quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Geração bem in-formada

“A educação tem raízes amargas, mas, seus frutos são doces.” ( Aristóteles )

Se desse para pularmos essa etapa amarga indo direto à doçura, na linguagem moderna seria, um “upgrade” um salto de qualidade, desfazendo a rigidez do método antiquado.

Todavia, como verossimilhança não é verdade, informação não é formação. Qualquer um pode consultar “Di grátis” ao Dr. Google, e sair explicando ao médico as causas do Diabetes, Labirintite, Apendicite, etc. Mas, quem tem formação para cuidar do caso?

Sócrates, o filósofo, tinha seus pleitos contra sofistas, pois, esses, no pleno domínio da retórica poderiam fingir que entendiam tudo, mais que, os veros entendidos; de saúde, mais que o médico; da arte bélica, mais que o soldado; de escultura, mais que o artesão; quando, deveras, entendiam apenas da arte de fingir. Qualquer semelhança com os políticos de hoje não é coincidência; é mesmo, o triunfo do verossímil sobre o verdadeiro.

Quando se trata de “control C control V” qualquer um exercita-se em grandes coisas; mas, peça-se, mera redação no ENEM, por exemplo, e, a formação será jogada de volta ao fundo do vale de onde nunca saiu. A facilidade de domesticar meios antes de domar a si mesmo, tem colocado pilotando canhões, gente que inda não sabe usar uma funda.

A boa formação faz “maciços;” informação pode fazer envernizados. Num contexto onde verniz serve seremos úteis; mas, onde a demanda for por conteúdo, tendemos a “pagar mico”.

Aqui onde vivo havia meia-dúzia de redutores eletrônicos de velocidade, que, por alguma razão foram removidos; manutenção, mudança de regras, sei lá. Mas, sempre que me aproximo de onde ficavam, automaticamente reduzo abaixo dos 40 Km por hora que era permitido. Depois que faço isso me dou conta que não mais estão lá as câmeras. A formação faz isso com nossas almas; “condiciona” nossos reflexos, tanto na esfera dos valores, educação, quanto, conhecimento.

Aí, em nosso mirante atual, alguém público é acusado de um ilícito qualquer, tráfico de influência, corrupção. Em sua “defesa” uns dizem que fez muito pelo país, deve ser respeitado. Qual a leitura? Que alguém que fez isso está cima de Lei, mera investigação equivale a desrespeito. Outras “defesas” acusam oponentes de terem feito coisas semelhantes, muitas vezes, recorrendo à calúnia. Qual a lógica? Fez, mas, beltrano também fazia.

Assim, a “moral” disseminada é que, se fizer coisas boas tem crédito para as más; ou, se nivelar por baixo a falta de caráter, tudo bem. Pior que essa crise absurda de valores, é encontrar pessoas que mesmo tendo sido vítimas dos tais coisas, ainda defendam esses argumentos.

Se, eu for acusado de estupro, disso deverei me defender; com provas, álibi, testemunho, o que tiver; contudo, se invés disso eu sair acusando meus acusadores de serem frígidos, contra o prazer, ou, afirmar que já fiz bem a muitas mulheres, não vai me inocentar, tampouco, essa gororoba retórica equivale a uma defesa.

A glamurização da ignorância, o culto à esperteza em lugar do caráter, fanfarrice em lugar dos fatos, pode funcionar durante determinado tempo; porém, as consequências sempre surgem, testemunhas verdadeiras que com seu dito, acabam desnudando às causas.

Para serviço público de quarto, quinto escalões para baixo se requer preparo, esmero; acessa-se mediante concurso, mérito. Daí pra cima, triunfam os retóricos, mentirosos, espertos; quem for melhor em debates, discursos, vence, ocupa lugares no topo, e indica segundo e terceiro escalões, baseado em identificação partidária, troca de favores fisiológicos.

Insano sistema que exige competência para funções secundárias, e safadeza para as essenciais. Esse “centauro” invertido, onde o corpo é humano e a cabeça animal tende a caminhar aos solavancos, pois, sua anatomia o prejudica, o corpo padece a falta de coordenadas lúcidas, e carrega peso desproporcional.

Mas, por quê triunfam as “nulidades” como denunciou Ruy Barbosa? Porque o paladar da geração informação está condicionado a até arquivar algumas, seletivamente, e descartar milhares; entretanto, não está apto a identificar, discernir a essência das coisas.

As palavra são usadas de modo oposto ao seu significado, e tem muitas amebas que, invés de denunciarem ao estupro da lógica, saem em coro em defesa dos estupradores. Assim, fundem democracia e ditadura ao sabor dos gostos, não dos fatos; legalidade e golpe, pelo mesmo critério; crimes pontuais com discordâncias ideológicas, etc.

Então, esse “rico” filão, da insipiência atuante, da ignorância sem modéstia, além de fazer a fortuna dos políticos safados, faz também a de mercenários, falsos profetas, pois, o mesmo que se faz na política, muitos fazem em igrejas.

Porém, se a questão é de raízes como disse Aristóteles, e todos estão já frutificando, só um milagre quebraria tal paradigma; temos o país que merecemos, pois, se essa é a colheita, isso foi plantado...

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