sábado, 2 de janeiro de 2016

Meu saldo, por favor!

“Se te mostrares fraco no dia da angústia, a tua força é pequena.” Prov 24; 10

Diverso da força física, cuja aferição deriva da capacidade de suportar, ou, mover determinados pesos, a têmpera da alma se prova em face às angústias. Além de provar à existente, pode forjar a que falta, dependendo de nossa reação. “Tribulação produz paciência... perseverança.”

Tendem as pessoas, a serem cordatas, pacíficas, equilibradas, quando tudo vai bem; mas, ao menor sinal de angústia, fraquezas vêm à tona. Portam-se de modo queixoso, vitimista, como se a vida lhes estivesse negando um direito, devendo algo.

Em nossos bens financeiros, achamos normal irmos ao Banco e conferir o saldo para sabermos do quê, dispomos. Contudo, já nos ocorreu que as adversidades, tribulações, pode ser Deus evidenciando nosso saldo de têmpera psíquica, espiritual, para que, uma vez negativo, nos preocupemos em buscar o que falta?

Se, a compleição física, e consequente força, se aperfeiçoa mediante exercícios, nas coisas da alma, não é diferente. Paulo disse: “Todo aquele que luta, de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Assim corro, não como a coisa incerta; combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo meu corpo, o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” I Cor 9; 25 a 27 A abstenção dos apelos naturais era sua “academia” para fortalecimento da alma.

A Timóteo, reiterou a ideia com outras palavras: “...exercita a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas, a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4; 7 e 8

Na epístola aos Hebreus, há uma reprimenda porque, malgrado os anos de “malhação”, suas almas ainda eram frágeis, em discernimento, sobretudo; “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar quais os primeiros rudimentos das palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não, de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, é menino. Mas, o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5; 12 a 14

Que prazeroso deve ser para Deus, quando verifica nossas contas no Banco dos Céus, e depara com vultosos depósitos de fé, confiança irrestrita!

Pensemos num grande exemplo de fé, da Bíblia: cinco entre dez, lembrarão Jó. O quê evidenciou o calibre de sua fé, senão, a grandeza da angústia na qual foi testado? Se, dadas as enormes injustiças que sofreu, fraquejou em compreender os motivos, em momento algum duvidou de Deus, a ponto de negar a fé, antes, disse: “...eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Depois de consumida minha pele, contudo, ainda em minha carne verei a Deus; vê-lo-ei, por mim mesmo, os meus olhos, não outros, o contemplarão; por isso os meus rins se consomem no meu interior.” Cap 19; 25 a 27

A têmpera espiritual demanda exercícios pesados. Camões, o poeta, disse: “A verdadeira afeição, na longa ausência se comprova”, Digamos que, Deus quisesse mensurar nossa afeição, e se “ausentasse” durante vasto tempo; não respondendo nossas orações, não realçando a alegria da salvação, tampouco, livrando das dores da vida: Como seria nossa reação?

A força se armazena precisamente para horas de luta. Imaginemos um campeão de MMA, em casa, com seu filho no colo, brincando. Sua força descomunal existe, mas, sequer faz sentido naquele contexto; contudo, entrando no octógono é preciosa, depende dela pra manter seu cinturão.

Assim, nós, quando tudo vai bem, ainda devemos ter nossa reserva, para as lutas que, inevitavelmente virão. O guarda-chuva serve quando chove. Num mundo maligno onde somos estranhos, peregrinos, “chove” todo dia; digo, nossa fé é testada, bem como, nossa perseverança.

Na verdade, à luz de alguma maturidade espiritual, invés de estranharmos o concurso das angústias, deveríamos estranhar sua ausência. A calmaria se dá, porque não incomodamos ao inimigo, sequer, salvos somos, ou, pode ser que o recuo das ondas seja o movimento lógico do mar preparando uma tsunami.


À medida que o tempo se afunila, tendem a viçar as angústias; diferente do que ensinam muitos imbecis da praça, a fé não é gritar meus temores “ordenando” que Deus faça que eu quero; antes, submeter-me incondicionalmente a Ele, não obstante, permita que eu sofra o que não quero. Se às circunstâncias, parece distante, a fé reaproxima. “invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Sal 50; 15

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