”Desviarão
os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as
aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre teu ministério. Porque já estou
sendo oferecido por aspersão de sacrifício, o tempo da minha partida está
próximo.” II Tim 4; 4 a 6
É parte da constituição humana a faceta espiritual;
ninguém pode se evadir. Disse certo pensador cristão que temos dentro de nós um
vazio com o formato de Deus; só Ele pode preencher. Tendo O Eterno nos criado
para a comunhão consigo, seria de se esperar que fosse assim.
Muitas vezes nos
questionam: Se Deus é Um só, por que tantas religiões? Porque acossados por esse vazio interior,
homens que não conhecem a Deus e Sua palavra tentam preencher com um simulacro
qualquer; inventam ídolos, ritos, crenças.
Desse modo, a neutralidade plena
como pretendem alguns é impossível. Os que se dizem ateus, sem crença, fazem
disso sua crença e defendem com unhas e dentes, de modo que se endeusam prenhes
de si mesmo; precisam mais esforços para negar, que os crentes pra confiar em
Deus. Pois, nesses, o “encaixe” é melhor dada a adesão perfeita entre
continente e contingente. Digo; o espaço reservado para Deus, neles, é
preenchido justo, por Deus.
Assim, se alguém abdica da fé, fatalmente colocará
algo no lugar de modo a não sentir-se vazio espiritualmente. Os denunciados por
Paulo no texto inicial deixaram a verdade e passaram a crer em fábulas. Trocaram o precioso pelo vil, ficaram com
algo falso no lugar.
Assim fazem todos os que abdicam da fiel interpretação da
Palavra e dão espaço às conveniências humanas.
Israel no Velho Testamento, não
raro, deixava de obedecer a Deus e cultuava ídolos; aliás, desde o início da
relação temos essa distorção; vide, o grotesco e blasfemo bezerro de ouro.
Nos
dias de Jeremias o Eterno reiterou a denúncia do “mau negócio” que insistiam em
fazer. “Espantai-vos disto, ó céus, horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente
desolados, diz o Senhor. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim deixaram,
manancial de águas vivas; e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm
águas.” Jr 2; 12 e 13 Como há alegria
nos Céus por um pecador que se arrepende, causa horror, espanto, outro que,
tendo conhecido a Deus, troca-O por algo vil.
Podemos inferir da exortação, que
o apóstolo equaciona esses “negociantes” com embriagados, pois, diz; “Mas, tu,
sê sóbrio...” Assim como a embriagues
deriva de ingestão excessiva de álcool, os sentidos espirituais entorpecem
paulatinamente se ouvimos com frequência pregadores “liberais” que, com o fito
de agradar aos ouvintes fazem concessões que a Palavra não faz.
Do obreiro não
se espera que seja “legal”, antes, fiel. “Que os homens nos considerem como
ministros de Cristo, despenseiros dos
mistérios de Deus. Além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache
fiel.” I Cor 4; 1 e 2
Claro que a fidelidade a Deus gera rejeição no mundo e
até, dentro da igreja. Mas, Paulo foi enfático. “...sofre as aflições, faz a
obra de um evangelista, cumpre teu ministério.”
O apóstolo deixou instruções
graves, precisas, como que, passando o bastão a outro numa corrida de
revezamento 4 x 100. Seus cem metros foram cumpridos com fidelidade, e, era a
vez de Timóteo correr. “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de
sacrifício, o tempo da minha partida está próximo.” V 6
Queria ele, pois, comunicar o mesmo que
recebera, sem espaço pra mistificações, inserções, fábulas...
Uma brincadeira
que, acredito, muitos conhecem chamada telefone sem fio serve para ilustrar
isso. Brincávamos no colégio; consistia em, um aluno, o primeiro da fila, dizer
uma palavra qualquer ao que estava atrás, de forma quase inaudível; aquele se
voltava para o seguinte e dizia o que pensava ter ouvido e assim sucessivamente
até ao último. As distorções eram enormes. Começava “andorinha” e terminava “martelo”.
Tal qual essa diversão são as opiniões humanas. Nela, cada um repetia o que
pensava ter ouvido; nas opiniões cada qual defende o que pensa ter entendido,
mas, nem sempre entendeu deveras.
Se a Bíblia fosse mero livro humano, como
acusam uns, aliás, já a teríamos vertido igualzinha às nossas paixões mercê do “telefone
sem fio” do tempo.
Claro que, um despenseiro só pode dispor do que possui em
depósito; se alguém o fizer de fábulas, será isso que servirá. Contudo, de seu
discípulo Paulo esperava coisas melhores. “Ó Timóteo, guarda o depósito que te
foi confiado, tendo horror aos clamores vãos, profanos; e às oposições da
falsamente chamada ciência,” I Tim 6; 20
Em suma, o bom depósito tanto nos mantém
sóbrios contra a sedução das fábulas, quanto fortes em face à falsa ciência.
Guardemos bem o nosso!