sábado, 22 de novembro de 2014

Lábios em brasa, ou, brasa nos lábios?



“Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Is 6; 5  

Isaías um dos maiores profetas apavorado, ante a visão onde o Eterno revelou-se a ele; estou perdido! Pensou.   

Interessante que esse registro se dá no capítulo seis do seu livro; diferente de Jeremias e Ezequiel, por exemplo, onde a chamada Divina consta na abertura; Isaías teve essa visão depois de vociferar em Nome de Deus contra uma série de erros; vejamos: “Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos.” 3; 9 “Ai do ímpio! Mal lhe irá; porque se lhe fará o que as suas mãos fizeram.” 3; 11 “  Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar e fiquem como únicos moradores no meio da terra!”  4; 8 “Ai dos que se levantam pela manhã e seguem a bebedice; continuam até à noite, até que o vinho os esquente!” 4; 11 “Ai dos que puxam a iniquidade com cordas de vaidade,  o pecado com tirantes de carro!” 5; 18 “Ai dos que ao mal chamam bem,  ao bem mal; que fazem das trevas luz,  da luz trevas;  fazem do amargo doce e do doce amargo!  Ai dos que são sábios a seus próprios olhos,  prudentes diante de si mesmos! Ai dos que são poderosos para beber vinho, homens de poder para misturar bebida forte;” 5; 20 a 22 

Como vimos, temos uma série de ais, antes dele ter visto ao Senhor, onde, enfim, disse: “Ai de mim”. Atrevo-me a supor que suas profecias anteriores foram baseadas no conhecimento da Lei do Senhor, do Seu Caráter Santo; Isaías era um homem de convicções religiosas firmes e estilo ousado; assim, desfilou seus ditos, válidos, verazes, mas, segundo ele mesmo admitiu, era homem de impuros lábios. 

Na verdade, é fácil ser zeloso quanto aos erros alheios, embora, nem sempre tenhamos o mesmo cuidado para com os nossos. O Salvador ensinou que os “Limpos de coração verão a Deus”, mas, ele viu, ainda sabendo-se impuro; desse modo, com razão temeu pela sua vida.

Habacuque registra: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, a opressão não podes contemplar...” Hc 1; 13 Mas, a fé deve ter seu quê de racional também, pois, lida com Aquele que nos deu intelectos. Se o Eterno quisesse matar alguém, o faria, simplesmente; por que apareceria ao tal? 

Como o profeta admitiu e confessou sua culpa, Deus tratou de purificá-lo. “Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada  e expiado o teu pecado.” Vs 6 e 7 

Feito isso, ele ouviu a voz de Deus, como que, compartilhando com ele Seu problema: “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia a mim.” V 8 

Há dois tipos de profetas. Os ministeriais e os espirituais. Os primeiros são o que Isaías fora até então; homens conhecedores da Palavra, intérpretes fiéis, capazes de discernir os males que os cercam e o correspondente juízo; dessa estirpe temos em vasto número. 

Os espirituais são aqueles que ouvem a voz de Deus, que lhes revela fatos, juízos, rumos da história até então, desconhecidos. Precisamente esse conhecimento do devir difere Deus dos deuses de feitura humana. Mediante o mesmo Isaías Ele disse: “A quem me assemelhareis? Com quem me igualareis e comparareis, para que sejamos semelhantes? ... anuncio o fim desde o princípio, desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam;” 46; 5 e 10 

Assim, Deus concede honra especial ao comissionar um profeta espiritual; deve este, honrar a Deus falando tão somente o que Ele mandou; pois, à verdade está associado Seu caráter. 

Se, nós, até podemos acusar o cisco no olho alheio com uma trave no nosso, um comissionado pelo Senhor deve ser purificado primeiro. Um assim poderá dizer, eventualmente, o que disse Paulo: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos anunciei...” 

Unção e ministério especiais demandam consagração especial, pureza. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus,  teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que aos teus companheiros.” Sal 45; 7
 

Olhares periféricos nos mostrarão erros alheios aos montes; olharmos para Deus, o espelho da Sua Santidade refletirá nossas impurezas. Pode nem ser divertido, mas, é medicinal.

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