra começaram a ferir os pés de toda a raça. Pior, refém da cegueira espiritual, sequer conseguia discernir a fonte das dores. Os pés doíam, trocavam as cuecas, o chapéu, a camisa; o problema seguia lá. De outro modo; o homem sente as aflições por estar vazio de Deus pela promoção do Ego em Seu lugar; para amenizar isso, fabrica religiões, busca vícios, promiscuidade, mas, foge, como o diabo, da cruz.

Quem descalçou a inimizade espiritual, se converteu, deveras, sabe o prazer de sentir outra vez, a Bendita Presença de Deus; alegra-se em conhece-lo à luz da Sua Palavra.

Não que a conversão nos livre cabalmente das dores, mas, em meio a elas, a presença do Santo que passa pela água, pelo fogo, conosco, basta.

Ademais, há muita diferença entre dores de fonte egoísta, e, ser partícipe das “aflições de Cristo” como são, os salvos. Na vida desses, o diabo perdeu as botas, pois têm, “calçados os pés na preparação do Evangelho da Paz.”

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Os loucos e o tempo

“Até aos quarenta anos o homem permanece louco; quando então começa a reconhecer a sua loucura, a vida já passou.” ( Lutero )

“Começamos a dar bons conselhos quando a idade nos impede de dar maus exemplos.” ( Jueves de Excelsior )

Dos ditos, supra, a conclusão necessária que a loucura tem seu consórcio com a juventude, e, fraqueja concomitante ao peso dos anos. Pode ser veraz, ou, não; depende do que se conceitua, assim.

Salomão, à decrepitude nomeou, maus dias, tempo de pessimismo, de modo que, neles considerou vaidades, coisas que pareceriam tesouros noutro contexto. “Afasta, pois, a ira do teu coração, remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade.” Ecl 11;10 Após, ampliou: “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;” Ecl 12;1

Embora, normalmente taxamos os loucos em virtude de sua relação com a razão, ou, falta dela, agora, os vemos também, derivando sua loucura da má relação com o tempo. Claro que, Cronos, por si só não faz alguém melhor, tampouco, pior. O mesmo sábio versara: “Coroa de honra são as cãs; achando-se elas, no caminho da justiça.” Vemos que, honra, não tem suas raízes nos cabelos brancos, antes, nesses, escudados pela justiça. Ruy Barbosa disse algo semelhante de outra maneira: “Não te impressiones com cabelos brancos, pois, os canalhas também envelhecem.”

Entretanto, assim como, loucura, pode ser um conceito ambíguo, dependendo de quem conceitua, igualmente, razão. Paulo apresentou de modo irônico a fé cristã como loucura, falando num desafio aos de fora: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela sua sabedoria, aprouve a Ele salvar os crentes pela loucura da pregação.” I Cor 1;21

Contudo, falando aos salvos, exortou-os à razão: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12;1

Noutra parte expusera essa relatividade conceitual: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas, para nós, que somos salvos, é poder de Deus.” I Cor 1;18

Voltando à relação com o tempo, aí, os ímpios nos rotulam de loucos, afinal, tantos prazeres disponíveis, e nos esforçamos à disciplina, passamos a vida em conflito com nossa natureza perversa, obedecendo, inda que, imperfeitamente, à Vontade de Deus. Isso, aos seus olhos é perder tempo.

A ideia vulgar de vida eterna é que acontecerá aos “bons” depois da morte. Dois erros: Primeiro; bom é Deus apenas, nós, somos maus; mais verdadeiramente seremos, à medida que tencionarmos negar isso. Segundo; vida eterna tem a ver com qualidade de vida espiritual, antes, de que, com tempo. Quando, escrevendo a Timóteo Paulo disse: “...Toma posse da vida eterna...” não aconselhou o suicídio, antes, viver essa, em seus valores e implicações, desde a saga terrena.

Assim, os salvos, mesmo que “percam tempo” evadindo-se aos prazeres pecaminosos, saem no lucro. Pode perder uma gotícula quem possui um oceano sem notar o “prejuízo”. A vida eterna começa aqui, na conversão; se mantém na perseverança, e não pode ser interrompida pela morte física, como disse Paulo, ao ver nela a interrupção de suas dores, apenas: “Porque para mim o viver é Cristo, e, morrer é ganho.” Fp1;21
Por outro lado, quem aliena-se de Deus, Seu Amor, manifesto no ensino de Sua Palavra preferindo “curtir” os prazeres da vida, o que fará quando seu fôlego for tirado? Quem, deveras, está perdendo tempo? 

Tiago aludiu à fragilidade da vida de modo tal, que é temerário supor do amanhã: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco, depois se desvanece.” Tg 4;14

Moisés, por sua vez, denunciou a fugacidade da existência: “Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, se, alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta, o orgulho deles é canseira, enfado, pois cedo se corta, vamos voando.” Sal 90;10 Em vista dessa limitação orou para nela pudéssemos ser ajudados pelo Eterno, para, encontrarmos sabedoria. “Ensina-nos contar nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” V 12

Enfim, se, adolescência e juventude são vaidade, velhice, dias maus, resta buscarmos a varonilidade eterna proposta pelo Salvador. “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” Ef 4;13

Não exatamente, eterna juventude do imaginário fictício, mas, eterno vigor espiritual, a ação do tempo presa à inércia, e os prazeres lícitos potencializando a vida. Pensando bem, nem são tão insanas assim, as razões dos loucos.

sábado, 15 de outubro de 2016

Nuances do Reino

“Porque o trono se firmará em benignidade, sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará em verdade um que julgue, busque o juízo, e se apresse a fazer justiça.” Is 16;5

Certamente o profeta messiânico fala do Reino de Deus. Após defini-lo como firmado nas bases do bem, três palavras; julgue, juízo e justiça, dão mostras do bem maior, ante, O Rei Vindouro.

No encerramento da Revelação, O Senhor insta para que cada um deixe patentes suas escolhas: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Apoc 22;11 Paralelismo sinonímico que equaciona injustiça à sujeira, justiça, à santidade.

Quer dizer que é na base do dente por dente e olho por olho? Apenas justiça, e a misericórdia? É uma boa pergunta, pois, o salmista associara essa àquela no séquito dos valores Eternos. “A misericórdia e a verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram.” Sal 85;10 Vemos, porém, que ambas aparecem com “acessórios”; A misericórdia, com a verdade, a justiça, com a paz.

Acontece que temos pouca afinidade, tanto com a verdade, quanto, com a justiça, quando, essas nos são desfavoráveis. Digo, tendemos a clamar por justiça quando nos sentimos no prejuízo. Igualmente, a verdade nos parece boa se, realça-nos em algum mérito, vantagem, senão, incomoda.

A Misericórdia em pessoa, Jesus Cristo veio. Porém, por trazer junto a verdade, foi rejeitado. “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” Jo 3;19 Assim, nada vale estarmos convencidos da Misericórdia, se, não estivermos, igualmente, convictos de nossos pecados. Por isso, labora O Bendito Espírito Santo; “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8

A misericórdia Divina é misericordiosa, não, amoral; Deus perdoa sempre quem reconhece falhas, se arrepende, confessa. Assim, até a Justiça Divina se satisfaz, imputando aos arrependidos, a Justiça de Cristo. Aos demais, resta o olho por olho, a punição proporcional à falha. Não se trata de uma grandeza superior, mas, de uma preferência do Amor Divino, dar primazia à misericórdia no trato com nossas faltas. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e, misericórdia triunfa do juízo.” Tg 2;13

Quando associa justiça à paz, não se refere aos relacionamentos interpessoais, sujeitos a diversidade de caracteres e motivações, antes, à paz com Deus, que usufruem, mesmo em tempos angustiosos, aqueles que, mediante a misericórdia, se fazem herdeiros de Cristo.

A paz é, em caso de conflito de interesses, um bem bilateral. Desde a queda, o homem se fez inimigo do Criador, uma guerra suicida, inda assim, guerra. Quando O Mediador veio para ser nosso Resgate os anjos cantaram: “...paz na Terra...”  Quando subiu a Jerusalém para consumar Sua Obra, O Espírito Santo pôs nos lábios de alguém: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu...” Luc 19;38

Desde então, os que pertencem a Cristo estão em paz com Deus, malgrado toda sorte de aflições eventuais. O Salvador ensinou que Sua Paz não era como a do mundo; Paulo disse que excede a todo entendimento.

Por ora, O Reino de Deus é mero enclave nesse mundo ímpio; mas, os súditos que renasceram pelo Sangue de Cristo e foram vivificados pelo Espírito Santo, usufruem em si, e entre si, os benignos efeitos da Misericórdia e da Justiça Divinas. “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, o campo fértil será reputado um bosque. O juízo habitará no deserto, a justiça morará no campo fértil. O efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32;15 a 17

Contudo, há um “Reino” paralelo, cuja ênfase recai sobre prosperidade, direitos, ignorando que, não há bênção maior, que estar reconciliado com Deus, Fonte de todo o bem. Se, até quando vai pelo caminho o tolo diz a todos quem é, como versou Salomão, até quando ora, o ímpio patenteia a sua sujeira. “O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.” Prov 28;9


Vivemos tempos difíceis, onde, as pessoas, senhoras de si, invés de se afastarem do que O Santo veta, vetam o veto, digo, distorcem e pervertem A Palavra. 

Enquanto a ampulheta do tempo não se esvazia, os ímpios estão em “vantagem”, podem fazer que quiserem. Entretanto, quando isso acontecer, a misericórdia deixará de ser, um bem, disponível; Restará ao Eterno apenas a justiça. Não era bem o que Ele queria, contudo, é um bem, que quer. 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A Vereda da Justiça

“Assim como as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o unguento do perfumador, é, para o famoso em sabedoria e honra, um pouco de estultícia.” Ecl 10;1

Que animais em decomposição causam mau cheiro, não é novidade, contudo, moscas logrando isso é uma sutileza surpreendente. Acontece que, a reflexão em apreço atina a um pouco de estultícia, na vida do, que, se reputa sábio. Uns dizem que temos cinco minutos de bobeira todos os dias, outros, que errar é humano; então, cometer um pouco de estultice nos parece inevitável.

Contudo, nós, pessoas comuns, como tais, esperam que nos portemos. A estultícia mínima é vetada ao sábio. Tiago desenvolveu de modo diverso: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se, alguém não tropeça em palavra, tal, é perfeito, poderoso para também refrear todo o corpo.” Tg 3;1e 2 Se, alguém é mestre no falar, pois, que seja perfeito no agir.

Mesmo os apóstolos, durante seu discipulado, após, até, cometeram eventualmente, suas falhas. Como seria, porém, se Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres, em cujos “lábios não se achou engano” incorresse nalguma? Tal incidente seria a predileção dos inimigos, o banquete dos ateus, uma dolorosa ferida aos Seus seguidores. Entretanto, esse lapso inexiste, glória a Deus!

Na verdade, o mesmo erro, em contextos diversos sofre diversos apreços; produz pesos diferentes, proporcionais às circunstâncias de vida, do, eventual, errante. Paulo ensinou: “Quando eu era menino, falava como menino, discorria como menino, mas, tornando-me adulto, acabei com as coisas de menino.”

A Epístola aos Hebreus, aliás, traz dura reprimenda a uns que, malgrado o curso do tempo, negligenciaram o crescimento espiritual. “Do qual ( Cristo ) muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar quais os primeiros rudimentos da Palavra de Deus; vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, é menino. Mas, o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5;11 – 14 Dos “perfeitos” em questão, pois, se esperava discernimento de valores, coisa relevante.

De que coisas sofrem apreço distinto em diferentes circunstâncias temos um exemplo didático no que ocorreu na vida do “presidenciável” Donald Trump. Disse algumas porcarias grosseiras sobre mulheres quando era apenas um playboy mimado; se, tivesse “vazado” então, seria essa a repercussão; garoto mimado metido a besta, grosseirão. Algo assim, que em pouco tempo seria esquecido. Contudo, veio a lume agora, que postula o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Isso pode custar a eleição dele. Um peso infinitamente maior, dado seu novo contexto.

Igualmente nós, os mesmos erros que cometemos, em ocasiões diferentes podem ter pesos diversos também. Daqueles que são mais chegados a Si, O Senhor espera uma postura melhor que de outros que estão alienados Dele. Mediante Isaías, narra como “normal” a idolatria dos gentios, mas, de Israel, povo escolhido, esperava algo mais. “Porém, tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo; tu a quem tomei desde os fins da terra, te chamei dentre os seus mais excelentes, te disse: Tu és o meu servo, te escolhi, nunca te rejeitei. ( ?) Is 41;8 e 9

Necessária a conclusão que o crescimento espiritual tem preço; tanto para aquisição, quanto, para exercitar-se nele com devida coerência. Se, por um lado é “natural” na vida do cristão; por outro, escolher a vereda da justiça, como disse o salmista é o “sine qua non”, para que sejamos iluminados. “a vereda dos justos é como a luz da aurora; vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Prov 4;18

Voltando à mosca morta, O Senhor acusou aos hipócritas de coarem um mosquito, e engolirem um camelo. Dessa vez a mosca estava na bebida, não no perfume. Tais, eram ciosos de ninharias e cegos para grandes erros. Desse modo, tanto podemos tirar a mosca por apuro espiritual, quanto, por hipócritas razões, para encenarmos ante terceiros, um zelo que não temos.


Spurgeon dizia que uma coisa boa não é boa fora do seu lugar. Assim, zelo onde a demanda é por misericórdia é só aridez espiritual; ênfase na graça quando o caso é correção, é frouxidão moral, conivência, cumplicidade. Saibamos, como O Mestre, diferir circunstâncias. Era amoroso, brando, com os fracos, terrível, com os falsos. Paulo disse que somos o perfume de Cristo; preservemos a pureza que Ele ama. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

As razões de Deus

“Ele ( O Senhor ) reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade”. Prov 2;7

O falso imitando ao verdadeiro vem de larga data; na Grécia antiga tínhamos sofistas combatendo os filósofos; no Israel de antanho, os falsos profetas opondo-se aos servos do Eterno.

Por que o falso não cria algo original, uma falsidade “zero kilômetro” invés de sair imitando ao verdadeiro? Bem, ele pode fazer isso, contudo, amiúde, prefere herdar a reputação, eventuais benesses de algo pronto, que imita.

Assim, profetas de Baal alegavam profetizar pelo “Espírito do Senhor”; tanto que, um deles, que feriu a Micaías perguntou por onde passara o Espírito do Senhor, de si àquele, de modo que profetizasse também. Em nossos dias, os defensores de suas religiões, por espúrias que sejam, advogam, que todas são boas, no fim, levam a Deus. Poderiam dizer que é mero hábito cultural, com fito de viver melhor, mas, no fim do arco íris, o foco seria a relação com Deus.

Ora, religiões, por úteis que pareçam, são resultado de esforços humanos na tentativa de, à humana maneira, abrirem caminho rumo a Deus. Jesus Cristo é o Amor Divino manifesto, O Próprio Caminho aberto, trazendo junto “placas de sinalização”, Sua Palavra, que orientam nossa caminhada.

Estabelecido isso, os falsos que não abdicam de suas naturezas perversas, sabedores da reputação do Salvador, disseminam suas falsidades “em nome de Jesus”, pois, assim, ante incautos ganham o desejado prêmio de parecer verdadeiros.

O surrado, “aparências enganam” tem um paralelo psíquico mais venenoso ainda; sensações, sentimentos. As pessoas frequentam determinados antros de heresias, dizendo que lhes faz bem, que sentem-se melhores depois de ir lá, como se, o alvo de Cristo fosse esse. Ora, o fumante fica nervoso à abstinência, mas, fumando um, “acalma”; tal “nervosismo” é reflexo do organismo viciado em nicotina, acusando no “sinal do painel” que precisa reabastecer. O danoso consegue disfarçar-se de bom em consórcio com a sensação, por ele, domesticada. Assim, os falsos fazem suas vítimas sentirem-se melhor.

O triunfo do agradável sobre os fatos foi versado por Fernando Pessoa: “Tens um anel imitado, e vais contente de o ter; que importa o falsificado, se é verdadeiro o prazer?” Essa mesma lógica se faz algemas de quem prioriza as enganosas sensações, malgrado, a origem.

Primeiro, sendo eu, mau, tal qual, sou, ao encontrar com Aquele que não cometeu pecados, terei uma visão mais ampla da minha maldade; um sentimento de tristeza, arrependimento há preceder, eventual conversão. Feito isso, a alegria de ser perdoado, os primeiros respiros do novo nascimento; aprendidos os primeiros passos, concorrem “as aflições de Cristo” das quais, os salvos são herdeiros também. Não é agradável, é necessário.

Cristianismo não é o império das sensações boas, antes, a escola teórico-prática do conhecimento de Deus na Face de Cristo, em meio a perseguições, incompreensões, dores.

O verso inicial adjetiva sabedoria como escudo, arma de defesa. Essas, são necessárias quando sofremos ataques. Quanto mais próximos do Verdadeiro estivermos, tanto mais, incomodaremos aos falsos. Um ministro teologicamente sadio é a “marca d’água” que desnuda imitadores; isso, lhes incomoda.

Pois, se, por um lado, salvação não depende de sabedoria, mas, de fé, essa, uma vez nascida há de desejar ardentemente conhecer melhor àquele que se fez seu alvo. A isso está atrelada a vida do salvo; não é mero deleite. “A vida eterna é esta: que conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17;3
Em dias idos, esse lapso foi fatal: “Meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento...” Os 4;6

Quando nos apresentam alguém, normalmente dizemos: “Prazer em conhecer”, quando, estamos apenas encontrando, falando pela primeira vez; conhecer é mais profundo e demorado. A gentileza em inglês fica melhor. “Nice to meet you”. “Bom encontrar você.”

O “problema” de conhecermos melhor a Deus, é que, paralelamente conhecemos melhor a nós mesmos. Isso incomoda um pouco, mas, pra quem decidiu “negar a si mesmo” paulatinamente vai entendendo as razões do Eterno. O “cara legal” que eu pensava ser, é tão ruim que precisa mesmo ser morto, para que Cristo viva em mim. Minha vida dupla sempre será palco de disputas, rivalidades. “Mas, como então, ( nos dias de Abraão ) aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é, também, agora.” Gál 4;29


Carne peleja para que escolhamos as coisas que lhe aprazem, inda que, mortais; Espírito, as que agradam a Deus, mesmo que soem desagradáveis. Por isso, a sabedoria espiritual não tem conexão com neurônios privilegiados, inteligência; antes, com caráter, e esse, submisso a Deus. “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos.”

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Preço de ver

“Porque na muita sabedoria há enfado; o que aumenta em conhecimento, aumenta em trabalho.” Ecl 1;18

Salomão, de certa forma deplorando à sabedoria, da qual, dissera ser, vaidade, aflição de espírito. A própria, ensina que, não causa-nos aflição, ver as coisas nos devidos lugares, antes, seu oposto. Vaidade pressupõe um esforço, uma empresa que não terá resultados úteis, quiçá, os terá pífios, insignificantes, em face ao esforço demandado.

Ver as coisas fora do lugar o afligia, diante da perspectiva de que se não poderia mudar isso. “Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.” “Atenta para a obra de Deus; quem poderá endireitar o que ele fez torto?” Ecl 1;15 e 7;13

Teria Deus, feito algo imperfeito de modo que a sabedoria humana pudesse identificar? De quais imperfeições estaria falando? Jó perguntara: “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.” Dissera. Jó cap 14;4

Porém, Salomão viu uma depuração possível; “Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor;” Prov 25;4 Assim, o que Deus “fizera torto” seria uma mescla de virtude com vício, de boas com más inclinações, figuradas como prata entre escórias.

O que Deus “fez de mal” foi dar absoluta liberdade às Suas criaturas, e mesmo sendo contra Sua Vontade o advento do pecado no mundo, foi Seu desejo amoroso, deixar ao homem a possibilidade de pecar, para que, eventual obediência fosse voluntária, não, automática. Da livre vontade humana, “encorajada” o concurso das escórias, que inquietavam o sábio.

No fundo, todos temos sabedoria que possibilita vermos as coisas como são; entretanto, quando más, conosco abrigadas, são dolorosas; tendemos a desviar o foco para onde dói menos, quiçá, dá certo prazer. “Temos olhos de lince para erros alheios, de toupeiras para os nossos”, como disse Erasmo de Roterdã.

Assim, identificar as escórias demanda a graça de Deus, como fizera ao dar sabedoria a Salomão. A nós, mediante o “Novo nascimento” permite que vejamos a “trave no nosso olho” antes, do cisco no alheio. Mais; permite suportarmos à Palavra de Cristo, coisa que se revela impossível, a quem não é capacitado pelo Espírito Santo. “Mas quem suportará o dia da sua vinda? Quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives, como sabão dos lavandeiros. Assentar-se-á como fundidor, purificador de prata; purificará os filhos de Levi, refinará como ouro e como prata; então, ao Senhor trarão oferta em justiça.” Mal 3;2 e 3

A mesma moléstia, antes referida, de ver melhor os erros alhures, que em nós, leva certos “teólogos” a relativizarem A Palavra, alterarem o que O Altíssimo disse, para não adequarem suas vidas, ao Preceito Eterno. Isaías os viu: “A terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, quebrado a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a terra...” Is 24;5 e 6

Paulo apóstolo sofreu quando viu em si mesmo a mescla de prata com escórias, desabafou: “Sabemos que a lei é espiritual; mas, eu sou carnal, vendido sob o pecado. O que faço não aprovo; o que quero, não faço, mas, o que aborreço, faço. Se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas, o pecado que habita em mim. Porque sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, querer está em mim, mas, não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas, o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não faço eu, mas, o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” Rom 7;14 a 21

Tal “ciência” nos dá trabalho, pois, quem consegue ver essas escórias todas deve lutar contra elas em si mesmo; no aspecto ministerial, ser, à medida do possível, agente iluminador, para que outros vejam melhor também. 

Contudo, se nos dias de Salomão não havia perspectiva de se poder endireitar o que Deus “fez torto”, Paulo vislumbrou Uma Luz, no túnel sombrio da revelação: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim, que, eu mesmo, com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas, com a carne à lei do pecado.” Rom 7;25


A natureza espiritual regenerada por Cristo, permite andar segundo o Espírito, que endireita o que a carne pecaminosa entorta. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas, segundo o Espírito.” Rom 8;1 O que fora aflição de espírito, Deus converteu em vida no Espírito.