“Perguntou-lhe:
Qual é o teu nome? Lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos
muitos. E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província. Andava
ali pastando no monte uma grande manada de porcos. E todos aqueles demônios lhe
rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. E
Jesus permitiu. Saindo aqueles espíritos
imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no
mar (eram quase dois mil) e afogaram-se no mar.” Mc 5; 9 a 13
O Senhor estava
libertando a um cativo de Satanás, na região de Gádara. Um breve diálogo com o
espírito líder da legião expõe algumas facetas em que os demônios superam aos
humanos, para vergonha nossa. Eles creem em Deus; sabem quem Ele é; e em Sua
presença, rogam, ou seja, fazem oração.
Quantos ateus há por aí? Milhares que
ignoram quem é o Senhor? E outros tantos que sequer fazem uma oração, por breve
que seja?
Uma coisa fica evidente nesse incidente: Os porcos estavam sossegados
em sua busca de alimento; se, destrambelharam precipício a baixo, foi por ação
dos espíritos maus que neles entraram. Digamos que, uma vez derrotados,
resolveram “sair atirando”. Causar um grande prejuízo aos criadores, pra
indispô-los como o Salvador.
Talvez, desse acontecimento tenha derivado a
expressão: “Espírito de porco”, para denunciar alguém cujas intenções são
más. Animais, não têm espírito, apenas,
almas; daí, animais; então quando um porco “tem espírito”, trata-se de um
possesso.
Não que o inimigo tenha dado um “nó tático” no Mestre; longe disso!
Ficou claro que, a ação de destruição dos porcos partiu dele, que, pelo visto,
nem era assim tão inimigo dos gadarenos, uma vez que coabitavam sem estresse.
Se, é vero que, ante O Senhor satanás fez uma súplica, também o é que, os
homens do lugar fizeram igualmente. “Foram
ter com Jesus, e viram o endemoninhado que tivera a legião, assentado, vestido
e em perfeito juízo, e temeram. Os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que
acontecera ao endemoninhado, e, acerca dos porcos. Começaram a rogar-lhe que
saísse dos seus termos.” VS 15 a 17
Viram a restauração de um que fora reputado
louco e souberam da perda dos porcos; então pediram que o Senhor fosse embora. Talvez a oração mais estúpida de toda a
Bíblia. Porcos eram considerados animais imundos para os judeus, portanto, O
Senhor não se importou com eles, ainda quê, o dano foi feito pelo inimigo; mas,
a alma daquele cativo sofredor, contou com os cuidados do Mestre, pois, disse,
uma alma salva vale mais que o mundo inteiro perdido.
Ao rogarem o afastamento
de quem tal obra fizera, implicitamente disseram: Deixe satanás em paz, e a nós
também; vá embora! O Senhor foi. Num ambiente em que porcos valem mais que uma
vida humana, O Salvador não tem trabalho a fazer.
Aliás, se há uma coisa que a
presente geração, pouco, ou nada sabe, é aquilatar devidamente o valor das
coisas. Estobeu, o pensador pré-socrático dizia: “Os asnos preferem palha ao
ouro.” Isso levado ao pé da letra está pleno de sentido. O que fariam, os tais,
com o ouro? Com a palha, óbvio; alimentam-se.
Mas, se os “asnos” em questão não
são quadrúpedes, nem palha e ouro, o são, literalmente, então temos uma escolha
do fútil em detrimento do precioso.
Acontece que, o filósofo, o pensador, o
homem espiritual é sisudo como um dobermann, grave como um Faraó; e a galera
prefere a brejeirice de um guaipeca; e leveza do fútil, a fugacidade do pueril.
O hedonismo desenfreado faz com que os chamados de Sophia pareçam pedras no
caminho. Ponderar escolhas, prever consequências é coisa de velho; o negócio é “curtir”.
Muitos se perdem antes da maturidade, dadas as suas escolhas infelizes; outros
envelhecem sem amadurecer, com seus corpos sarados e almas atrofiadas,
famintas. A escravidão dos maus hábitos
endurece o barro, passado o tempo em que poderia ser moldado; e, em muitos
casos, a alma sedenta “se vinga”. Digo; passou sede, maus tratos por largo
tempo enquanto o corpo se esbaldava; então, ela tece a teia da depressão e
antecipa o jazigo de um corpo que ainda respira.
O Senhor se aproxima de muitas
maneiras; mesmo, numa mensagem como essa; mas, ao escolher ignorá-lO, a galera
faz a mesma escolha patrocinada, então, pelos “espíritos de porco”; Se esses
são violentos e possuem na marra aos que puderem, Cristo é pacífico, fala de
seu amor e espera nossa reação.
Ocorre-me uma frase de Baudellaire: “Conheço
muitos que não puderam quando queriam, - disse – porque não quiseram quando
podiam.” As consequências são a crítica do tempo; nossas escolhas, a obra que
ele vai criticar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário