Embora os medos, adulto e
infantil cotejados na frase do filósofo pareçam antagônicos, são facetas do
mesmo drama. Uma criança teme o escuro por sentir-se sozinha, desprotegida;
depende da informação visual sua segurança. Um adulto teme à luz, pois, essa
também o põe inseguro, dado que rasga a máscara do teatro comum que encena.
O “escuro”
de sua dissimulação que o protege. A criança quer companhia, cumplicidade; o
adulto também. Aquela depende de ver; esse, de não ser visto como realmente é.
A
visão que conta, em última análise, ao curso do tempo prescinde dos olhos;
abriga-se nos domínios do entendimento, compreensão. Daí se diz que “O pior
cego é o que não quer ver”. Noutras palavras, o que voluntariamente priva-se do
que lhe está ao alcance, por temer às consequências da luz.
Cristo acusou seus
coevos de uma fuga dessas. “E a condenação é esta: Que a
luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas
obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a
luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3; 19 e 20
Assim como a
solidão de um infante seria sentir-se isolado em ambiente espacial, a solidão
adulta se dá do mesmo modo em “ambiente” moral, espiritual.
Essas inquietações “luminosas”
me assaltam nesse tempo, dado que, está em curso a propaganda eleitoral, eventualmente, se promovem debates; e recuso
terminantemente assistir tanto aquela, quanto esses.
Não sei se um anjo,
capetinha, ou, alter ego me acusou de evitar à luz, de fugir ao conhecimento por
recusar ouvir o que os postulantes têm a dizer. Assim, como desconheço quem é o
que me acusa, dirijo minha diatribe ao que servir o chapéu.
Primeiro: Não acho
que uma pessoa vale pelo que diz; antes, pelo que é. O seu ser demonstra-se
mediante ações, não, palavras. Como 99% dos postulantes já são pessoas
públicas, sei o que fizeram; isso me
vale muito mais que o que dizem.
Segundo: Um debate demonstra apenas que se dá
melhor na retórica, no uso das palavras. Quem é mais hábil tanto em urdir,
quanto, evadir-se a uma saia justa. Não há concessões à verdade; antes, erística
pura e simples, com fito de puxar o tapete alheio.
Quem for mais hábil nisso, a
meu ver, é o mais velhaco; mais capaz de enganar ao povo, uma vez que triunfa
publicamente a um oponente de nível semelhante. Desse modo, o “vencedor” num
debate pode ser o pior para a sociedade. Capaz das mais grandiloquentes promessas
e das mais esmeradas escusas para justificar-se por não tê-las cumprido, ao seu
tempo.
Um homem público, digo, um homem qualquer, vale por seu caráter, não, sua lábia.
Se acreditasse deveras, que seu compromisso é com a luz, seja, a
verdade, não me furtaria a ver tais coisas.
Mas, quando “en passant” ouço Dilma
apregoando sua “tolerância zero” à corrupção; Lula em ato de “desagravo” à
Petrobrás, acho que minha criança perde o medo do escuro e rapidamente fujo
dessa “luz”.
Lembrei certo espanto manifestado por Isaías referente à Jerusalém
de seus dias; “Como se fez prostituta a cidade fiel!” Como baixou o nível nossa
sociedade na arte, esportes, política, costumes, valores...
O humorista “Batoré”
usava um bordão que me ocorre: “Pensa que é bonito ser feio?” Pois, é
precisamente o que parece em nosso tempo. Quanto mais safado, corrupto, sem
vergonha for, mais chances de triunfar nesse balaio de gatos onde conta o
berro, marketing, a cara de pau e os
frutos somem nas brumas da mentira.
Não sei o quê Ruy Barbosa viu quando
escreveu sua célebre frase em que o triunfo das nulidades, mentira, maldade, ensejavam
vergonha de ser honesto. Mas, é precisamente o cenário que assoma nesse tempo;
talvez o mesmo daquele do Ruy, porém, no superlativo.
Pra meu gosto, aliás, sequer deveria existir
propaganda política. Nos moldes em que é feita, além de custos elevadíssimos,
alimento certo da corrupção, seu fim é enganar, não, iluminar. Bastaria que o
próprio Tribunal Eleitoral desse número e currículo dos postulantes. A gente
escolheria quem votar baseado nisso; em fatos, não, mirabolâncias utópicas e
safadas mentiras.
A divulgação sistemática de pesquisas também presta
desserviço à democracia. Induz candidatos a mentirem mais se estão desagradando, e eleitores incautos a votarem em quem está melhor.
A sociedade acaba traindo a
si mesma refém de tais meios. "O povo
não tem discernimento, apenas repete o que seus dirigentes julgam conveniente
dizer-lhe." Platão
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