“E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e
açoitava nas sinagogas os que criam em ti. E quando o sangue de Estevão, tua
testemunha, se derramava, também eu estava presente, consentia na sua morte; guardava as capas dos que o matavam. E
disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.” Atos 22; 19 a 21
Paulo em sua defesa relembra um colóquio com o Senhor. Ele lhe
ordenara fugir apressado, pois, a ameaça se aproximava. Contudo, o apóstolo argumentou que era
culpado pelas perseguições que impôs aos cristãos, culminando com a morte de
Estevão. O Salvador sequer perdeu tempo
com os remorsos dele, antes, mandou em frente. “Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de
longe.”
Na verdade, temos dificuldade de lidar com o perdão; tanto quando
damos, quanto, quando recebemos. Quantas vezes, ao sabor de um desentendimento lançamos em rosto de alguém
coisas idas que já “perdoamos”?
Todo o passado sujo de Paulo era verídico, mas,
o Senhor o chamara, perdoara, escolhera;
então, já não contava mais. Uma canção que Nelson Ned cantava dizia: “E eu quando amo não
brinco, eu amo.” De nós é até pretensioso afirmar algo assim; ainda que o valha
nos domínios da poesia. Mas, Deus é assim mesmo. Quando ama, ama; se
perdoa, perdoa.
Não poucas pessoas com as quais conversei sobre salvação se disseram ruins demais para serem perdoadas.
“Já fiz cada coisa que até Deus duvida”, dizem; esquecendo que, quem se lhes
mandou falar de amor e perdão é o mesmo Deus, que sabe.
A insegurança de Paulo
quanto ao perdão Divino, porém, perdurou apenas quando era insipiente na fé;
depois, tomou posse; ensinou que não há ruindade suficiente para afastar alguém
do amor de Deus; ainda que demande arrependimento para perdoar. “Esta é uma
palavra fiel, digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei
misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda
a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida
eterna.” I Tim 1; 15 e 16
Se, o principal dos pecadores, como se definiu,
alcançou misericórdia, essa mesma dádiva está ao alcance de todos. Disse ainda.
“Porque,
como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim
pela obediência de um, muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que
a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;” Rom 5;
19 e 20
Muitas vezes as desculpas de alguém que se evade ao convite da salvação
se dizendo indigno, na verdade, ocultam a incredulidade, de um que sabe bem
das implicações de pertencer ao Senhor, e recusa-se a aceitar.
Tanto é certo
que o perdão está disponível a todos que querem reconciliação com Deus, quanto,
que uma vez obtido isso, algumas
renúncias são necessárias.
O mesmo Paulo descreve qual a identidade dos
reconciliados. “Todavia o fundamento de Deus fica firme tendo este selo: O Senhor
conhece os que são seus; qualquer que
profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19
Assim, os “ruins
demais” sabem que a graça é ampla mas consequente; fingem-se indignos fugindo
às consequências e traindo a si mesmos. Afinal, se a salvação demandasse méritos
humanos estaríamos todos perdidos, irremediavelmente. “Como está escrito: Não
há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que
busque a Deus.” Rom 3; 10 e 11
Ademais, no caso de Paulo, entregar-se à justiça
como cogitou, invés de fugir, seria tremendamente injusto. Quem o ameaçava não eram os cristãos que
foram por ele maltratados. Antes, os religiosos judeus para os quais trabalhara
quando perseguidor; então, estavam furiosos, por, ter ele, deixado de ser. Nesse caso, cometeria duplo erro; rejeitaria
a graça Divina e corroboraria a maldade humana.
Em suma, rejeitar a graça por
ser ruim demais é patentear a extrema
maldade humana, tentando atribuir a Deus uma dificuldade que Ele não tem; perdoar.
Para mascarar duas que nos temos; crer e obedecer.
Isaías já realçara que entre
as grandezas Divinas está essa: Misericórdia. “Deixe o ímpio o seu caminho, e o
homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá
dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Is 55; 7
A
mulher de Ló pereceu por olhar pra trás, onde ardia o juízo. Diante de nós a
graça; atrás, as culpas. A direção do
olhar, nós escolhemos. “Olhai para mim, e sereis
salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.” Is
45; 22
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