“Dentro de três dias Faraó tirará tua cabeça, te pendurará num pau,
as aves comerão a tua carne de sobre ti.” Gên 40;19 José, na prisão egípcia
entregando, pelo Espírito do Senhor, uma mensagem de morte. A outro colega de
infortúnio profetizara restauração, interpretando seu sonho. Aos dois colegas
de prisão, a um falou de vida, a outro, de morte.
Desse modo
deve se comportar um profeta: Ser regido estritamente pela Verdade, não pelo
sabor das consequências de sua mensagem. Se Deus falou de vida, igualmente o
profeta o faz; se, de morte, idem.
Não raro
ilustramos a iniciação ministerial de alguém tomando emprestada a sina de
Eliseu, que, uma vez chamado deixou tudo, matou seus bois, queimou as tralhas
do seu labor, como sinalizando que sua entrega era definitiva, sem intento de
volver atrás. É válido, didático, encorajador o exemplo.
Contudo, deve
ser usado no devido contexto, pois, há diferença entre uma chamada ministerial
de tal envergadura, e o convite à salvação que todos recebemos. Um salvo não
deixa de trabalhar, estudar, ter vida
social, por que se converteu; antes, seus valores foram cambiados; de posse dos
novos, deve comparecer aos lugares que seu viver demanda.
Nesse caso,
não devemos deixar bois e arado, mas, coisas mais sutis, ouçamos: “Deixe o
ímpio seu caminho, o homem maligno os seus pensamentos, se converta ao Senhor,
que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em
perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem, vossos
caminhos os meus, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos que a
terra, são os meus caminhos mais altos do que os vossos; e meus pensamentos
mais altos do que os vossos.” Is 55;7 a 9
Quando Paulo, escrevendo aos
efésios equaciona os dons ministeriais com a edificação da igreja até que
cheguemos à Estatura de Cristo, tendemos a ver nessa “Estatura” poder superior
de operação de milagres; mas, a ideia é uma tanto mais complexa que isso.
Afinal, a consequência de tal aperfeiçoamento produz têmpera espiritual,
firmeza ante falsos ensinos, mais que portentos milagrosos. “Para que não
sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de
doutrina, engano de homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo;”
Ef 4; 14 e 15
Dois predicados,
invés de poder: Verdade, amor. Nessa ordem. Ninguém em sã consciência
pretenderá ter amor maior que Jesus; (talvez, o Lula, o mais honesto de todos )
“Ninguém tem maior amor que esse; dar a sua vida pelos seus amigos.” Jo 15; 13
Na verdade, foi modesto, pois, deu até pelos inimigos. Paulo demonstra: “Porque,
alguém morreria por um justo; poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas,
Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores.” Rom 5;7 e 8
Demonstrado o
Amor Excelso do Salvador, cumpre lembrar que jamais condescendeu com o erro,
faltou com a verdade, em nome do amor. À
Samaritana propôs Água Viva, mas, denunciou sua promiscuidade; ao jovem rico
propôs Vida Eterna, mas, patenteou sua avareza; a Nicodemos, desafiou a nascer
de novo, mas, realçou sua ignorância espiritual... Quem disse que amor e
verdade são excludentes?
Como no Seu
primeiro milagre em Caná quando transformou água em vinho, e o mestre sala
ouviu que o bom vinho fora deixado por último, assim age O Salvador. Sua
Palavra, a dura verdade que nos humilha, se, a ela formos receptivos, teremos a
refinada taça de Sua graça, ouviremos tilintar Seu perdão, beberemos o
delicioso vinho de Seu amor. Porém, sem
verdade, nada feito.
Infelizmente,
os profetas da moda adoçam o vinagre da mentira com o açúcar da lisonja, e,
onde Cristo fala de morte, esses, acenam com vida. Teria sido simpático José
falar de vida ao padeiro que estava no “corredor da morte”, mas, seria mentira.
Se, em matemática, a ordem dos fatores não altera o produto; na vida
espiritual, tencionar que um “amor” duvidoso, amoral, preceda à verdade e só
uma forma requintada de matar.
Claro que é
mais agradável ouvir que Deus me ama, me quer, não importa o quê, eu faça! Mas,
sobre o pecador contumaz, como sobre o padeiro aquele, pesa sentença de morte;
a diferença é que agora, se pode reverter isso mediante arrependimento. Só um
assassino deixaria de avisar de algo tão sério, para ser “amoroso”.
Em suma: Se,
temos que deixar algumas coisas pela “mente de Cristo”, deixemos, sobretudo,
esse viés sentimentaloide de equacionar frouxidão moral com amor.
O engano pode
gerar agradáveis sensações imediatas, contudo, O Senhor guarda pra depois, o
vinho melhor.