quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Se evoluímos, por que descemos?

“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” Prov 15; 1
 
Parece que o jeito de falar tem a possibilidade tanto de desviar, quanto, atrair o furor. Embora, normalmente o conteúdo se associe à forma, digo, palavras conciliadoras são proferidas com jeito manso, educado, e agressivas com voz forte, isso não é regra.

Conheci  um sujeito que se dizia pastor, sem nenhum caráter; quando contestado em suas falcatruas conseguia proferir as maiores ofensas sem alterar o tom da voz, o que irrita ainda mais, não bastasse o teor sórdido.

A meu ver, o contraste supra da palavra branda com a dura  sugere conteúdo e forma. Assim, nada valeria falar como um padre no confessionário, sussurrando, se as palavras proferidas cortarem como facas; posto que mascaradas de brandas, seriam duras.

“Porventura o ouvido não provará as palavras como o paladar prova as comidas?” Jó 12; 11 Basta ler o contexto da assertiva pra ver que não se refere ao tom, mas, ao que estava sendo dito. Os amigos de Jó exortavam-no ao arrependimento; a acusação sem provas era que seu sofrimento deveria advir de alguma culpa. O infeliz suspirou: “Vós, porém, sois inventores de mentiras, todos, médicos que não valem nada. Quem dera vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.” Cap 13; 4 e 5

A frase evocou-me um proverbio indiano: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio.” Aqueles, não tiveram esse cuidado.
 
Claro que, numa eventual contenda com exasperação mútua, um sábio interviria com palavras brandas tentando levar as partes a se desarmarem, para buscar conciliação; diverso do tolo; “Os lábios do tolo entram na contenda, e a sua boca brada por açoites.” Prov 18; 6
 
Sempre que consideramos o poder da palavra imediatamente pensamos na de Deus. Certo, nada há igual. Contudo, mesmo a humana tem lá sua força. É capaz de grandes coisas, tanto para bem, quanto, mal.  “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” Prov 18; 21

Isso não nos autoriza a sair decretando, ordenando coisas, para que aconteçam como ensinam alguns pavões abobados. Antes, adverte que sejamos prudentes ao falar, pois, um falso testemunho, por exemplo, pode condenar à morte um inocente; como, o oposto, livrá-lo. “Há alguns que falam como sendo uma espada penetrante, mas a língua dos sábios é saúde. O lábio da verdade permanece para sempre, mas a língua da falsidade, dura só um momento.” Prov 12; 18 e 19 

O mesmo texto interpreta que o fio dessa “espada” mortal é a falsidade.
Acontece que, as coisas que cobramos de terceiros acabam sendo leis pra nós; como esperar de outrem o que não oferecemos? “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” Mat 12; 36 e 37
 
Afinal, o poder espiritual “trabalha” sobre nossas palavras à exata proporção que se alinham à do Senhor; Paulo Ensina: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, quanto para convencer os contradizentes.” Tt 1; 9 

Assim, o poder da Palavra em âmbito espiritual é de Deus, não nosso; a nossa pode lograr outros feitos, como vimos.


Nem tudo, porém, pode ser dito de forma branda; cada espada tem sua própria bainha. Ouçamos o Mestre: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.” Mat 23; 14 ou, João Batista; “…Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi frutos dignos de arrependimento;” Mat 3; 7 e 8 Coisas assim não podem ser ditas à meia voz.

Entretanto, quando da farsa do Julgamento do Salvador, ele foi agredido por um serviçal do Sumo sacerdote, e  redarguiu com uma pergunta branda: “…Se falei mal, dá testemunho do mal;  se bem, por que me feres?” Jo 18; 23 Se tivesse dito; canalha! Seria ferido mais; mas, ao requerer motivos para a violência num gládio de palavras desarmou o valentão.

Palavras, esses veículos possíveis à razão, que nos faria superiores aos animais, depois da queda nos têm inferiorizado. Os instintivos são fiéis aos instintos; a maioria das falas humanas são laços.

Às vezes a brandura da forma disfarça o veneno do teor; outras, a ênfase acentuada na mentira reveste-a de verossimilhança. Felizes os que têm paladar apurado! O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para os passos.” Prov 14 ; 15

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