“Direi
a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. Parece-te bem
que me oprimas, que rejeites o trabalho das tuas mãos e resplandeças sobre o
conselho dos ímpios? Tens tu porventura olhos de carne? Vês tu como vê o homem?”
Jó 10; 2 a 4
A esta altura, Jó desistira de esperar alento dos amigos; preferia
dirigir-se a Deus, dado que, eles ainda estavam ao seu lado tentando argumentar.
Mesmo que aqueles tivessem começado bem, ficando ao lado dele em silêncio
solidário à sua dor por sete dias, após, começaram a arguir motivos, acusar ao
infeliz pelo que estava passando.
Então, o patriarca afrouxou as cordas da esperança
no apoio deles, e disse: “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão,
ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso. Meus irmãos aleivosamente me
trataram, como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam, que estão
encobertos com a geada, neles se esconde a neve, no tempo em que se derretem com
o calor, se desfazem, e esquentando,
desaparecem do seu lugar. Desviam-se as veredas dos seus caminhos; sobem ao
vácuo e perecem. Os caminhantes de Tema os vêem; os passageiros de Sabá esperam
por eles. Ficam envergonhados, por terem confiado; chegando ali, se confundem.”
Cap 6; 14 a 20
Em suma: Estou aflito, não deixei de temer a Deus; quando meus
amigos vieram tive esperança de certa compaixão, mas, me traíram; estou com
vergonha de ter confiado neles.
Comparou-os a ribeiros sazonais, que correm por
certo tempo ao derreter a neve do inverno, depois, somem. Quem dirigir-se a eles
esperando água, perderá tempo por ter desviado seu curso. Assim, foram seus
amigos.
Ah, as almas “sazonais” que mudam quando as circunstâncias mudam!
Quantas decepções nos causam! Se, é próprio do homem comum pautar-se pelas
circunstâncias, pelo que vê, não deveria ser assim com o que afirma crer em
Deus, dado que, a relação baseia-se na fé; e “a fé é o firme fundamento das
coisas que não se veem”. Heb 11; 1 Noutras palavras, firma-se no olhar de Deus.
Deste inquiriu Jó: “ Vês Tu como vê o homem?” Certamente não. Ele mesmo disse
ao profeta Samuel: “...porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê
o que está diante dos olhos, porém, o Senhor olha para o coração.” I Sam 16; 7
Tanto
pode ver o coração do homem, quanto, o futuro; não raro, no que consideramos
derrota, Ele vê vitória. O que nos escapa à vista e compreensão, a Ele é
patente.
Nenhum dos coevos de Jesus entendeu
o que se deu na cruz; viram estrondosa derrota; estava dispersos, desanimados...
como os dois a caminho de Emaús. “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse
Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas
coisas aconteceram.” Luc 24; 21
Ficou claro que tinham perdido a esperança. O
Senhor os chamou de néscios, tardos de coração. Na parábola do Semeador Ele
mesmo ilustrara aos sazonais como sementes que caem sobre pedras; nascem
rápido, mas, como tem pouca terra, ao primeiro sol secam. Assim, os emotivos, circunstanciais,
marinheiros da bonança.
Ora, eu teria vergonha de, uma vez salvo, assentar-me à
mesa ao lado de Jó, Paulo, Jeremias... O Salvador, sobretudo, tendo como “currículo”
uma caminhada sob céu de brigadeiro, como ensinam certos “teólogos” da praça.
O
mestre sempre advertiu aos seus, sobre aflições, rejeição, perseguição.
Qualquer ensino que destoar disso é fraude.
Embora a fé não viole a
inteligência, muitas vezes arrosta às circunstâncias. Se a Tomé foi dada a
oportunidade de ver para crer, a bem aventurança foi lançado sobre os que não
veem e acreditam.
Essa confiança irrestrita em Deus, a despeito das
adversidades, que aos de fora parece cegueira, é a beleza dos olhos da fé. Ela prescinde
da bengala das coisas e repousa no Santo Caráter do Eterno.
Se, tendemos à
fragilidade dos ribeiros de estação, devemos fazer um curso de fé com o profeta
Habacuque; ele disse: “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto
na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, os campos não produzam
mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, nos currais não
haja gado; todavia, eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha
salvação.” Hc 3; 17 e 18
Claro que é lícito, salutar, buscarmos melhorias,
trabalharmos e orarmos por elas; entretanto, atrelar a fé a essas coisas é sua
negação; da fé, digo.
Circunstâncias adversas são ondas que vêm e passam; quem
sustenta a vida dos peixes é o oceano. Cristo dá mais que neve derretida;
antes, a Fonte da Água da Vida.
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