“O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo,
nem o homem é o mesmo.” ( Heráclito )
O eterno devir, a ininterrupta mudança advogada pelo pensador antigo merece alguns
reparos. Certo que o escopo dos filósofos pré-socráticos como ele, Demócrito, Anaximandro,
Anaxágoras, Tales de Mileto, etc. era a compreensão da Natureza.
Em Sócrates, o
homem passou a ser o alvo; “Conhece a ti mesmo.” Com o advento de Cristo, Deus
foi revelado; “Quem vê a mim vê o Pai.” Disse.
Mas, voltando, a constante
mudança no âmbito natural, aos meus olhos, está restrita a uma não mudança
superior. Digo a uma mesmice fadada à reprodução mecânica, refém do
determinismo biológico. A natureza não tem escolha, não pode mudar. As águas
seguirão buscando os lugares mais baixos, animais e plantas reproduzindo-se
mecanicamente sem nenhum sinal evolutivo, malgrado, o sonho dos evolucionistas.
A natureza não é arbitrária, antes, está presa à necessidade; homens e anjos
sim desfrutam da possibilidade. Se plantarmos uma semente de feijão, por
exemplo, ela não poderá decidir converter-se em ervilha; necessariamente
nascerá feijão. Contudo, se um ser arbitrário receber uma incumbência pode
optar por obedecer, desobedecer, fazer de má vontade, buscar a excelência,
procrastinar...
Assim, refutando a
Heráclito, o rio seria o mesmo; o homem teria possibilidade de ser diferente.
Entretanto, essa dádiva maravilhosa da possibilidade nem sempre é usufruída com
sabedoria. Quando não fazemos a escolha inferior, que nos faz diminuir, em
atenção à má vontade, fazemos a mais confortável, indolor; compramos respostas
prontas como quem compra tomates; nos acomodamos à mediocridade, ao lugar
comum.
A crítica, tão necessária, e às vezes mal entendida, some nessas horas.
(Alguns equacionam-na à rejeição de algo, embora, signifique apenas, análise
criteriosa, com conhecimento de causa )
Parece que criticar determinados postulados era hábito dos homens
antigos. Salomão disse: “O que pleiteia por algo, a princípio parece justo, porém, vem
o seu próximo e o examina.” Prov 18; 17 Não seria quem gritasse primeiro, ou, mais
alto que venceria a peleja; antes, quem estivesse abonado pela razão. Bons
tempos!
Sobre disputas filosóficas, o mesmo Heráclito deixou uma pérola. Citarei
de memória; talvez omita palavras, embora, preserve a ideia. “Numa disputa entre
dois sistemas, um não tem direito de dizer: Seu ponto de vista é falso por que
o meu é verdadeiro e se opõe a ele; pois, - disse – o outro poderia dizer
exatamente o mesmo, arrastando a disputa à eternidade. O falso - concluiu –
deve ser demonstrado em si mesmo, não no outro.
Mas, essas pescarias em águas
profundas eram feitas com outros anzóis. Somos uma geração que vê; tudo acaba
em vídeo. Não raro, a cortina da visão embaça as janelas do pensamento reflexivo.
E, corro o risco de ser lido por alguém que pensa; esse, diria que às vezes
cito frases alheias, de modo que, estaria também caindo no lugar comum. Sim e
não. Quando cito: “A mente não é um vaso para ser cheio, antes, um fogo a ser
aceso.” (Plutarco) Tal frase não traz uma resposta pronta, antes uma regra, justo
contra a acomodação, o “encher o vaso” com ideias alheias.
Ou, “Pensar é o mais
duro trabalho que há; essa é a razão, talvez, para que tão poucos se dediquem a
isso.” ( Henry Ford) Uma vez mais, a frase pronta não traz nada pronto, exceto,
a constatação que o ser humano em geral é um indigente mental.
Essa indigência está
vigorosa como nunca. O marketing a serviço de interesses mesquinhos desconstrói
valores, bens, reputações; a própria história. A inadimplência intelectual grassa nessa
geração.
Um exemplo bem didático se deu nas estrondosas manifestações de Junho,
quando o País inteiro saiu às ruas expressar descontentamento, sem saber
exatamente contra quê. Apresentaram reivindicações difusas, variadas como
cardápio de Café Colonial, e como era de se esperar, deu em nada. Parece que as
pessoas estão descontentes mas, não sabem exatamente o motivo.
Ontem José
Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça deu entrevista criticando a “Operação Lava
Jato” que expõe a roubalheira na Petrobrás. Ora, num país decente seria o contrário.
Ele elogiaria a Polícia Federal, e exortaria que fossem ao fundo da questão. Mas, ele é só uma carta no castelo de poder dos vermelhos que começa a ruir.
Somos uma nação dividida. O País que produz riquezas trabalha, em sua imensa
maioria descontente, como mostraram as manifestações de ontem; os paupérrimos
que dependem de assistencialismo, felizes com corruptos no poder; pois, foram ensinados a
pensar que as benesses recebidas derivam de um partido, não, de uma nação toda.
Governo não gera riquezas; administra-as, muito mal, infelizmente. O rio do PT
ainda é o mesmo; o homem, Brasil começa a mudar.
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