“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” Sal 90; 12
Há
orações na Bíblia pedindo livramento de inimigos; orientação quanto ao
caminho; mesmo pedindo a morte, como fizeram Elias, Jeremias e Jó;
poucas vezes se pediu Sabedoria. Salomão orou assim; os discípulos
pediram para que Jesus os ensinasse a orar, certa vez… se mais há, não
me ocorre exceto no verso supra onde Moisés o faz.
Cotejando o tempo da
vida humana com O Eterno, ele se rendeu; pediu que se lhe permitisse
viver sabiamente seus dias.
Sendo a sabedoria o que é deveria ser bem mais cortejada. “Porque melhor é a sabedoria do que os rubis; e tudo o que mais se deseja não se pode comparar com ela.” Prov 8; 11
Claro que para sentir necessidade dela, carecemos já a possuir, em
certo grau, e apreciar. Nada valerá a maior destreza do sábio se não
encontrar anseio de aprender no discípulo.
Em tempos de informática acessível, ninguém mais precisa, ao que parece. Afinal,
basta clicarmos em “frases famosas” e num piscar de olhos a luz
pretérita inunda o presente. De modo que, num passe de mágica nos
tornamos “çábios”… na verdade, isso não passa de certo conhecimento;
difere muito da sabedoria; sobretudo, porque armazenado em memória
alheia.
Informação apenas não basta para que moldemos nossa vida. Que o digam
os fumantes que leem advertências nefastas nos maços de cigarro; os
jovens que não se deram à drogadição e o fazem mesmo cientes do
resultado que produz; ou, os cidadãos que viram o comunismo falir o
leste europeu, tolher liberdade, tirar milhões de vidas, envilecer Cuba e
Coreia do Norte, e sonham implantá-lo por aqui.
Assim, o conhecimento é
patrimônio da mente; sabedoria demanda um consórcio entre essa e a
vontade.
Como
a vontade natural tende à rebeldia, carecemos reconhecer, temer, alguém
superior; senão, endeusaremos nossas escolhas e justificaremos às
mesmas. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, os loucos desprezam a instrução.” Prov 1; 7
Interessante
que em oposição à sabedoria não temos a ignorância como seria de se
esperar, mas, a loucura. Essa pressupõe uma patologia psíquica que
instiga contra o bom senso; uma vontade enferma que triunfa aos reclames
de um cérebro esclarecido.
Justo
nessa lacuna entra a Cruz de Cristo. A negação do “Eu” em prol do
reconhecimento do Seu Senhorio aprisiona esse louco que me desvia da
sabedoria implantando uma mentalidade superior, agora sim, capaz de
conduzir à vontade, uma vez que me atrela a Si. “Nós temos a mente de Cristo”. I Cor 2; 16
Claro que tal coerência entre informação e atitude soará insana aos
olhos daqueles que ainda não lograram conseguir o mesmo. Todavia, essa
“loucura” é só o “mise en scène” da vera sabedoria, não a coisa em si.
Aliás, Paulo aludiu a essa discrepância com refinada ironia: “Visto
como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua
sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós
pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura
para os gregos.” I Cor 1; 21 a 23
Para judeus escândalo, pois, teriam desprezado a Sabedoria à porta: “A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” I Cor 2; 8
Para gregos, loucura; pois, sua mitologia estava plena de ensino da
imortalidade dos deuses; um que se fizesse mortal por amor aos humanos
soava como loucura total; o mesmo escritor disse: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” Cap 1; 2
Quando Erasmo de Roterdã escreveu “O Elogio da Loucura”, atinava a essa, bendita, que contradiz à “sabedoria” do mundo.
A oração de Moisés foi plenamente atendida mais tarde, quando do Advento do Salvador. “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.” Jo 17; 14
Afinal,
os religiosos eram já sábios demais para aceitar Um que os
contradissesse. Sim, a contradição se impõe quando alguém é ignorante e a
sabedoria fala; a menos que a humildade consiga antes um assento.
E
quem assenta-se em lugares altos demais para sua condição usa essa
“grandeza” para apequenar-se. O Mais sábio dos humanos, disse: “… se alvoroça a terra; …Pelo servo, quando reina; e pelo tolo, quando vive na fartura;…” Prov 30; 21 e 22
Muitos preferem se fazer de loucos e pleitear absolvição por
insanidade; acontece que essa “insanidade” é precisamente, sua culpa.
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