“E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção,
manifestou firme propósito de ir a Jerusalém. Mandou mensageiros adiante de si;
indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada,
mas, não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.”
Luc 9; 51 a 53
Como sabemos se um propósito é
firme? Por certo, o mesmo precisa ser
testado. Há outros textos onde discípulos tentaram dissuadir ao Salvador dessa
ideia, dizendo que Herodes o queria matar, que Ele correria riscos por lá; mas,
nada disso O fez mudar. Quem tem um
propósito firme e conhece as consequências, o simples lembrá-las em nada
afetará a decisão que já as considerou.
Isso feito mandou precursores a uma
aldeia de samaritanos para prepararem pousada. Porém, a rivalidade desses com os
judeus chegava a tal ponto de se negarem a ceder um lugar de descanso, pois,
“seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém”.
Que falta de jogo de cintura do Mestre! Sabendo dessa aversão dos
samaritanos, bem poderia ter “desconversado” dizendo que ia para outra parte;
quem sabe, que era um emissário estrangeiro a espiar a cidade para um ataque
futuro; coisas assim o fariam simpático entre os samaritanos; por certo, lhe
garantiriam o necessário descanso.
Ele mesmo, quando chamou a si os pecadores
ofereceu descanso à alma; não fez alusão ao cansaço do corpo. Quem tem como
hábito a verdade em sua forma de ser, não descansa a consciência em outro
travesseiro que, não, a própria verdade.
Mesmo, coisas periféricas, nuances não expressas também se revelam
verdadeiras; se, ia para Jerusalém, seu aspecto mostrava exatamente isso.
Quantas vezes mentimos de modo não expresso, dissimulando aparências,
intenções... Vamos a Jerusalém, mas, exibimos por “descuido” uma passagem pra
Damasco. Sutilezas assim, embora pareça malandragem, são apenas traços da
mentira vestida para festa.
Com Aquele que É a verdade, a coisa não funciona
assim. Decisões firmes, providências conforme; semblante também.
Salomão
escrevera: “Desvia de ti a falsidade da boca; afasta de ti a
perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem pra a frente; as tuas pálpebras
olhem direto diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, todos os teus caminhos
sejam bem ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda;
retira o teu pé do mal.” Prov 4; 24 a 27
Infelizmente, a maioria do que hoje se
vê são “cristãos” de calmaria, de tempo
bom. Prontos a dissimular suas escolhas, bem como, refazer caminhos se, uma
objeção qualquer os ameaça. Facilmente bradam nos púlpitos que, sem luta não
teremos vitória, que somos chamados a tomar a cruz, etc. Mas, ouse a realidade
a testar seus postulados e presto se tornam “samaritanos” se isso lhes facilitar
as coisas.
Se, na caminhada tecnológica, que não mais caminha nem corre,
antes, voa; nisso, digo, quanto mais moderno, melhor, na jornada dos cristãos a
coisa é exatamente inversa. Quanto mais antigo, melhor.
Sim, os antigos deram
suas vidas, como fizeram os apóstolos, os cristãos das catacumbas de Roma,
tantos na Inquisição... Sua fé não tinha mais a vida na Terra com preciosa,
antes, a vida em Cristo. Estavam dispostos a tudo, mesmo mais antigos, como alista a galeria dos Heróis da fé.
Não
estou dizendo que todos os cristãos atuais sejam uns molengas, há exceções,
felizmente. Mas, graças a uma “Igreja” que, movida por interesses mercenários
decidiu ser agradável invés de verdadeira, o crente comum que ela gera é assim,
fraco, interesseiro, oportunista, dissimulado. Não hesita em mentir para obter
facilidades, ou, evadir-se a certas dificuldades.
Certo que os samaritanos não
receberam a Jesus, por causa de sua judaica aparência; mas, isso era problema
deles. Estavam errados, e o Mestre não iria disfarçar-se para recrudescer seu
erro.
Embora Tiago e João desejassem queimar aos ímpios. O Senhor os advertiu que não entendiam o que
estava em jogo; “Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos
homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.” V 56
Enfim, se o mundo
é império da falsidade, onde, aparências
enganam, dos servos de Cristo se requer algo melhor.
Pensemos, por um instante,
quantas pessoas nos surpreenderam “pra cima”; as imaginamos comuns, e conhecendo-as
melhor, se revelaram nobres, de caráter superior; por outro lado, quantas
reputamos excelentes, e à menor prova revelaram-se vis, traidoras, fracas... Da
primeira parte do exemplo tenho dificuldade de lembrar alguém; porém, a
segunda... Assim, se nossas resoluções não estão estampadas; se, nossa
aparência não expressar o que somos, que seja por humildade, por sabermos que
eventual bem em nós é dom de Deus; nunca por falsidade, dissimulação. Uma alma
salva não descansa na facilidade, antes, na verdade.
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