sábado, 8 de novembro de 2014

Tendência suicida



“Então disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada, atravessa-me com ela; para que porventura não venham estes incircuncisos e escarneçam de mim. Porém o seu escudeiro não quis, porque temia muito; então tomou Saul a espada e se lançou sobre ela.” I Crôn 10; 4

Diverso do que ensinam certos psicólogos e alguns pastores “psicologizados”, nossa carência não é de auto-estima. Embora esse nome composto soe até bonitinho é mero disfarce de outro nem tão belo, o orgulho.

O incidente supra, mostra Saul derrotado, diante de si, apenas a morte; mas, uma vez que seu escudeiro recusou a matá-lo, lançou-se sobre a própria espada, para não dar aos inimigos o gosto de zombarem dele.

Isso é nobre, corajoso, vil? Não sei. Por ora me interessa a constatação que, a vida estava perdida, o orgulho seguia intacto, vivinho. Se nem mesmo um revés que nos priva da vida é capaz de nos induzir à humildade, então, essa é nossa maior carência. 

Claro que não esposo a postura covarde que suplica desesperadamente pela própria vida, invés de aceitar a derrota e morrer com dignidade. Assim fez O Salvador; igualmente Estevão, posto que, suas “derrotas” eram grandes vitórias. Teriam maculado-as, se morressem como covardes. 

Mas, da sobrevida do orgulho temos ainda o exemplo de um dos ladrões crucificados. Enquanto seu cúmplice arrependido suplicou e obteve perdão, ele, no uso do único membro livre que tinha, a língua, blasfemava do Mestre.

Ora, o hábito milenar de transferência de culpa, outra coisa não é, senão, decorrência do orgulho. Primeiro afrontamos à Palavra de Deus; depois justificamo-nos transferindo a culpa às circunstâncias, necessidade; quando não, a outras pessoas. 

Se imaginamos a cena de alguém se arremessando contra uma espada fazemos caretas, como que sentindo um pouco da dor. Entretanto, por nossa parte fazemos o mesmo sem dor nenhuma. Como assim? A Bíblia mesmo ilustra a Palavra de Deus como uma espada; “Tomai também o capacete da salvação,  a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;” Ef 6; 17 Assim, cada vez que  desobedecemos, afrontamos, arremessamos nossas vidas contra a Espada. 

A “nosso favor” temos o fato que a morte não é imediata como foi a de Saul. Abusamos da longanimidade de Deus; quando se torna hábito é mais difícil erradicar que um erro eventual. Salomão identificou essa postura “espaçosa” do ser humano no “vácuo” da paciência Divina. “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11 

A morte de Adão e Eva não decorreu justo, disso? Arremeterem ambos contra a Espada? Naquele evento fora prometido ao primeiro casal a substituição da dependência pela autonomia; essa, é a mãe do orgulho, sendo pai, o velho ego. 

O hábito, como a palavra sugere, é algo que habita em nós; desse modo, os maus hábitos nunca são de fácil remoção. Quando ilustra o que Cristo viria fazer, mediante Ezequiel, Deus usa a figura de um transplante de órgãos, para ser devidamente expressivo acerca do que estava em jogo. “E dar-vos-ei um coração novo,  porei dentro de vós um espírito novo;  tirarei da vossa carne o coração de pedra,  vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” Ez 36; 26 e 27. 

Esse novo coração, como vemos, não bombeia sangue, antes, seu “combustível” é o Espírito de Deus. Quando disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração...” O Dr. Jesus estava já “anestesiando” pacientes para a devida cirurgia. 

Se, o que Ele fez, entre outras coisas, nos livra de um mal mais resistente que a morte, isso não deve alimentar pretensa auto-estima; ( o negue a si mesmo desmonta nosso auto )  antes, aumentar a estima pelo Salvador.

Assim como o escudeiro de Saul recusou matá-lo, ninguém faz isso conosco no domínio espiritual; o arbítrio é nosso, a decisão também. 

Embora aos críticos a conversão pareça decisão de fracos refugiados atrás da Bíblia, a coisa não é bem assim. A cirurgia da auto-negação é dolorosa, quem tomou a cruz  sabe bem. E isso requer certo brio, mesmo que, despido de orgulho. “  Melhor é... o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade.” Prov 16; 32 

Removido o velho coração, junto saem aos poucos, hábitos ligados a ele. E o novo implanta novos valores restaurando a dependência em lugar da suicida autonomia. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17

Nenhum comentário:

Postar um comentário